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Dom Moacyr

Pentecostes e Unidade dos cristãos



Nesta semana, situada entre as festas de Ascensão e Pentecostes, celebramos a “Semana de oração pela unidade dos cristãos”, com o tema: “Vós sois testemunhas destas coisas” (Lc 24,48).
    
Na Assembléia dos Bispos, que encerrou dia 13 de maio, o Pastor Sinodal Carlos Möller, vice-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil- IECLB e Presidente do Conselho Mundial das Igrejas Cristãs- CONIC, citando Karl Rahner, disse-nos o quanto é bom que o Espírito Santo tenha iluminado a caminhada da Igreja e a tenha habilitado para redescobrir o caminho da unidade e do testemunho comum a ponto de superar o exclusivismo e priorizar o inclusivismo.

 
O Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas organizaram em conjunto as reflexões e subsídios para que ao longo do ano possamos buscar  a unidade tão desejada por Jesus Cristo. Já realizamos a Campanha da Fraternidade Ecumênica, que foi um testemunho muito significativo para as Igrejas do CONIC: “tais decisões são uma efetiva contribuição no sentido de superar e curar feridas advindas ainda das divisões registradas ao longo da historia da Igreja de Cristo, não apenas entre cristãos e não cristãos, mas que também dificultaram o ecumenismo das Igrejas cristãs até meados do século XX”, afirmou o Reverendo Moller.
 
Durante o século passado a reconciliação entre os cristãos tomou formas diferentes. A espiritualidade ecumênica mostrou como a oração é importante para a unidade dos cristãos. Grande impulso foi dado à pesquisa teológica, levando a um grande número de acordos doutrinários. A cooperação prática entre as Igrejas no campo social fez nascer frutuosas iniciativas. Junto com essas conquistas mais amplas, a questão da missão assumiu um lugar especial. Há até um consenso de que a Conferência Missionária Mundial de Edimburgo, em 1910, marcou o começo do movimento ecumênico moderno.
 
Nessa época o panorama religioso escocês estava começando a se diversificar e as Igrejas Católica e Episcopal mais uma vez desempenharam um papel importante. Edimburgo foi escolhida como local desse encontro por causa de sua vitalidade intelectual e cultural e porque as Igrejas protestantes escocesas eram também especialmente ativas na missão.
 
Reconhecendo esse importante marco na história do movimento ecumênico, era natural que os promotores da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos convidassem as Igrejas escocesas para preparar a Semana de Oração de 2010. Ao mesmo tempo em que elas estão envolvidas nos preparativos para celebrar o aniversário da Conferência de 1910, que terá como tema “Testemunhar Cristo Hoje”. Em resposta, essas Igrejas sugeriram como lema “Vós sois as testemunhas disso” (Lc 24,48)
 
No movimento ecumênico temos frequentemente meditado sobre o discurso final de Jesus antes da sua morte. Nesse testamento final a importância da unidade dos discípulos de Cristo é enfatizada: “Que todos sejam um... para que o mundo creia” (Jo 17,21). Este ano as Igrejas da Escócia fizeram a escolha original de nos convidar a escutar o discurso final de Cristo antes da sua Ascensão: “É como foi escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, e em seu nome se pregará a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. E vós sois as testemunhas disso.” (Lc 24,46-48).
 
É sobre essas palavras finais de Cristo que refletiremos nesta Semana percorrendo todo o capítulo 24 do Evangelho de Lucas. Tanto as mulheres assustadas diante do túmulo, como os dois desanimados discípulos no caminho de Emaús ou os onze discípulos dominados por dúvida e medo, todos os que juntos encontram o Cristo Ressuscitado são enviados em missão: “E vós sois as testemunhas disso”. Essa missão da Igreja é dada por Cristo e não pode ser posse particular de ninguém. É a comunidade dos que foram reconciliados com Deus e em Deus e podem testemunhar a verdade do poder da salvação em Jesus Cristo.
    
Percebemos que Maria Madalena, Pedro ou os dois discípulos de Emaús não vão testemunhar do mesmo jeito. Ainda assim, será a vitória de Jesus sobre a morte que todos colocarão no coração de seu testemunho. O encontro pessoal com o Ressuscitado mudou radicalmente suas vidas e, na originalidade de cada um, o testemunho tornou-se imperativo: “Vós sois as testemunhas disso.” Sua história vai acentuar aspectos diferentes, às vezes podem ocorrer entre eles discordâncias sobre o que a fidelidade a Cristo exige, ainda assim todos irão trabalhar para anunciar a Boa Nova.

 
Durante a Semana vamos refletir sobre as perguntas de Jesus aos discípulos e sobre as perguntas que os discípulos fazem a Jesus (Lc 24). Cada um desses questionamentos nos possibilitará destacar um modo particular de testemunhar o Ressuscitado. Cada um deles nos convida a pensar sobre nossa situação de divisão eclesial e sobre como, concretamente, podemos remediar isso. Já somos testemunhas e precisamos nos tornar testemunhas melhores. Como?  Louvando Aquele que nos dá o dom da vida e a ressurreição (1º dia); sabendo partilhar com outros a história de nossa fé (2º); reconhecendo que Deus age em nossas vidas (3º); dando graças pela fé que temos recebido (4º); confessando a vitória de Cristo sobre todo sofrimento (5º), buscando sempre ser mais fiéis à Palavra de Deus (6º); crescendo na fé, na esperança e na caridade (7º) e oferecendo hospitalidade e sabendo recebê-la quando nos é oferecida (8º dia). Não seria bem mais fiel o nosso testemunho do evangelho em cada um desses aspectos se testemunhássemos juntos?
 
Todos podem concordar quanto à necessidade dos discípulos de Cristo darem testemunho, mas ainda é difícil chegar a uma compreensão comum do que a missão precisa ser hoje. Trazemos no coração um senso de urgência bem semelhante: para nossa humanidade ferida pela divisão, o evangelho não é um luxo supérfluo; o evangelho não pode ser proclamado por vozes discordantes. Em Cristo, os que se encontram cheios de ódio podem encontrar o caminho da reconciliação. Em Cristo, aqueles que se dividem por qualquer coisa podem encontrar a alegria de viver como irmãos e irmãs... “Vós sois as testemunhas disso” (Lc 24,48). “Caminhemos juntos como peregrinos, de mãos dadas” (João Paulo II, 1982, Escócia).

 
Creio na nova terra onde habita a justiça e a paz
 
Nesta Semana que antecede a festa de Pentecostes, somos convidados a “participar desse grande mutirão em favor da unidade das Igrejas cristãs como a expressão concreta de pertença ao Corpo de Jesus e de edificação do seu reino de fraternidade no mundo”(C.Loraschi). Este é um novo tempo que nos é concedido para que sejamos testemunhas qualificadas de Jesus Cristo Ressuscitado.
 
“Creio na nova terra onde habita a justiça e a paz” (2 Pd 3,13). Esta é a bandeira que vai reunir no próximo domingo, no Campo da 17ª Brigada a partir das 16h, todas as Paróquias de Porto Velho e suas redes de comunidades, na grande Celebração de Pentecostes 2010.
    
A face de Jesus é cada vez mais visível entre nós através dos novos rostos sofredores, por isso, a Igreja é convocada a ser “advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu” (DAp 395)e nesta luta comum pela justiça ela é a “companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive ate o martírio”(DAp 396).

 
A fundação da Igreja na festa de Pentecostes e a gratuidade da salvação ligam ação e anúncio missionário de um modo especial ao Espírito Santo (P.Suess). Que o Espírito de Deus continue através de Maria, nos conduzindo, suave, mas firmemente, para a meta; guiando nossas comunidades e impelindo-as para a missão; renovando continuamente a Igreja; atuando na história e no coração de cada pessoa.

Fonte: Pascom

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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