Domingo, 12 de março de 2017 - 08h17
O êxito da Campanha da Fraternidade, que estamos vivenciando nesta Quaresma, depende de iniciativas solidárias em favor dos povos de cada região, que reforcem suas lutas e propostas de convivência com o seu bioma e melhorem as condições de vida para que possam seguir um caminho alternativo de desenvolvimento econômico, social, político e cultural.
A Campanha da Fraternidade de 2017 visa a preservação, o cuidado e a defesa dos biomas brasileiros, dons de Deus; o respeito e promoção das relações solidárias e fraternas com a vida e a cultura dos povos, mediante o enfrentamento dos desafios atuais, denuncia das ameaças e violações dos direitos que excluem, degradam e matam, apoio às novas práticas na defesa dos ambientes essenciais à vida.
O documento “Misericordiae Vultus” continua nos convocando “a abrir nosso coração” àqueles que vivem nas periferias existenciais, criadas de forma dramática pelo mundo contemporâneo. Diante de situações de precariedade e sofrimento, presentes no Brasil e no mundo, “quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo”.
Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. Possam nossas mãos apertar suas mãos para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo (MV 15).
Nossa solidariedade com os povos indígenas; com o CIMI reafirmamos o compromisso de continuarmos empenhados na defesa da vida dos povos; possam as diferentes instâncias dos Três Poderes respeitar e cumprir os ditames constitucionais, segundo os quais “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” (Art. 231; Nota do CIMI sobre as declarações do ministro da Justiça, 10/03/2017).
Não estamos indiferentes aos gritos da Comunidade Buriticupú, MA, afetada pela concessão de suas terras à atividade ferroviária e à extração de minerais; Comunidades indígenas Awajún y Wampís, AM; povo indígena Jaminawa Arará, que pedem urgência na demarcação de seus territórios, para que seja possível viver com segurança e não serem vítimas de saques ou invasão de suas terras; povos indígenas e camponeses de Tundayme, Amazônia equatoriana, afetados pelos interesses de empresas mineradoras de ouro e cobre que provocaram contaminação de rios e despejos forçados de seus lugares de habitação.
Estas Comunidades irão se apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para denunciar casos de violações direitos humanos e de degradação da natureza no dia 17/03, juntamente com o presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, dom Cláudio Hummes, em Washington, nos Estados Unidos.
A Pastoral Carcerária denunciou em Genebra, no inicio deste mês, o sistema prisional brasileiro e a violação dos direitos dos presos; com um aumento médio de 7% no número de presos anualmente e com mais de 620 mil encarcerados, o Brasil ocupa a nada honrosa 4ª colocação entre os países que mais encarceram no mundo. Esperamos fazer frente a esse desafio, pois não temos dúvidas que seremos julgados por Deus e pela história, pela forma com que tratamos nossos irmãos privados de liberdade, disse Dr. Paulo Malvezzi, assessor jurídico da Pastoral Carcerária.
Para Dom Joaquim Mol, Reitor da PUC Minas e Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, “o Brasil testemunha neste momento uma triste desaceleração e recuo em iniciativas de resgate da dignidade popular”. Somada à crise econômica que atinge os empobrecidos, observamos, claramente, no país, na política e nos direitos sociais, uma guinada conservadora e neoliberal.
Importantes conquistas em termos dos dispositivos e dinâmicas de participação democráticas nas políticas públicas e diretamente nos governos dos municípios e estados via associações de bairros, de categorias profissionais, grupos sociais e redes de apoio comunitário vão se fragilizando e desmaterializando.
É lamentável observar como a cidadania no Brasil, mantida historicamente em situação anêmica e emudecida, volta a ser constrangida, na exata hora em que se reanimava e reunia forças para erguer a cabeça e caminhar.
Nenhuma nação pode realizar-se em meio a tanta desigualdade, conclui dom Joaquim Mol; precisamos “contribuir para a formação da consciência crítica, cidadã, ecológica integral, progressista, ética, arejada, humanizada, inclusiva, justa e livre”.
A liturgia hoje está centrada nos destinatários da transfiguração, que somos nós, homens e mulheres capazes de mudar o olhar para ver o invisível no rosto humano e ali ver Deus. Os antigos entendiam que ver a face de Deus teria como consequência imediata a aniquilação total. Mas para nós, que cremos que Cristo é a revelação de Deus, contemplá-lo não é um perigo, mas uma realização, um encontro. A liturgia, como cume da vida da Igreja, sacramenta e antecipa esse encontro.
Nesta segunda etapa do caminho quaresmal, o Evangelho de Mateus nos ensina que a vida e ação de Jesus não terminam na sua morte; a transfiguração é sinal da Ressurreição: a sociedade não conseguirá deter a pessoa e a atividade de Jesus, que irão continuar através de seus discípulos (BP).
Na história do povo de Israel em um monte Deus se revela; Jesus quer mostrar aos discípulos que estão com medo, a glória de Deus; quer mostrar-lhes que os sofrimentos do tempo presente são muito menores do que a alegria vindoura que será vivida ao lado de Deus (Mt 17,1-9).
Com Jesus na montanha é toda a Igreja que se encontra aí para ser transfigurada; mas quando isso acontece? Quando paramos para escutar o Ressuscitado: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz”. Escutar o Cristo é viver o Evangelho: o amor incondicional, o perdão ilimitado, a acolhida e a abertura aos excluídos, não julgar, a partilha e a doação da sua vida aos outros, a justiça, o respeito e o reconhecimento da dignidade de todos (R.Gravel).
Quando vivemos isso, somos transfigurados pelo Cristo, de sorte que, sem mesmo nomeá-lo, as pessoas nos reconhecem como seus irmãos e irmãs, da mesma família que ele: “Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,35).
Ver o rastro de Deus no irmão e na irmã é a proposta do monge Enzo Bianchi do Mosteiro de Bose. Citando Orígenes, ele escreve que foram os discípulos que sofreram uma transfiguração da sua visão na fé, até ver na humanidade do Servo, na forma do escravo, a forma de Deus.
A escuta do Deus invisível significa escuta do Filho, de Jesus, do Servo, do Eleito, do Profeta definitivo depois do qual não haverá outro. A escuta de Jesus é escuta da palavra do Evangelho, é escuta daquilo que Jesus disse e fez, é escuta da Sua humanidade, aquela humanidade que Ele viveu conosco, compartilhando-a em tudo, em tudo, sem se isentar do amor do Pai. Somos convidados a um caminho que é bem resumido por um dito de Jesus relatado por Clemente de Alexandria: “Você viu o seu irmão, um homem? Você viu Deus”.
No Livro do Gênesis, Abraão consegue escutar a voz de Deus e descobrir sua vontade. Aprendeu, ao longo da vida, a perceber as pistas de Deus em sua história. Deixou sua casa, sua terra, seu clã; colocou-se a caminho. Ele representa para nós aquele que está atento aos sinais e sabe interpretá-los, conseguindo encontrar a realização da promessa divina (Gn 12,1-4a).
Paulo escreve a Timóteo exortando-o a superar suas limitações e seus medos, para tornar-se uma pessoa mais equilibrada, com condições para ajudar a própria comunidade. O caminho para alcançar a plena participação nesse projeto é assumir a experiência pascal de Jesus, como realidade para a nossa vida. A palavra de Deus purifica nosso olhar e nos permite visualizar a glória de Deus. Essa visão nos dá força para enfrentar os desafios da vida (2Tm 1,8b-10).
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