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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Peregrinação por justiça e paz!



A liturgia nos introduz no início da “vida pública” de Jesus. Para Lucas, o batismo de Jesus é um episódio em meio ao batismo de todo o povo (Lc 3,15-16.21-22). Solidarizando-se com o povo, Jesus começa o tempo do batismo no Espírito, isto é, a formação do povo de Deus que vai construir a nova história. É Jesus quem realiza o destino do mundo, dando à história o verdadeiro sentido.

João oferece um batismo “em remissão dos pecados”; Jesus, que vem pedir este batismo, é o único justo da história, o único que não se pode reconhecer culpado de qualquer pecado. Mesmo assim, toma lugar na fila entre os culpados, descendo até as águas do Jordão (M.Domergue).

João ficou surpreso porque, se está no limiar do Reino, não entrou ainda na Nova Aliança. Está sob o regime da Lei, ou seja, da justiça. Justo seria que Jesus o batizasse; que Jesus se faça batizar “em remissão dos pecados” é injusto.

No Novo Testamento, cumprir significa superar e o que supera a justiça é o amor. João Batista convida todos à mudança radical de vida, porque a nova história vai transformar pela raiz as relações entre os homens. É o tempo do julgamento, e nada vale ter fé teórica, pois o julgamento se baseia sobre as opções e atitudes concretas que cada um assume (BP).

A 4ªCampanha da Fraternidade Ecumênica que acontece neste ano tem como lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Nos profetas, inclusive Amós, encontramos o desmascaramento da violência e da superficialidade do sistema religioso e a declaração de qual rito é, de fato, agradável a Deus: a prática da solidariedade (VP). É preciso insistir no fato de que, para o povo de Deus, a justiça representa tanto o problema essencial da existência quanto um elemento essencial de saúde social.

O lema é um apelo dirigido a todas as pessoas de boa vontade para que contribuam na promoção da justiça e paz, da convivência e cuidado com a criação. É, também, uma comprovação de que Igrejas irmãs são capazes de repartir dons e recursos na sua missão.

As Igrejas que integram o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil assumem como missão expressar em gestos e ações o mandato evangélico da unidade. A caminhada ecumênica realizada pelo CONIC tem sido marcada pela fraternidade, confiança, parceria e protagonismo, demonstrando que todas as Campanhas da Fraternidade Ecumênicas marcaram profundamente a vida das Igrejas que nelas se envolveram.

A motivação para essas Campanhas fundamentou-se na compreensão de que, no centro da vivência ecumênica, está a fé em Jesus Cristo. Isso se deu, porque o movimento ecumênico está marcado pela ação e pelo desafio de construir uma Casa Comum (oikoumene) justa, sustentável e habitável para todos os seres vivos.

Essa luta é profética, pois questiona as estruturas que causam e legitimam vários tipos de exclusão: econômica, ambiental, social, racial e étnica. São discriminações que fragilizam a dignidade de mulheres e homens.

O tema escolhido para a reflexão é “Casa comum, nossa responsabilidade” e está em sintonia com a Encíclica do papa Francisco, “Laudato Si”. No tema e lema, duas dimensões básicas para a subsistência da vida são abarcadas a um só tempo: o cuidado com a criação e a luta pela justiça, sobretudo dos países pobres e vulneráveis.

Segundo o bispo da Igreja Anglicana e presidente do Conic, dom Flávio Irala, e a secretária-geral, pastora Romi Márcia Bencke, ambos da coordenação geral, com a CF Ecumênica, as Igrejas cristãs pretendem instaurar processos de diálogos que contribuam para a reflexão crítica dos modelos de desenvolvimento que têm orientado a política e a economia.

A reflexão da CEF 2016 acontece a partir de um problema específico que afeta o meio ambiente e a vida de todos os seres vivos, que é a fragilidade e, em alguns lugares, a ausência dos serviços de saneamento básico em nosso país. Integram a Comissão da CF Ecumênica 2016: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Ceseep), Visão Mundial, Aliança de Batistas do Brasil, Conic.  

Esta Campanha é uma expressão concreta da comunhão e da solidariedade da Igreja no mundo inteiro. A Misereor, organização dos bispos católicos alemães para a cooperação e o desenvolvimento, integrou-se nesse mutirão. Ao longo de sua história, ela contribuiu para fortalecer a voz dos povos que lutam e buscam caminhos que possam conduzir ao bem-viver todos os homens e todas as mulheres.

Essa parceria demonstra que os grandes desafios do futuro, em especial aqueles relacionados aos direitos humanos e à justiça climática, não podem ser enfrentados e muito menos resolvidos por um país sozinho. É necessário que essa responsabilidade seja assumida ecumenicamente, indo além das fronteiras geográficas e confessionais.

A CFE tem como objetivo geral: Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum. E como objetivos específicos:

Unir igrejas, diferentes expressões religiosas e pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico; estimular o conhecimento da realidade local em relação aos serviços de saneamento básico; incentivar o consumo responsável dos dons da natureza, principalmente da água; apoiar e incentivar os municípios para que elaborem e executem o seu Plano de Saneamento Básico; acompanhar a elaboração e a excussão dos Planos Municipais de Saneamento Básico; desenvolver a consciência de que políticas públicas na área de saneamento básico apenas tornar-se-ão realidade pelo trabalho e esforço em conjunto; denunciar a privatização dos serviços de saneamento básico, pois eles devem ser política pública como obrigação do Estado; desenvolver a compreensão da relação entre ecumenismo, fidelidade à proposta cristã e envolvimento com as necessidades humanas básicas.

     O ano de 2015 foi de intenso debate sobre as mudanças climáticas. No contexto de preparação para a Conferência do Clima, promovida pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), foram realizados vários espaços de reflexão e reivindicação por justiça ambiental. Duas ações expressam o comprometimento das igrejas com a justiça climática.

A primeira delas é o chamado do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) à “Peregrinação por justiça e paz” que denuncia a ação destrutiva do atual modelo de desenvolvimento, os mais afetados são os mais pobres. A “Peregrinação por justiça e paz” destaca a necessidade urgente da superação desse modelo de desenvolvimento que está baseado no consumo e na ganância.

A segunda ação é a Encíclica Laudato Sí sobre o cuidado da Casa Comum. Essa encíclica é a voz profética que clama para que assumamos o desafio de proteger a Casa Comum unindo-nos por um desenvolvimento sustentável e integral.

A ONU reconhece o papel imprescindível das religiões para a promoção de mudança de valores no que diz respeito ao meio ambiente.

A oração da CFE expressa a urgência de assumirmos a responsabilidade do cuidado com a Casa Comum:

Deus, justo e misericordioso, a Tua Terra, nossa Casa Comum, está em um estado deplorável. Milhões de pessoas sofrem com a fome. Em muitos lugares, o direito à moradia, à água e ao saneamento básico, o direito à autodeterminação econômica, social e cultural é largamente desrespeitado. Queremos acolher o dom da Tua Criação e assumir a responsabilidade por ela. Por isso, rogamos: Que o cuidado para com a nossa Casa Comum nos dê uma voz forte para denunciar todas as formas abusivas de exploração econômica. Que o saneamento básico e a água potável limpa se tornem acessíveis para todos os cidadãos e todas as cidadãs. Que Tu fortaleças a nossa esperança, para que o direito e a justiça virem realidade. Que nós, teus filhos e tuas filhas, sejamos profetas, preparemos o caminho para o Bem Viver e que estabeleçamos, através das nossas palavras e das nossas ações, relações dignas entre as pessoas, para com a Criação e para contigo, Deus. Amém!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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