Domingo, 6 de setembro de 2009 - 22h31
Setembro, mês da Palavra, nos ajuda a aprofundar o amor pela Sagrada Escritura e a situar a centralidade da Palavra de Deus em nossas vidas, através das celebrações, reflexão e estudo da Bíblia.
A Bíblia continua sendo o livro mais impresso no mundo; está traduzida em 1435 línguas e dialetos; calcula-se que, por ano, sejam vendidos 20 milhões de exemplares.
Nascida pela Palavra de Deus, a Igreja encontra na Palavra a sua sustentação e a sua luz. Nela "está impregnada tanta eficácia e potência, capaz de ser sustento e vigor da Igreja, e para os filhos da Igreja a força de sua fé, o nutrimento da alma, a fonte pura e perene da vida espiritual” (Dei Verbum 25).
De fato, a Igreja confessa que é continuamente chamada e gerada pela Palavra de Deus. Por isso, para poder proclamá-la com amor e vigor, se coloca primeiro e constantemente “em religiosa escuta” da mesma, deixa-se interpelar e ser interiormente tocada por ela, acolhe-a com fé humilde e confiante, imitando Maria, que escuta e põe em prática a Palavra (Lc 1,38), e que, por isso, o Senhor constitui modelo da Igreja.
Nesta perspectiva de adesão à Palavra, a comunidade cristã encontra a Sagrada Escritura que se encontra no coração e nas mãos da Igreja como a “Carta que Deus enviou aos homens”, o livro de vida, objeto de profunda veneração, analogamente ao próprio Corpo de Cristo. Nela, a Igreja descobre qual é o plano que Deus tem para ela, para o mundo dos homens e das coisas. Por isso, “considera-a, juntamente com a Sagrada Tradição, como a regra suprema da sua fé”, proclama-a com vigor e encontra-a como “alimento da alma e fonte de vida espiritual”.
Da Igreja, o cristão recebe a Bíblia; com a Igreja faz sua leitura e partilha o seu espírito e objetivos, procurando, assim, a finalidade suprema de todo o encontro com a Palavra, como Jesus nos ensinou: o cumprimento da vontade de Deus com uma vida de fé, de esperança e caridade no seguimento do Mestre ( Lc 8,19-21).
Na conclusão do Sínodo dos Bispos em Roma, em outubro do ano passado, foi dirigida uma mensagem de ampla reflexão sobre a Palavra de Deus aos bispos e sacerdotes, aos generosos catequistas e a todos aqueles que se guiam na escuta e na leitura amorosa da Bíblia. Uma mensagem que nos ajuda no conhecimento e amor à Palavra de Deus mediante aos quatro pontos cardeais do horizonte que podem ser expressos pelas seguintes imagens:
Em primeiro lugar a VOZ de Deus. Essa ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma VOZ que penetra depois na história, ferida pelo pecado humano e revirada pela dor e pela morte. A história vê o Senhor caminhando com a humanidade para oferecer-lhe sua graça, aliança e salvação. É uma VOZ que depois desce às páginas das Sagradas Escrituras que agora lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi dado como luz da verdade à Igreja e a seus pastores.
Além disso, como escreve São João, “a Palavra se fez carne” (Jo 1,14). Eis que agora aparece a FACE. É Jesus Cristo, que é o Filho de Deus eterno e infinito, mas também homem mortal, ligado a uma época histórica, a um povo e a uma terra. Ele vive a existência penosa da humanidade até à morte, mas ressurge glorioso e vive para sempre. É ele que torna perfeito nosso encontro com a Palavra de Deus. É ele que nos revela o “sentido pleno” e unitário das Sagradas Escrituras pelo qual o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa, Jesus Cristo, revelador do Pai. É ele que nos faz entender que as Escrituras são “carne”, isto é, palavras humanas para serem compreendidas e estudadas no seu modo de se exprimir, mas que guardam no seu interior a luz da verdade divina que só com o Espírito Santo podemos viver e contemplar.
É o próprio Espírito de Deus que nos conduz ao terceiro ponto cardeal de nosso itinerário, a CASA da palavra divina, isto é a Igreja que, como sugere São Lucas (At 2,42), é sustentada por quatro colunas ideais: O “ensinamento”, que consiste na leitura e compreensão da Bíblia pelo anúncio feito a todos na catequese, na homilia, por meio de uma proclamação que envolva a mente e o coração. A “fração do pão”, isto é, a Eucaristia, fonte e cume da vida e da missão da Igreja. Como aconteceu naquele dia em Emaús, os fiéis são convidados a nutrir-se na liturgia à mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo. Uma terceira coluna é a “oração”, com “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Col 3,16). É a Liturgia das Horas, oração da Igreja destinada a ritmar os dias e os tempos do ano cristão. É a Lectio divina, a leitura orante das Sagradas Escrituras, capaz de conduzir na meditação, na oração e na contemplação ao encontro com Cristo, Palavra de Deus vivente. E, por fim, a “comunhão fraterna”, pois, para ser verdadeiro cristão, não basta ser como “aqueles que escutam a palavra de Deus”, mas é preciso ser como quem “a coloca em prática” no amor operoso (Lc 8,21).
Chegamos assim à última imagem do mapa espiritual. É a ESTRADA sobre a qual caminha a palavra de Deus: “Ide e fazei discípulos todos os povos, ensinando-os a observar o que vos mandei... O que ouvis ao ouvido, pregai sobre os terraços" (Mt 28,19-20; 10,27). A palavra de Deus deve correr pelas estadas do mundo que hoje são inclusive as da comunicação da informática, televisiva e virtual. A Bíblia deve entrar nas famílias, a fim de que os pais e os filhos a leiam, rezem com ela e seja para eles uma lâmpada para os passos no caminho da existência (cf. Sl 119,105). As Sagradas Escrituras devem entrar também nas escolas e nos ambientes culturais porque, por séculos, elas têm sido a referência capital da arte, da literatura, da música, do pensamento e da própria ética comum. Sua riqueza simbólica, poética e narrativa as torna um estandarte de beleza seja para a fé, seja para a própria cultura num mundo muitas vezes golpeado pela feiúra e pela imundice.
A Bíblia, porém, nos apresenta também o gemido de dor que sai da terra, vai ao encontro do grito dos oprimidos e ao lamento dos infelizes: “Vida em Primeiro Lugar:A força da transformação está na organização popular” assim se expressa o Grito dos Excluídos neste dia 7 de setembro, formando uma única corrente de ação nacional pela Campanha da Ficha-Limpa.
A Bíblia tem no vértice a cruz onde Cristo, só e abandonado, vive a tragédia do sofrimento mais atroz e a morte. Por causa dessa presença do Filho de Deus, a obscuridade do mal e da morte é iluminada pela luz pascal e pela esperança da glória. Ao longo da estrada do mundo, encontramos com freqüência homens e mulheres de outras religiões que escutam e praticam fielmente os ensinamentos de seus livros sagrados e que conosco podem construir um mundo de paz e de luz, porque Deus quer que “todos os seres humanos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4).
Nossas comunidades são convidadas neste mês da Bíblia a refletir a Carta de S. Paulo aos Filipenses, sob o tema: “alegria de servir no amor e na gratuidade”. É uma oportunidade para avaliarmos nossa vida cristã, pessoal e comunitária, à exemplo dos cristãos da comunidade de Filipos. A Cartilha de reflexão já está disponível em todas as paróquias.
Ao ler e escutar a Bíblia, que cada pessoa assuma esta responsabilidade de amor. Que cada família tenha a Bíblia em suas casas, leia e aprofunde, compreendendo plenamente suas páginas, transformando-a em prece e testemunho de vida, ouvindo-a com amor e fé na liturgia. Devemos criar silêncio para escutar com eficácia a Palavra do Senhor e conservar o silêncio depois de ouvi-la para que ela continue a habitar, a viver e a falar conosco. Que ela ressoe no início do dia para que Deus tenha a primeira palavra, e possa ecoar em nós ao cair da tarde para que a última palavra seja de Deus.
Fonte: Pascom
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