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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Rumo à construção de uma nova sociedade


 
De 27 a 31 de Julho nos encontramos com os assessores da articulação continental das CEBs, aqui em Porto Velho, para avaliação da caminhada das CEBs na América Latina e, através de uma Carta, apresentamos conclusões que precisam ser refletidas nas comunidades. 

Fiquei feliz e grato, como bispo da Igreja Particular de Porto Velho, Rondônia, em ter acolhido, com o coração grande da Amazônia a todos os delegados e delegadas do XII Intereclesial das CEBs, vindos de quase todas as dioceses do Brasil, assim como os irmãos e irmãs convidados vindos de muitos países da América Latina e do Caribe, da Europa, da Ásia, da África e dos Estados Unidos, como também, com muito afeto, meus irmãos Bispos. Louvo ao Senhor por ter feito desta nossa cidade de Porto Velho um espaço de comunhão e comunicação de povos e culturas. 

Com este grande coração da Amazônia, quero acolher todos os gritos dos Povos da Terra e os gritos da nossa Mãe Terra, a “Pacha Mama” dos indígenas. A partir do XII Intereclesial e do Encontro de Assessores da articulação continental das CEBs, lhes envio esta carta, expressando meu agradecimento ao Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos reuniu a todos, todas em Porto Velho, na força do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, quero lhes oferecer algumas considerações: 

1. As CEBs, célula inicial de estruturação eclesial (Md 15,10, DAp, 197), buscam ser comunidades enraizadas na prática histórica de Jesus de Nazaré, filho de Maria (Gal 4,4) e bebem do testemunho das primeiras comunidades cristãs (At 2,42-47; 4,32-35). Como Jesus, assumem a opção pelos pobres (Mt 9,35-36; Lc 4,14-30; Mt 11,2-6; Lc 7,18-23) e a partir deles anunciam o evangelho do Reino a todos, oferecendo a salvação como desejo de Deus Pai (1Tim 2,4), colaborando na construção da fraternidade e sororidade na humanidade. Seguindo os passos de Jesus, as CEBs testemunham que a vida deve brilhar em primeiro lugar (Jo 10,10) e por sua causa, muitos e muitas foram até o martírio, para defendê-la em nome da Justiça do Reino. 

2. Seguindo a prática de Jesus de Nazaré, as CEBs se espelham na Palavra de Deus e a têm como companheira da caminhada. Esta Palavra é refletida, rezada, bebida, contemplada, cantada e ilumina a prática libertadora das comunidades, tornando presente o Mistério Pascal. No Brasil e em outros países da América Latina e do Caribe, em muitos lugares, as CEBs anseiam por uma participação à celebração Eucarística, com um ritmo possível e seguro, como alimento da caminhada (Jo 6) e sinal essencial de sua identidade católica.(DAp 253, Doc. CNBB 87, nº 73). 

3. Unindo fé e vida, as CEBs são sementeiras de novas lideranças e de novos ministérios. Seus participantes, como cidadãos e cidadãs, se engajam no Movimento Popular, no Movimento Sindical, no campo e na cidade, nos partidos políticos ligados às lutas do povo, na luta dos povos indígenas, dos Quilombolas, das mulheres, como também participam das Pastorais Sociais, oferecendo às pessoas a descoberta da importância da cidadania (Doc. CNBB sobre eleições, 2006, Introdução). Também das CEBs vemos nascer muitos ministérios que colaboram com todo o Povo de Deus na oferta de serviços que ajudam as Comunidades se fortalecerem no seguimento de Jesus. 

4. Por estarem inseridas nos bairros pobres de nossas cidades e na zona rural, as CEBs são a instância missionária da Igreja mais próxima das pessoas. Evangelizam a partir das coisas pequenas. Partilham, muitas vezes, o alimento com aqueles e aquelas que não o têm. Cuidam dos doentes, fazem mutirão na roça e na cidade. Exercem o “Lava pés” no meio do mundo (Jo 13,1-17; Mc 10,45). Frente à desilusão de experiências religiosas anteriores, ajudam muitas pessoas a reencontrar a alegria de viver o seguimento de Jesus em comunidade (Lc 24,13-35). 

5. Por isso, não têm medo de enfrentar os conflitos e acreditam que o Espírito do Ressuscitado continua a lhes oferecer luz e força para a caminhada, rumo à construção de uma nova sociedade justa, fraterna, solidária, respeitadora da vida e da Mãe Terra, a caminho do Reino Definitivo, acreditando na Trindade como a melhor comunidade. 

6. A partir da Conferência de Aparecida, as CEBs ganham reconhecimento e novo alento; são o lugar eclesial para a comunhão; o espaço de formação para os discípulos missionários; nelas os leigos se integram e vão mostrando frutos abundantes. São ambiente propício para se escutar a Palavra de Deus, para viver a fraternidade, para animar na oração, para aprofundar processos de formação na fé e para fortalecer o exigente compromisso de serem apóstolos na sociedade de hoje. Lugares de experiência cristã e evangelização em meio à situação cultural que nos afeta; fonte segura de vocações ao sacerdócio, à vida religiosa e à vida leiga com especial dedicação ao apostolado. Se desejamos pequenas comunidades vivas e dinâmicas, é necessário despertar nelas uma espiritualidade sólida, baseada na Palavra de Deus, que as mantenham em plena comunhão de vida e ideais com a Igreja local e, em particular, com a comunidade paroquial. Nossas paróquias chegarão a ser “comunidade de comunidades” (Dap 307 a 310). 

7. A abertura de nossas pequenas comunidades ao impulso do Espírito Santo contribui para o processo de conversão pessoal e pastoral e ao estado permanente de Missão, pois assumimos o compromisso de uma grande missão em todo o Continente. Nossas dioceses, em todas as suas comunidades e estruturas são chamadas a serem comunidades missionárias e, portanto, o sujeito da Missão. Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja. Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé. (DAp 168,362,365 e doc 88/CNBB). 

8. Como fruto do Vaticano II na América Latina e Caribe, as CEBs são o modo mais antigo e novo de ser Igreja. Na expressão de D. Pedro Casaldaliga são “o modo normal de ser Igreja”. Por isso, acredito que todos nós temos a responsabilidade de animá-las e fortalecê-las no Brasil e em nosso Continente latino-americano e caribenho, como instância primeira da Igreja. Acredito que “todas as autênticas transformações se forjam no coração das pessoas e se irradiam em todas as dimensões de sua existência e convivência. Não há novas estruturas se não há homens novos e mulheres novas que mobilizem e façam convergir nos povos ideais e poderosas energias morais e religiosas. Hoje, mais do que nunca, o testemunho de comunhão eclesial e de santidade é uma urgência pastoral. (DAp 538, 368). 

9. As CEBs contam sempre com Maria, a fiel seguidora de seu Filho Jesus, e nossa mãe (Jo 19, 25-27) que também em seu canto (Lc 1,46-56) faz a opção pelos pobres, para que haja vida digna para todos os seus filhos e filhas. Quero terminar afirmando com D. Helder Câmara: “Eu acredito que o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor”. Na certeza-esperança da presença do Deus da Vida presente na história de seu povo, envio-lhes um abraço em Jesus Cristo Libertador. Irmanamo-nos aos Irmãos e Irmãs cearenses que vão acolher, com espírito fraterno, o 13º Intereclesial das CEBs para continuar a caminhada no seguimento de Jesus.

Fonte: Pascom

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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