Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Peixe pequeno os grandes comem




Este provérbio popular além de ilustrar o momento político atual, e ser titulo de um antigo livro das edições Paulinas, lembra-nos ainda a historia bíblica de Jonas, que após desobedecer a Deus, é engolido por um peixe bem grande (Jn 2), permanecendo no ventre do peixe três dias e três noites. Não podendo fugir, é forçado a encontrar a verdade consigo mesmo e com Deus.

Será esse fato relevante para a fé cristã hoje? Estamos no mês da Bíblia e as comunidades eclesiais estão estudando o livro de Jonas, com destaque para a evangelização e a missão na cidade. O tema é “Jonas: conversão e missão” e o lema “Levanta-te e vai à grande cidade”(Jn 1,2).

Deus se revela aos pequenos e as CEBs são consideradas a melhor forma de participação dos pobres e uma força de transformação do mundo em que estão vivendo. Segundo Comblin, não se inventou outra maneira de tornar a Igreja presente no mundo popular. A fé que as pessoas têm em Deus, no caso dos cristãos, em Jesus Cristo, leva a uma atuação no mundo em busca do bem comum, de uma política com seriedade e honestidade.

Essa fé une todos aqueles que crêem e tem a perspectiva de construir um mundo melhor. Essas pessoas nunca perderam o contato com aquilo que de mais vivo está acontecendo (J.C.Patias).

Setembro é o mês da Bíblia e nossas CEBs, grupos de reflexão, catequese, jovens e famílias estão refletindo a Cartilha arquidiocesana “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus”, pois esta Palavra é fonte e sustento do discipulado e da missão. Na Cartilha encontramos ainda as reflexões sobre Jonas e as eleições de 2010.

O Livro de Jonas fala de um profeta que não aceita que Deus seja para todos e, naquele contexto, Deus intervém, mostrando que Ele está acima dos nossos esquemas e que sua misericórdia é infinita e sem limites meramente humanos. Sua posição é mostrar que Ele não está só no templo e é para todos sem privilégio algum e distinção de lugares e pessoas. Trata-se de um gênero literário muito conhecido entre os mestres judeus e, nesse caso específico, podemos classificá-lo como um midraxe, ou seja, uma narrativa que interpreta um texto bíblico à luz de um contexto histórico posterior (Aila L.P.Andrade).

Os judeus da época consideravam-se povo eleito e não aceitavam que Deus fosse também para os estrangeiros; já o livro de Jonas reforça a idéia de universalidade e gratuidade do amor de Deus, que reconhece o valor de todos. De acordo com Maria Antônia, do Centro Bíblico Verbo, a reflexão deste livro permite que respondamos ao que Deus quer de cada um de nós em relação à necessidade de mudança de uma postura egoísta, saindo da estagnação pessoal para um agir libertador e transformador a favor dos pobres e excluídos, os preferidos de Deus. “Tenho a impressão de que esta história nos convida a sairmos do nosso egoísmo e fechamento, buscarmos a superação dos preconceitos e irmos ao encontro dos outros, porque a proposta da conversão é coletiva. Deus se arrepende do mal que ia fazer porque o povo da cidade de Nínive deixou o mau caminho. Se não sou uma pessoa que prejudica os outros estarei neste caminho. Deus insiste com Jonas e diz: ‘Levanta-te e vai’. Isto quer dizer que Ele quer que saiamos da inércia.

Através do livro de Jonas Deus faz o mesmo apelo aos cristãos de hoje: “Levanta-te e vai à grande cidade” (Jn 1,2) para denunciar as injustiças e proclamar a sua misericórdia. E no final do livro, Jonas é forçado a receber uma lição: a misericórdia de Deus está sobre todos os povos e sobre toda criatura. Se a maioria das pessoas não sabe disso é porque falta quem lhes anuncie essa boa-notícia.

Neste mês da Bíblia, somos convidados a vivenciar o caráter missionário de todo cristão como consequência do Batismo. O documento de Aparecida destaca o valor do mandato missionário, enfatizando os novos areópagos da missão (DAp 491-500) e trata da formação dos discípulos missionários, alertando-nos para as muitas formas de nos aproximarmos da Sagrada Escritura, destacando a Leitura Orante como meio privilegiado. Sua prática conduz ao encontro com Jesus-Mestre (DAp 249).

A Assembléia Geral da CNBB deste ano aprofundou o tema “Discípulos e servidores da Palavra de Deus e a missão da Igreja no mundo”, em sintonia com o ultimo sínodo dos bispos e aprovou uma Mobilização Bíblica Nacional no espírito do projeto Missão Continental.  A Arquidiocese de Porto Velho já está se preparando para esta Campanha em nível regional e local.

Ao tratar da animação bíblica, o subsidio denominado Instrumento de Trabalho, elaborado pela Comissão da CNBB para a assembléia dos bispos fornece algumas pistas pastorais: “Os discípulos de Jesus desejam alimentar-se com o Pão da Palavra: querem chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos, empregá-los como mediação de diálogo com Jesus Cristo, e a que sejam alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus a todos. Por isso, a importância de uma ‘pastoral bíblica’, entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra, e de evangelização inculturada ou de proclamação da Palavra. Isso exige, da parte dos bispos, presbíteros, diáconos e ministros leigos da Palavra, uma aproximação à Sagrada Escritura que não seja só intelectual e instrumental, mas com coração ‘faminto de ouvir a Palavra do Senhor’ (Am 8,11)” (DAp 248).

A partir dessas palavras e iluminados pelo episódio do “diácono Filipe encontrando-se com o eunuco etíope” (At 8,26-40); o episódio dos “discípulos de Emaús” (Lc 24,13-35); de “Lídia de Filipos” (At, 16,11-15); de “Maria de Betânia” (Lc 10,38-42) se deduzem três funções básicas da Animação Bíblica da Pastoral:

1. Ser Escola de Conhecimento e Interpretação da Palavra: assimilar a compreensão dos sentidos genuínos dos textos bíblicos e interpretar não apenas com mero conhecimento intelectual e instrumental, mas que proporciona um conhecimento do sentido pleno da Palavra.

2. Ser Escola de Comunhão e Oração: ajudar a perceber e vivenciar a revelação do mistério de Deus e do homem (Palavra de Deus), presente na Sagrada Escritura, mediante a comunhão e o diálogo permanente com o próprio Jesus Cristo, a revelação divina em plenitude.

3. Ser Escola de Evangelização e Proclamação: o terceiro passo é a consequência da evangelização. Como a Sagrada Escritura está confiada à Igreja para que a proclame como Palavra de Deus plena de salvação, ela é, por um lado, lugar teológico e pastoral de discernimento e, por outro, fonte e conteúdo da evangelização. Esta terceira função da Animação Bíblica da Pastoral ajuda a viver e proclamar a Palavra de Deus, concretizando-a em motivações, vivências e condutas que correspondam à proposta e à prática de Jesus. Por isso tudo, a Animação Bíblica da Pastoral torna-se e é Escola de Evangelização e de Proclamação da Palavra, isto é, de animação contínua de toda a ação evangelizadora, de inspiração profunda para a missão, de impulso intrépido para a transformação da sociedade.

Concluindo, a “Animação Bíblica da Pastoral” com estas três funções de ser Escola de Conhecimento e Interpretação da Palavra, Escola de Comunhão e Oração da Palavra e Escola de Evangelização e Proclamação da Palavra, satisfaz a permanente necessidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo de nutrir-se com o Pão da Palavra de Deus mediante “a interpretação adequada dos textos bíblicos”, de seu emprego “como mediação de diálogo com Jesus Cristo”; como “alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus Cristo a todos” (DAp 248; DV 12).

Fonte:  Pascom


 

Siga o Gentedeopinião no Gente de Opinião



Fonte: Dom Moacyr  Grechi - pascompvh@yahoo.com.br 
 Gentedeopinião   /  AMAZÔNIAS   /  RondôniaINCA   /   OpiniaoTV
 Energia & Meio Ambiente   /   YouTube  / Turismo   /  Imagens da História


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)