Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Pessoas que partilham a fé!


Com a chegada do mês de outubro, mês missionário, a nossa atenção se volta para a celebração de Nossa Senhora Aparecida, Nazaré, Rosário e dos santos missionários: Francisco e Terezinha.

A procissão de São Francisco, que acontece no dia 4 em Porto Velho desde a década de 20, atrai milhares de fiéis, transformando a Capela de São Francisco nessa época, um local de peregrinação.

O jovem Francisco entrou, certa vez, na capela de Nossa Senhora dos Anjos e escutoutentamente a leitura do Evangelho da missão: os apóstolos são convidados a irem pelo mundo a fora, a não se instalarem no templo, a irem anunciar a Boa Nova, sem calçado, sem títulos, formulando votos de paz, anunciando a liberdade do Evangelho.

A partir desse dia, Francisco viu claramente seu caminho e se tornou um missionário. Com seus vinte e poucos anos, Francisco se torna o homem totus evangelicus. O Evangelho passava a tomar conta dele, até o fim, até o morrer nu na terra nua, ali mesmo nesta abençoada capela ele pode dizer: “É isto que eu quero, isto que busco de todo o meu coração. Agora está claro: eu serei com minha vida e minha história, junto com meus irmãos o anunciador do Evangelho, fascinados pelo Cristo que nos manda pelo mundo à maneira dos apóstolos”.

Eloi Leclerc, de maneira muito feliz, comenta esse encontro de Francisco com o Evangelho: Certamente, naquela manhã de 1208, Francisco não tinha consciência do alcance de sua descoberta para o futuro da Igreja; quando seu coração se tinha iluminado com a claridade do Evangelho que ouvira. Não pensa nos hereges, nem nas cruzadas que o Papa projeta contra eles. Quer apenas responder pessoalmente ao apelo do Senhor. Realiza algo de imenso alcance ao tomar ao pé da letra o Evangelho que acabara de ouvir. Compromete-se em trilhar um caminho novo que possibilitará o encontro do Evangelho com o novo mundo das comunas (…) Numa cristandade solidamente instalada e caracterizada pelo imobilismo do sistema feudal, tal Evangelho soa estranhamente como apelo à mobilidade, à vida itinerante.

Os discípulos são convidados a se porem a caminho e a percorrerem o mundo, à maneira dos mercadores da época. Era preciso ser comerciante ou filho de comerciante para ouvir esse apelo em sua novidade e atualidade. Ao ouvir esse convite, Francisco sente que o seu próprio corpo pede uma resposta. Só tem um desejo: quer partir, apressadamente quer percorrer o mundo, “com passos grandes e paradisíacos”, no dizer de J. Delteil. Numa Igreja que carrega o imenso peso de suas imensas propriedades de terra, que tem calçados de chumbo, Francisco reencontra a leveza e a alegria da caminhada, a exultação da juventude, a impaciência alegre do mensageiro. No mesmo instante, arranca-se de toda instalação territorial, rejeita todo domicilio fixo e todo feudo. Rompe com o sistema político-religioso de seu tempo, o do “senhorio” da Igreja e dos “benefícios”. Redescobre o Evangelho como movimento de Deus para os homens. Reencontra a missão (E. Leclerc. Francisco de Assis. O Retorno ao Evangelho, p. 51-52).

Neste ano, temos mais duas grandes motivações para celebrar o mês de outubro: o dia 11 marca o aniversario de abertura do Concilio Vaticano II(1962-1965) e o inicio do Ano Santo da Fé (documento Porta Fidei).

O segundo motivo de nossa Ação de Graças é a celebração dos 30 anos da criação da Arquidiocese de Porto Velho. A Igreja Particular de Porto Velho foi elevada através da “Bula qui beati Petri” à dignidade de Arquidiocese pelo papa João Paulo II em outubro de 1982. Cristo continua encarnando-se por Ela e com Ela, neste mundo concreto de pessoas que partilham sua fé e são chamadas a serem a Igreja visível e reconhecida.

Ou possibilitamos a encarnação salvadora de Cristo neste meio, ao qual fomos enviados, ou negamos nossa fé, nos envergonhamos do Evangelho e traímos os direitos e a esperança do Povo de Deus.. Porque estamos aqui, aqui devemos comprometer-nos, até o fim..(P.Casaldaliga).

O Papa, em sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, intitulada “Chamados a fazer brilhar a Palavra de verdade” (PF,6) fala que “o anseio de anunciar Cristo nos impulsiona a ler a história para analisar os problemas, aspirações e esperanças da humanidade, que Cristo deve curar, purificar e preencher com a sua presença. A sua mensagem, de fato, é sempre atual, penetra no coração da história e pode dar resposta às inquietações mais profundas de todo homem. Por isso, a Igreja deve estar consciente de que “os horizontes imensos da missão eclesial e a complexidade da situação presente requerem hoje modalidades renovadas para se poder comunicar eficazmente a Palavra de Deus (VD 97). Isto exige, antes de tudo, uma renovada adesão de fé pessoal e comunitária ao Evangelho de Jesus Cristo, “num momento de profunda mudança como este que a humanidade está vivendo” (PF 8).

Ressalta que um dos obstáculos ao impulso evangelizador é a crise de fé, não apenas no mundo ocidental, mas em grande parte da humanidade, que, faminta e sedenta de Deus, também deve ser convidada e conduzida ao pão de vida e à água viva, como a Samaritana que vai ao poço de Jacó e dialoga com Cristo. Como narra o Evangelista João, a vicissitude desta mulher é particularmente significativa (Jo 4,1-30): encontra Jesus, que lhe pede de beber, mas depois lhe fala de uma água nova, capaz de saciar a sede para sempre. No início, a mulher não entende, permanece no nível material, mas lentamente é conduzida pelo Senhor a realizar um caminho de fé que a leva a reconhecê-lo como o Messias. A esse propósito, Santo Agostinho afirma: depois de acolher Cristo Senhor no coração, que mais poderia ter feito (aquela mulher) senão abandonar a ânfora e correr para anunciar a boa nova? (Homilia 15, 30).

O encontro com Cristo como pessoa viva que sacia a sede do coração só pode levar ao desejo de compartilhar com os outros a alegria desta presença e fazê-Lo conhecer para que todos possam experimentá-la. É preciso renovar o entusiasmo de comunicar a fé para promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão perdendo Deus como referência, a fim de redescobrir a alegria de crer. A preocupação de evangelizar nunca deve permanecer à margem da atividade eclesial e da vida pessoal do cristão, mas sim caracterizá-la fortemente, conscientes de ser destinatários e, ao mesmo tempo, missionários do Evangelho.

A fé é um dom que nos é dado para ser compartilhado; é um talento recebido para que produza frutos; é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa. É o dom mais importante que nos foi feito em nossa existência e que não podemos guardar para nós mesmos.

Partilhemos a nossa fé e sejamos uma Igreja missionária. O tema do mês missionário deste ano é “Brasil Missionário, partilha a tua Fé”. Este tema nos convida a partilhar a fé e recorda-nos que a tarefa missionária continua urgente e sem fronteiras.

A fé continua a servir de veículo criador do espirito e das praticas comunitárias. O Evangelho nos assegura que a força dos fracos é invencível.

Que nesta semana que antecede as Eleições, possamos dar testemunho da fé cristã fortalecendo a democracia segundo as “exigências éticas” da ordem social. É tradição da Igreja contribuir nas campanhas eleitorais com orientações aos seus fieis e aos cidadãos, firmadas na ética e na cidadania à luz do Evangelho.

Nas eleições do próximo dia 7 de outubro, um dos momentos decisivos para a democracia do país com a escolha dos prefeitos e vereadores dos municípios, lembremo-nos da importância de se votar em candidatos “Ficha Limpa”. Com a novidade da Lei da Ficha Limpa, vitória da mobilização popular, as próximas eleições despertam a grande expectativa de que as urnas, ao receberem o voto consciente e livre do eleitor, excluam candidatos cuja vida e prática não os credenciam aos cargos pleiteados.

Assistimos a um desencanto da população em relação à política. Contribuem para isso, mais que as denúncias de corrupção e desvio de conduta, a impunidade e a complacência com os culpados. É oportuno recordar que “a recuperação da política passa pela moralização dos políticos como verdadeiros homens de Estado e não negociantes do poder, enredados em jogadas pessoais (CNBB).
 

Fonte: Arquidiocese

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)