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Dom Moacyr

Pessoa e sociedade!


 
O documento “Ética: Pessoa e Sociedade”, aprovado na Assembleia Geral da CNBB de 1993, expressa posicionamentos fundamentais da Igreja a fim de resgatar os valores éticos em todos os níveis da vida nacional.

Incentiva, diante da crise ética, a busca de novos padrões éticos, que levem a comportamentos moralmente corretos e socialmente construtivos, e traz a contribuição da ética cristã, em consonância com o Magistério da Igreja universal, para uma renovação da consciência pessoal e pública (n.2).

Válida e atual a sua leitura nos dias de hoje, inclusive a manifestação de nossa solidariedade com tantas pessoas que “têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6) e que procuram corajosamente ser fiéis aos valores humanos e evangélicos, mas sofrem pela crise ética da nossa sociedade (n.1).

Ao tratar da crise ética da sociedade brasileira, o doc.50 da CNBB afirma que nossa sociedade ficou decididamente marcada pela desigualdade e diversidade étnica, geradoras de um dualismo ético. Há uma elite dominante, que explora o trabalho, usa da violência, ostenta luxo, despreza e oprime as culturas indígena e africana. Há os dominados, com sua ética popular, com seu jeito próprio de sobrevivência e conservando a alegria, mesmo nas mais duras condições de vida (n.40).

A economia escravagista deixou como herança um ethos da Casa-Grande, com sua arrogância do poder. Esse ethos atribui aos poderosos privilégios e mordomias. Ignora o princípio moderno da igualdade perante a lei. O poderoso teria direito a tirar proveito do seu poder, independentemente de critérios da lei e da justiça, mesmo se isto comportar que a coisa pública seja reduzida a propriedade quase privada, subordinada aos interesses particulares (n.41-45).

Entre os dois extremos, foram se introduzindo novos comportamentos, com o suporte de novas condições sociais. A colonização baseada em pequenas propriedades conservou uma forte marca religiosa, regendo o comportamento ético. A formação de novas classes médias leva a manifestações de indignação e de protesto por parte destas contra o comportamento dos poderosos (n.42-45).

Ao propor caminhos de uma nova ética, o documento trata da ética da solidariedade. A experiência ética é uma experiência que toda pessoa humana, que chegue ao desenvolvimento de suas faculdades, faz e não pode deixar de fazer (n.65-70).

Fazer o bem é, antes de tudo, dar prioridade efetiva às exigências do ser humano. Estas não são apenas as necessidades materiais, relativas à sobrevivência, mas também as aspirações profundas, voltadas para a realização da dignidade e do destino transcendente das pessoas. Isto parece constatado historicamente, na medida em que a extensão dos grupos humanos e de sua organização política fez crescer também a consciência de que agir bem é procurar o bem de todos os seres humanos em todas as suas dimensões.

Por esta razão o ser humano só conquista a sua realização onde, em liberdade e responsabilidade, as pessoas reconhecem mutuamente sua dignidade, constituindo uma comunidade igualitária: é pela mediação dos outros que cada homem se constitui sujeito livre e responsável, de tal modo que qualquer forma de dominação do homem sobre o homem frustra o processo histórico de conquista da humanidade do homem (n.78-79).

Hoje, a crise política de nosso país revela a privação dos poderes conquistados pelo voto popular nas últimas eleições presidenciais. A desconstrução e o desmonte social estão sendo operacionalizados por políticos “ficha suja” e notadamente comprometidos com a corrupção.

É hora, afirmam nosso assessor Pe Luiz Ceppi e o teólogo Leonardo Boff, de se refundar como sociedade de cidadãos criativos e conscientes de seus valores. Hora de resistir, organizar e restaurar a democracia.

O Evangelho deste domingo nos propõe a solidariedade através da oração do cristão (Lc 11,1-13). No Pai Nosso Jesus ensina seus discípulos, e a todos nós, a rezar primeiro para que o nome de Deus seja santificado (isto é, para que Deus encontre reconhecimento no mundo) e seu reino venha. Rezamos pelo pão de cada dia, pelo perdão (pois somos eternos devedores) e para ficar incólumes na tentação.
Pedir é cultivar nossa fé, nossa confiança filial, é deixar “crescer Deus”, como nosso Pai, em nossa consciência e em toda a nossa vida (VP).

A oração de Abraão, da viúva e do vizinho nos ensina uma coisa importante: pedem coisas com que Deus se possa comprometer. Parece que pedem a Deus o que, no fundo, ele mesmo deseja (Gn 18,20-32). Esse é o segredo da oração eficiente (Konings).

Para o Apostolo Paulo, em Cristo existe uma comunhão entre todos os que buscam a fonte da vida, Deus (Cl 2,12-14). Essa comunhão de vida faz que Cristo nos redima. Desde que participemos da vida que ele viveu podemos dizer que a santidade de Cristo salda nossas dívidas, e sua morte por amor supre nossa falta de amor (com a condição de nos arrependermos).

Para papa Francisco, “a pedra angular da oração é o Pai”. Se não formos capazes de iniciar a oração com esta palavra, a oração não vai dar certo:

“Pai”. É sentir o olhar do Pai sobre mim, sentir que aquela palavra “Pai” não é um desperdício como as palavras das orações dos pagãos: é um chamado para Aquele que me deu a identidade de filho. Este é o espaço da oração cristã: sempre começando com “Pai” e na consciência de que somos filhos e que temos um Pai que nos ama e que conhece todas as nossas necessidades. Este é o espaço.

Jesus refere-se ao perdão do próximo como Deus nos perdoa. “Se o espaço da oração é dizer Pai, a atmosfera da oração é dizer ‘nosso’: somos irmãos, somos uma família”. ‘Pai’ e ‘nosso’: nos dão a identidade de filhos e nos dão uma família para “caminhar” juntos na vida”.

De 26 e 31 de julho, será realizada a Jornada Mundial da Juventude na terra de João Paulo II, com a presença do papa Francisco. Cracóvia tem um significado mais que especial para a juventude católica. É a terra de Karol Wojtyla, o papa que mudou a história do mundo, que levou Cristo aos confins da Terra e conquistou povos de diferentes culturas. Acompanhando nossos jovens, vivamos este momento de esperança orando pela paz no mundo.

Nestes dias fazemos memoria da JMJ do Rio (julho/2013) e do Intereclesial de Porto Velho (12º/julho.2009). Preparando-nos para a Romaria Missionaria e Vocacional das Capelinhas (07/08) e para o Encontrão das CEBs do Nortão (26-28/ 08), oramos com Dom Antonio Possamai, que preparou-nos esta oração:

Deus, nosso bom Pai, nós, vossos filhos e filhas, estamos realizando o encontro das Comunidades Eclesiais de Base de toda a Amazônia. Acreditamos que as CEBs são a forma que vosso Espírito nos infundiu para sermos Igreja como comunidades. Acreditamos que elas são a forma para evangelizar e viver inseridos na sociedade e nela exercer o profetismo e o compromisso para a transformação da realidade à luz do Evangelho.

Pedimos perdão porque não somos capazes de ser uma Igreja em saída, presente e atuante em todas as realidades do mundo. Queremos Vos agradecer porque muitos missionários acreditam nas CEBs nesta região Amazônica. Sabemos que nossa Igreja da Amazônia necessita urgentemente de evangelizadores ousados e criativos. E estamos conscientes que atualmente as Comunidades Eclesiais de Base são a forma de gerar estes evangelizadores. Reconhecendo nossas limitações, pedimos:

Que elas se multipliquem e continuem sendo verdadeiras escolas que formam discípulos missionários. Que elas, na força da fé, continuem sendo testemunhas de entrega generosa à causa da libertação deste povo oprimido, explorado e descartado. Que sejam capazes de reafirmar e dar novo impulso à vida e à missão profética da nossa Igreja. Que tenham a Palavra de Deus e a Eucaristia como fontes de sua espiritualidade e vivam em comunhão com seus legítimos pastores.

Pedimos que elas sejam força revitalizadora das paróquias deste nosso Nortão.

Que sejam a presença da Igreja junto aos mais simples, aos descartados e excluídos. Que tenham a força para se fazerem presentes no campo, nas periferias e nos centros das nossas cidades. Que sejam uma presença profética que denuncie uma Igreja de massas e de ostentação e anunciem a urgência de uma Igreja simples, pobre e para os pobres. Que sejam CEBs que lutam pela justiça.
Amém.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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