Sexta-feira, 11 de setembro de 2009 - 18h40
Celebramos dia 14 de setembro a festa da Exaltação da Santa Cruz que nos introduz no cerne do projeto de Deus, realizado na vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Deus escolheu o caminho da cruz como forma de revelar seu amor e comunicar a vida. A cruz de Cristo é o anúncio do projeto de Deus concretizado em Jesus de Nazaré. Mas é também uma denúncia de todas as formas de opressão que não levam à vida e um desafio para quem se compromete com Jesus. Esse projeto nos revela, de um lado, o imenso amor de Deus, convidando-nos a aceitá-lo agradecidos. De outro lado, mostra-nos que cabe a cada um e a toda a comunidade aderir plenamente a Jesus na fé. Sendo Jesus a única fonte de salvação e o perfeito revelador do amor do Pai, a única atitude cabível ao cristão é o esforço de aderir a Jesus numa fé solícita e compromissada.
Celebramos em seguida, no dia 15 de setembro a festa de Nossa Senhora das Dores. A celebração da Coroa e da Missa em honra de Nossa Senhora das Dores começou na Itália em 1617 por iniciativa da Ordem dos Servos de Maria.
A Coroa de Nossa Senhora das Dores, cultivada desde 1233, quando foi iniciada pelos sete fundadores, é uma oração apropriada para a nossa realidade brasileira, onde dor e sofrimento são o pão de cada dia de tantos irmãos e irmãs que sofrem. Os sofrimentos de Cristo e de Maria prolongam-se na vida dos que sofrem e lutam pela justiça e pela libertação. Inspirando-se em Maria cada um de nos saberá carregar a sua cruz e colocar-se aos pés das infinitas cruzes da humanidade, onde Cristo continua sendo crucificado nos irmãos.
Contemplando a mãe de Jesus ao pé da cruz, vemos que com e como o filho, Maria é a vencida e a vencedora e que derrotas podem acontecer a todos especialmente aos que lutam para mudar a sociedade na justiça. A mãe de Jesus, de pé junto da cruz, mostra que a derrota das causas justas e o reverso mora de sua vitória futura, bem como fase e condição espirituais de seu triunfo definitivo. Per crucem ad lucem. Maria de pé junto do crucificado é a imagem-guia de todos os que permanecem firmes junto das infinitas cruzes que se levantam ao longo dos tempos. Essa resistência interior é semente de ressurreição tanto dentro, como depois da história.
O livro Mariologia Social(Ed.PAULUS), escrito por um confrade meu, Frei Clodovis Boff, fala de Maria como “Aquela que reina gloriosa e que foi a Mulher das Dores” e nos ajuda a refletir sobre o caminho da cruz que leva ao caminho da glória. A própria glorificação da humilde Serva do Senhor representa a exaltação da inocência, a reabilitação da vitima. Mas se aqui há uma vitima é só porque houve antes a testemunha. Maria de Nazaré não sofreu por acaso, mas em conseqüência de seu seguimento nas pegadas do Messias, seu Filho.
De fato a glorificação só se explica sobre o fundo da humilhação. Como a Ressurreição é a reabilitação do Crucificado, assim a Assunção é a exaltação d’Aquela que antes “esteve ao pé da Cruz” (Jo 19,25). Assim, a Cruz, de símbolo do sofrimento, transformou-se em escada para a glória. O sofrimento vivido na fé, torna-se fecundo e criativo. É que a vida, como caminho e força de expansão e ascensão para o mais alto, pede sempre seu preço. A Cruz é cadinho que purifica e ao mesmo tempo conjuga. E como se percebe, o que esta em questão aqui não é apenas a “Cruz da morte”, que se levanta no fim de nossos dias, mas também a “cruz da vida”, que se carrega “cada dia”(Lc 9,23), com todo seu peso(Mt 6,34).E também a “cruz política” da perseguição e do martírio. E é por fim, a “cruz antropológica” da doença, da velhice e da morte, condição que herda todo o ser humano. Mas toda cruz, desde que assumida livre e amorosamente na fé, torna-se caminho de libertação. A vida mesma é um longo parto. A dor é espada que separa o permanente do impermanente e o efêmero do eterno. Disso é emblema a Mulher das Dores, que se tornou a mulher da Glória.E, como o Ressuscitado carrega ainda os estigmas da paixão, assim também a Assunta traz as marcas de sua compaixão. O Apocalipse 12 descreve a cena contrastante da “Mulher Solar”, sofrendo as dores de parto. Efetivamente, há no céu lugar para a dor, enquanto expressão misteriosa do amor compassivo. O próprio papa João Paulo II, na Redemptoris Mater diz que, embora assumida na glória, Maria continua “radicada profundamente na historia da humanidade..participando nos múltiplos e complexos problemas que hoje acompanham a vida das pessoas, famílias e nações”(n.52,5).
A Via Crucis de Maria para a glória foi semelhante a via crucis da grande maioria dos pobres na história. A cruz da Virgem foi a cruz dos pobres e excluídos desse mundo: “cruz cotidiana” extremamente pesada, “cruz social” feita de exclusão e “cruz existencial” comum a todos os mortais.
Nossos povos se identificam particularmente com o Cristo sofredor.. (Aquele) “que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Muitos deles golpeados, ignorados despojados, não abaixam os braços. Com sua religiosidade característica se agarram no imenso amor que Deus tem por eles e que lhes recorda permanentemente sua própria dignidade. Também encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela vem refletida a mensagem essencial do Evangelho. Nossa Mãe querida, desde o santuário de Guadalupe, faz sentir a seus filhos menores que eles estão na dobra de seu manto. Agora, desde Aparecida, convida-os a lançar as redes ao mundo, para tirar do anonimato aqueles que estão submersos no esquecimento e aproximá-los da luz da fé. Ela, reunindo os filhos, integra nossos povos ao redor de Jesus Cristo.(DAp 265)
A Senhora das Dores é a “mulher livre e forte, emerge do Evangelho conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de Cristo. Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem que fosse livrada da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai. Alcançou, dessa forma, o fato de estar ao pé da cruz em uma comunhão profunda, para entrar plenamente no mistério da Aliança”.(DAp 266)
Com ela, providencialmente unida à plenitude dos tempos (Gl 4,4) chega o cumprimento da esperança dos pobres e do desejo de salvação. A Virgem de Nazaré teve uma missão única na história da salvação, concebendo, educando e acompanhando seu filho até seu sacrifício definitivo. Desde a cruz Jesus Cristo confiou a seus discípulos, representados por João, o dom da maternidade de Maria, que nasce diretamente da hora pascal de Cristo: “E desse momento em diante, o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19,27). Perseverando junto aos apóstolos à espera do Espírito (At 1,13-14), ela cooperou com o nascimento da Igreja missionária, imprimindo-lhe um selo mariano que a identifica profundamente. Como mãe de tantos, fortalece os vínculos fraternos entre todos, estimula a reconciliação e o perdão e ajuda os discípulos de Jesus Cristo a experimentarem como uma família, a família de Deus. Em Maria, encontramo-nos com Cristo, com o Pai e com o Espírito Santo, assim como com os irmãos. É ela quem brilha diante de nossos olhos como imagem acabada e fidelíssima do seguimento de Cristo(267-272). Com os olhos postos em seus filhos e em suas necessidades, como em Caná da Galiléia, Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. Cria comunhão e educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, em atenção e acolhida do outro, especialmente se é pobre ou necessitado. Em nossas comunidades, sua forte presença tem enriquecido e seguirá enriquecendo a dimensão materna da Igreja e sua atitude acolhedora, que a converte em “casa e escola da comunhão” e em espaço espiritual que prepara para a missão.
Fonte: Pascom
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