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Dom Moacyr

Repensar a Pastoral Urbana



Um ano após o 12º Intereclesial dasComunidades Eclesiais de Base, realizado em Porto Velho, de 21 a 25 de julho de 2009 com o tema “CEBs: Ecologia e Missão” e o lema: “Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia” somos convidados a refletir nos compromissos assumidos e nas contribuições desse encontro nacional para a Igreja do Brasil e da Amazônia.

O Intereclesial reuniu as CEBs do Brasil, milhares de voluntários e 3.010 delegados assim distribuídos: 2.174 leigos, 331 presbíteros, 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 56 bispos sendo 01 da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, pajés, pastores e líderes de varias denominações. Estavam presentes povos de 38 nações indígenas, 10 países latinoamericanos, 05 países Europeus, 01 Africano, 01 dos Estados Unidos e 01 Asiático.

Foi, de fato, o encontro de Igrejas que caminham juntas e trabalham a comunhão e a unidade. Contribuiu para revigorar a caminhada eclesial e deu oportunidade para a inserção de novos cristãos através do serviço. Reafirmamos o nosso jeito de ser como construtores do Reino de Deus “o modo mais antigo de ser Igreja”, ”o modo novo de ser Igreja e o modo normal de ser Igreja”.

Representando quase 100 mil CEBs do Brasil, os delegados se comprometeram a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e respeito por suas culturas; as dos afro-descendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua dignidade e igualdade e avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra equivalente, restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e indenização por suas benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos Movimentos Ecológicos, contra a devastação da natureza, pela defesa das águas e dos animais.

Ainda como compromisso, a defesa e o apoio ao movimento FLORESTANIA, no respeito à agrobiodiversidade e aos valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia. Respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura, na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o desemprego, com especial atenção à juventude. Fomos convocados para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para tomar parte nos conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º. de Maio e das Semanas Sociais.

Nós ainda nos comprometemos a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a educação ambiental em todos os espaços de nossa atuação; a intensificar a formação bíblica; a incentivar uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos assumindo seu protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; a fortalecer o diálogo ecumênico e inter-religioso superando a intolerância religiosa e os preconceitos.

Repensar a pastoral urbana a partir das CEBs, como um dos grandes desafios eclesiais, porque “as CEBs foram desde as origens a principal presença da Igreja no mundo popular”. Segundo Padre Comblin, “com a imensa migração do campo para as cidades, o mundo popular hoje em dia é principalmente urbano e a presença da Igreja nessas imensas periferias urbanas e nas favelas ou cortiços é o grande desafio para os cristãos e cristãs de boa vontade”. Essas massas foram entregues a inúmeras congregações evangélicas. Estas, como disse dom José Maria Pires, fazem o trabalho que não fazemos e por isso podemos agradecer a Deus pelo trabalho que fazem anunciando Jesus. Mas nós também poderíamos e deveríamos fazer esse trabalho neste novo mundo dos pobres que se criou nestas últimas décadas. Isto exige uma enorme multiplicação de CEBs no mundo urbano.

“As CEBs são a melhor forma de participação dos pobres inventada até agora”, afirma ainda Pe Comblin, pois ali os cristãos do mundo popular não colaboram simplesmente com uma pastoral paroquial definida por outros, mas tomam iniciativas e orientam as atividades comunitárias entre eles mesmos, sempre em comunhão com a grande Igreja. Gozam da mesma liberdade que São Paulo reconhecia as comunidades fundadas por ele.

Pe. Beozzo, ao tratar das CEBs e seus desafios hoje, fala de sua herança latinoamericana. Em Aparecida, foi proposta uma Igreja "discípula" de Jesus e toda ela missionária, com especial apelo às CEBs, para se colocarem à frente do novo esforço missionário da Igreja. As Comunidades Eclesiais de Base abraçam a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47). Enraizadas no coração do mundo, são espaços privilegiados para a vivência comunitária da fé, mananciais de fraternidade e de solidariedade e alternativa à sociedade atual fundada no egoísmo e competição.

Elas têm sido uma das grandes manifestações do Espírito na Igreja da América Latina e do Caribe depois do Vaticano II. As comunidades eclesiais de base, no seguimento missionário de Jesus, têm a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade e a orientação de seus pastores como guia que assegura a comunhão eclesial. Demonstram seu compromisso evangelizador e missionário e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres; são fonte e semente de variados serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na Igreja (DAp 178-179).

A Amazônia é cada vez mais urbana. O fenômeno da urbanização em Porto Velho tem feito de nossa cidade espaço de uma enorme circularidade migratória. Coloca as pessoas numa situação de dispersão, cada um pertencendo a vários lugares: ora somos cidadãos, ora trabalhadores, ora somos clientes, ora paroquianos, e assim por diante. Nossa Capital está rodeada por enormes periferias. Qual a contribuição dos cristãos na construção da cidade e de um novo modelo social?

O que cristianismo tem a oferecer é a vida de homens e mulheres que vivem em comunidades, responde Padre Ferraro. “A contribuição do cristianismo são as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo. Essas comunidades são e seguem Jesus Cristo”. Seu agir é a “evangelização”. E evangelização a partir dos pobres, pois são eles os encarregados da libertação da humanidade. Hoje esse processo toma corpo nas CEBs que são presença ativa e operante de Jesus na história, através do Espírito do Ressuscitado. São as CEBs que mantêm vivo o Cristo e é o próprio Cristo que mantém o povo vivo. E pela prática das comunidades que os cristãos contribuem para a salvação da cidade e para revelar o ser de Deus.

Sem dúvida, pensar a cidade a partir dos pobres exige uma verdadeira conversão da Igreja. É a partir dessa realidade de dor e de sofrimento que a pastoral urbana deve dizer a sua palavra ao conjunto da cidade. O desafio da pastoral na cidade, onde se encontram em gestação os novos modos de cultura, significa ir ao encontro das pessoas lá onde elas se encontram.

Na Mensagem ao Povo de Deus sobre as Comunidades Eclesiais de Base, aprovada pela CNBB, durante a 48ª Assembléia Geral, os bispos reconhecem que é preciso valorizar as experiências de sociabilidade básica: as relações fundadas na gratuidade que se expressa na dinâmica de oferecer-receber-retribuir. Esses espaços periféricos favorecem o desenvolvimento de associações de vizinhança e movimentos que reivindicam melhorias de equipamento urbano, bem como das próprias Comunidades Eclesiais de Base. São as relações de reciprocidade que, promovendo a solidariedade que é a força dos pobres e pequenos, permite que se diga que "gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias".

Fonte: Pascom

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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