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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Preparando o Natal na família e na comunidade


    
 
O Advento é tempo de cultivar a esperança e de fazer memória da primeira vinda do Senhor Jesus, que se encarnou e armou sua tenda entre nós, pensando já em sua volta definitiva e, ao mesmo tempo, reconhecer que Cristo presente entre nós se faz nosso companheiro de viagem na vida da Igreja que celebra este mistério.

Somos convidados a iniciar nesta semana a tradicional Novena de preparação para o Natal, em família e na Comunidade. “Jesus está presente em meio a uma comunidade viva na fé e no amor fraterno” (D.A.256). Ali Ele cumpre sua promessa: “Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20).

A Novena do Natal é uma das grandes riquezas na nossa caminhada pastoral. É a oportunidade de viver intensamente esse tempo de preparação ao 12º. Intereclesial das CEBs, a ser realizado em julho de 2009, em Porto Velho. O tema “CEBs, Ecologia e Missão” e o lema: “Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia” nos impulsionam a cuidar e a promover a vida, o grande dom de Deus. Valorizamos a Novena de Natal por ser “uma forte expressão de fé” (DA 258) das nossas Comunidades Eclesiais de Base. É o momento de encontro das famílias, de oração e de reflexão voltada para as questões da ecologia e da missão e aos problemas do dia-a-dia familiar.

Muitas Comunidades, famílias, grupos de reflexão, empresas e repartições iniciarão a novena nesta semana; outras já iniciaram. O livrinho da Novena foi preparado pela equipe arquidiocesana das CEBs e pode ser adquirido na própria paróquia ou comunidade. O 1º. Dia da Novena que tem como tema: Natal Fraterno é zelar pela Criação leva-nos a olhar a nova criação inaugurada por Jesus Cristo, baseada na reconciliação das criaturas com o seu Criador e entre si, rompida pelos pecados da soberba e do egoísmo. É a natureza, criada pelo Verbo, e reconciliada com Deus pelo Filho encarnado. Somos chamados a assumir um compromisso comum de conscientização e preservação do meio ambiente; a escolher a defesa da natureza, da vida, e a defender nossos irmãos.

No 2º. Dia da Novena que tem como tema: Natal Fraterno é ouvir os gritos da Amazônia, somos convidados a criar um espírito de Natal fraterno ouvindo os clamores de nossa gente e de nossa terra e qual o sentido da nossa luta e da nossa caminhada. A realidade nos mostra que na Amazônia pouco mais de 25.000 latifundiários ocupam um território equivalente ao que é ocupado pelas populações indígenas, negras e caboclas; entre 2003 e 2005, foram despejadas, por ordem judicial 31.371 famílias somente na Amazônia! Por ser a Amazônia uma região de baixa altitude, quase todas as barragens comportam o alagamento de grandes áreas de floresta, com um impacto ambiental significativo. Estes impactos não têm efeito só na localidade atingida, mas vão repercutir na grande bacia amazônica que é uma realidade complexa e interligada. Se pensarmos que a ocupação originária da Amazônia deu-se pelos rios, podemos concluir que parte da população ribeirinha teve e terá que ser deslocada pela construção das barragens. Diante desse contexto, que gritos e desafios das pequenas e grandes cidades ecoam em nossos corações?

No 3º. Dia da Novena: Natal Fraterno é gerar vida e solidariedade, vamos reafirmar com a Igreja que tudo quanto se opõe à vida, toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis; todas estas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo em que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador  (GS 27) (CF 08 n.4).

4º. Dia:Natal Fraterno é defender a vida e a família. Para nós, cristãos, a comemoração do Natal é motivo de alegria e esperança, pois acreditamos que Ele veio recuperar o sentido da vida, da nossa luta e da nossa caminhada. Podemos então recordar um pouco como são os nossos natais em família e assumir o compromisso de lutar pelo direito à Vida desde sua concepção até a morte natural. Somos hoje no planeta mais de seis bilhões de pessoas, o amor que deriva de Deus nos torna seus filhos e filhas, irmãos e irmãs uns dos outros co-responsáveis pelo futuro da vida no planeta.

Natal Fraterno é acolher povos e culturas é o tema do 5º. Dia da Novena que nos leva a refletir sobre o acolhimento e a diversidade de povos e culturas em nosso município. O modelo de desenvolvimento da região amazônica atraiu para nosso Estado milhares de colonos de diversos lugares com dificuldades de se integrar nas comunidades locais. Tratava-se de pobres, sem terra ou expropriados por causa dos projetos de modernização da agricultura nas diversas regiões do país com maior população. Como é a acolhida das pessoas em nossas Comunidades? O Menino Jesus nasceu numa manjedoura, porque não deram lugar para ele em suas casas e nem nas pousadas e hotéis da cidade. Ainda hoje, muitos chegam a nossa cidade e não tem onde morar. Por que isto acontece?

O 6º. Dia tem como tema Natal Fraterno é ser Comunidade: Casa e Escola de Comunhão e nos ajuda a conhecer Jesus mais de perto para podermos, juntos, celebrar melhor o seu Natal. A comunidade é lugar de acolhida e hospitalidade, preparando-nos para a celebração do Natal de Jesus que quis nascer no meio de nós sem fazer distinção de cor, raça ou crença. Uma boa faxina de final de ano faz muito bem: o que eu preciso arrumar no caminho da vida nesse tempo que antecede o Natal?

Natal Fraterno é gerar a nova cidade e a inclusão é o tema do 7º. Dia que nos possibilita pensar na construção da cidade nova, onde prevaleça a vida, a justiça, a igualdade, a liberdade e a solidariedade. Conhecemos nossos bairros, hospitais, postos de saúde, o porto, a rodoviária?  Como viver o projeto de Deus na cidade? Maria deu a luz a seu filho num lugar miserável, não havia um lugar digno para ele, nem para sua família, nem para seu povo. Nosso Deus tem um jeito especial de revelar sua vontade, para libertar a humanidade. Ele nasce entre os trabalhadores simples e pobres e com eles forma grupos, lutas e resistência.

O 8º. Dia da Novena de Natal tem como tema:  Natal Fraterno é viver a missão. "No seio do Povo de Deus, há unidade de missão", em que as CEBs são "o primeiro e fundamental núcleo eclesial, a célula inicial de estruturação eclesial, foco de evangelização e fator primordial de promoção humana e desenvolvimento", o "rosto de uma Igreja pobre" (Med.10 e 15).

Como conclusão da novena, o tema: Natal Fraterno é criar novo céu e nova terra. Neste período da gravidez (advento) e do nascimento (natal) somos guiados pela mesma estrela de Belém para contemplar o Menino-Deus nascido que quer vida, dignidade, paz, saúde, educação, moradia, respeito, ternura, caridade para todos os que receberam o sopro da vida. O Deus conosco é sempre o Deus que caminha à nossa frente e ao nosso encontro. A Terra grita juntamente com os povos, de modo especial os pobres, e todas as espécies de seres vivos. Curar as feridas das nações inclui sanar as injustiças em todas as partes do planeta. Deus vai realizar isso, mas será muito gratificante se um dia, na glória, pudermos dizer: eu colaborei, eu não me conformei com a injustiça nem com a destruição da natureza (Ap 21 e 22).

Preparemo-nos bem para viver o Natal Fraterno, a exemplo da Família de Nazaré, exemplo vivo de harmonia familiar, modelo para todas as nossas famílias. Para todos que participam desta Novena, as bênçãos do Menino Jesus.
 
Fonte: PASTORAL DA COMUNICAÇÃO

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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