Quarta-feira, 6 de maio de 2015 - 00h01
O Dia da Pátria propõe, diante de situações gritantes no Brasil e no mundo como a migração, o desemprego, a corrupção, o trafico, a exclusão social, uma avaliação do processo histórico de construção do nosso país e uma reflexão sobre qual independência comemorar.
Há 21 anos, o Grito dos Excluídos acontece todo dia 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil. Esse evento ocorre em todas as regiões brasileiras, envolvendo as populações ribeirinhas, povos indígenas, população urbana, rural, do sertão, diversos segmentos da sociedade e setores dos movimentos e pastorais sociais, visando resgatar para a cidadania a celebração do Dia da Pátria.
O Grito dos Excluídos sempre contribui com a proposta de temas para debates e manifestações, com subsídios feitos com critério e competência, oferecendo à sociedade uma maneira democrática de gritar as causas urgentes que precisamos assumir, como Pátria onde todos podem se sentir incluídos.
Violência e mídia estão em debate na edição deste ano. Tema e lema estão em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2015 que trata da relação Igreja e sociedade e refletem situações do contexto brasileiro. O tema “A Vida em primeiro lugar” e o lema “Que país é este que mata gente, que a mídia mente e nos consome”, mediante 06 eixos: “Unir os generosos, Direitos Básicos, Desmentir a Mídia; As formas diferentes de violência; Função do Estado; Participação Política e A rua é o lugar”, aponta para a reivindicação daqueles que lutam por igualdade, justiça e vida digna e os que têm seus direitos negados e violados. Na pauta, portanto, o debate do papel do Estado e questões como o extermínio dos povos indígenas, da juventude negra e pobre, maioridade penal, reforma politica, democratização dos meios de comunicação.
Diante do grito e sofrimento dos povos indígenas não podemos ficar cegos, surdos, mudos e indiferentes: o assassinato do líder Simião Vilhalva, dos povos kaiowá-guarani, no dia 29 de agosto na Terra Indígena Ñanderu Marangatu, em Antonio João, MS, no mesmo território sagrado onde tombaram Marçal de Souza, Dorvalino Rocha e tantos outros, clama por justiça. E os assassinos continuam atacando impunemente nossos irmãos indígenas, vulneráveis e indefesos, como afirma o CIMI, com um único objetivo: eliminar os povos originários e continuar invadindo e explorando seus territórios.
A Liturgia deste domingo permite-nos aprofundar os temas da Semana da Pátria, destacando os “pobres de Javé” e a opção de Deus pelos deserdados. Aqueles que sofrem podem criar coragem, pois a justiça de Deus encontra-se com os que estão marginalizados e é comunicada como abundância de vida (Sl 145).
O profeta Isaías mostra a marcha dos mutilados voltando do exílio (Is 35,4-7a). É a peregrinação rumo à vida nova que Deus lhes preparou. Javé dos inválidos posiciona-se a favor dos que foram privados de ver, ouvir, andar e falar. Ele é o Deus dos que não têm voz, liberdade, vez e defesa; dos que foram manipulados e marginalizados (VP).
No Evangelho de Marcos, Jesus é aquele que, anunciado em Isaías, abre os ouvidos e a boca das pessoas, para que possam testemunhá-lo (Mc 7,31-37). A multidão proclama que Jesus “tem feito bem todas as coisas: aos surdos fez ouvir e aos mudos falar”. Ele cria o mundo novo e devolve vida e liberdade aos oprimidos e mutilados pela sociedade.
A carta de Tiago mostra a sabedoria cristã diante dos desafios. Reduz a Lei judaica ao mandamento do amor ao próximo (Tg 2,1-5) que se traduz em igualdade cristã, preferência pelos pobres, amor ativo. Esse amor exclui a exploração; a fé é dinamismo que produz ação e só é madura quando se expressa em atos concretos. A fé torna todos iguais e conduz a relações sociais justas.
O teólogo Johan Konings nos interpela dizendo que muitas vezes a religião é usada para dominar as pessoas, para que fiquem quietas e não protestem contra a exploração pelos poderosos: será isso promover a vida do ser humano? Dizem que os que sofrem serão recompensados na eternidade. Mas isso não justifica que se faça sofrer aqui na terra! O Deus da Bíblia quer o bem das pessoas desde já. Pode existir doença, sofrimento, mas não é a última palavra. Deus não pode servir para legitimar nenhuma opressão; Ele não tem uma opção de classe privilegiando uns em detrimento de outros. Deus oferece o seu amor, a sua graça e a sua vida a todos; contudo, uns acolhem os seus dons e outros não.
A justiça é a exigência mínima do amor. A verdadeira religião liberta o ser humano do mal, também do mal econômico e político; serve para o bem do homem todo, para aquelas dimensões que são esquecidas: a integridade da vida e do verdadeiro amor; o crescimento espiritual e o sentido último da vida.
A crise atual exige que assumamos o diálogo entre as pastorais e movimentos sociais, unindo forças; o diálogo ecumênico mediado por ações concretas voltadas aos excluídos da sociedade, um diálogo de ação e metodologia que possa acolher toda a riqueza espiritual das Religiões; exige reintegrar as forças sociais, visto que as diferentes manifestações que estão acontecendo, somadas a um projeto de poder divorciado dos anseios populares, geraram dificuldades para análise do novo perfil da sociedade.
Na mensagem da Igreja sobre o momento atual da vida do País, a CNBB afirma que “pagamos um alto preço pela falta de vontade política de fazer as reformas urgentes e necessárias, capazes de colocar o Brasil na rota do desenvolvimento com justiça social quais sejam as reformas política, tributária, agrária, urbana, previdenciária e do judiciário”. O gasto com a dívida pública, o ajuste fiscal e outras medidas para retomada do crescimento colocam a saúde pública na UTI, comprometem a qualidade da educação, inviabilizam a segurança pública e inibem importantes conquistas sociais.
A corrupção, metástase que atinge de morte não só os poderes constituídos, mas também o mundo empresarial e o tecido social, desafia a política a seguir o caminho da ética e do bem comum. Combatê-la de forma intransigente supõe assegurar uma justa investigação de todas as denúncias que vêm à tona com a consequente punição de corruptos e corruptores.
A “Nota da CNBB a favor do Brasil” (26/08/2015) recorda as palavras do papa Francisco: “é urgente resgatar a credibilidade da atividade política em que seja fortalecida a cultura inclusiva e democrática, pois um método que não dá liberdade às pessoas para assumir responsavelmente sua tarefa de construção da sociedade é uma chantagem, e nenhum político pode cumprir o seu papel, seu trabalho, se se encontra chantageado por atitudes de corrupção”.
O cenário político brasileiro não está isento desta condenável prática. É inaceitável que os interesses públicos e coletivos se submetam aos interesses individuais, corporativos e partidários. As disputas políticas exacerbadas podem comprometer a ordem democrática e a estabilidade das instituições. Garantir o estado de direito democrático é imperativo ético e político dos brasileiros. O bem do Brasil exige uma radical mudança da prática política.
A Igreja, através Conselho Pastoral da CNBB, reafirma o diálogo e a luta contra a corrupção como meios para preservar e promover a democracia. Nesse diálogo, devem tomar parte os poderes constituídos e a sociedade civil organizada. Com o Papa lembramos que “o futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também em suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança”. O Espírito Santo nos ajude a dar a razão de nossa esperança e nos anime no compromisso de agir juntos pelo bem comum do povo brasileiro (CNBB).
Neste mês da Bíblia, vamos perceber, através do Evangelho de João, que pessoas pobres e marginalizadas formavam a comunidade joanina; vivendo de um jeito novo, eram unidos pelo amor e não pela Lei.
Desde 2012 estamos aprofundando o tema “Discípulos missionários a partir dos Evangelhos”; cada Evangelho está sendo relido na perspectiva do seguimento: Marcos em 2012; Lucas em 2013, Mateus em 2014. Em 2015, o tema “Discípulos e missionários a partir do Evangelho de João” e o lema “Permanecei no meu amor para dar muitos frutos” (Jo 15,8-9) mostram que o Evangelho da comunidade de João nasceu do anúncio vivo, da memória de homens e mulheres que guardavam e praticavam os ensinamentos transmitidos por Jesus (Bíblia Gente). É o testemunho vivo da comunidade, de suas lutas e dificuldades, dos conflitos vividos com as autoridades judaicas, com o Império Romano e com os seus próprios membros em suas diferentes compreensões da mensagem de Jesus.
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