Quarta-feira, 5 de setembro de 2012 - 07h19
A Bíblia, desde sempre, faz parte da caminhada do povo de Deus. O Mês da Bíblia, criado em 1971 com a finalidade de instruir os fiéis sobre a Palavra de Deus e a difusão da Bíblia, também foi fundamental para aproximar a Bíblia do povo de Deus. Propondo um livro, ou parte dele, para ser estudado e refletido a cada ano, o Mês da Bíblia tem contribuído eficazmente para o crescimento da animação bíblica de toda pastoral.
A Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-catequética da CNBB, tendo em vista a formação dos fiéis, através do seguimento de Jesus, proposto nos quatro evangelhos, definiu que, no Mês da Bíblia dos próximos quatro anos (2012-2105), serão estudados os evangelhos de Marcos (2012), Lucas (2013) e Mateus (2014), conforme a sequência do Ano Litúrgico, completando com o estudo de João em 2015. Este itinerário fortalece a espiritualidade dos discípulos missionários e a proposta da Nova Evangelização do papa Bento XVI e nos coloca no coração do projeto Missão Continental, conforme nos pede a Conferência de Aparecida.
Neste mês de setembro, estamos aprofundando nas comunidades o evangelho de Marcos a partir do tema “Discípulos Missionários a partir do evangelho de Marcos” e do Lema “Coragem! Levanta-te, ele te chama!” (Mc 10,49).
O evangelista Marcos já nos alerta, no primeiro versículo, ou melhor, na primeira palavra do seu Evangelho que, se quisermos ser discípulos de Jesus e darmos aos homens a certeza de sua presença viva, é necessário retomarmos seu projeto, seguindo-o desde a Galileia até Jerusalém, através de nossa prática.
Marcos nos apresenta o Evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele tem certeza de que Jesus é uma Boa Notícia a toda a humanidade e esse fato não está isolado no tempo ou na história. Através de João Batista se faz a ligação entre a profecia em Israel e o tempo presente. O evangelho de Marcos é a primeira síntese da fé cristã e foi escrito a partir de uma pergunta: Quem é Jesus? Por isso os temas do caminho e do seguimento.
Mas, quem foi este evangelista? João Marcos (o primeiro nome é hebraico e o segundo romano) era primo de Barnabé (Cl 4,10), de família levita (At 4,36). Acompanhou o Apóstolo Paulo e Barnabé (At 12,25; 13,5) e depois se separou deles (At 13,13). Com Barnabé foi para Chipre (At 15,36-39). Mas na prisão de Paulo está com ele novamente (Cl 4,10), que o cita entre os “seus colaboradores” (Fm 14) e o Apóstolo pede sua ajuda antes de morrer (2Tm 4,11). Foi também companheiro de Pedro, que o chamava de “meu filho” (1Pd 5,13). Alguns afirmam que o Evangelho de Marcos é o resumo da Catequese de Pedro.
Leitura e escuta da Palavra de Deus
O estudo do tema central da última Assembleia Geral (50ª) resultou no documento da CNBB: “Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja” que trata da Palavra de Deus, à luz do documento Verbum Domini, e propõe uma ampla e verdadeira “animação bíblica da vida e da pastoral”, uma das cinco “urgências da ação evangelizadora” da Igreja.
No documento em referencia, a dimensão da leitura e da escuta da Palavra, vinculada à sua interpretação a ser realizada no seio da comunidade eclesial, pode e deve se tornar um caminho de encontro com o Senhor para um autêntico processo de compreensão do real sentido da existência (39).
Em outras palavras, o contato com a Palavra e a interpretação de seu significado não somente nos levam ao conhecimento do que o texto sagrado quer revelar, mas ao conhecimento de nós mesmos, de nossa existência e da realidade em que vivemos. Pela escuta da Palavra, recuperamos a verdade de nosso ser e entendemos que nos tornamos pessoas atentas aos sinais dos tempos e, portanto, realistas, somente quando reconhecemos que o fundamento de tudo o que existe é o Verbo de Deus (VD 10).
À luz dessa perspectiva, diante de uma sociedade em que se valorizam as experiências subjetivas, muitas vezes voltadas a projetos pessoais, egocêntricos e individualistas, é preciso criar ambientes que proporcionem uma experiência autêntica, definitiva e marcante de encontro com Aquele que dá sentido real à existência. Esses ambientes, por outro lado, somente poderão ser criados por aqueles que possuem uma familiaridade com o Senhor e com sua Palavra que, sensíveis aos anseios humanos pós-modernos, sabem que a resposta para suas aspirações mais profundas é Jesus Cristo (40).
Precisamos recordar que Deus não só fala ao ser humano, também o busca. “É uma busca que nasce no íntimo de Deus e tem o seu ponto culminante na Encarnação do Verbo”. Se Deus busca o ser humano, ele o faz por intermédio do Filho e por amor, pois deseja criar comunhão, a fim de que todos se tornem seus filhos por meio de seu único Filho. De nossa parte, não seríamos capazes de buscá-lo, “se ele mesmo não tivesse já vindo ao nosso encontro” (22).
A ponte que permite o encontro entre Deus que busca e o ser humano que se deixa encontrar é a fé. Fé que é uma adesão, não uma ideia; fé que é um ato simultaneamente pessoal e eclesial; fé que é encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida. É justamente por isso que ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.
É a dimensão do encontro que sintetiza, perfeitamente, o princípio da revelação do “Deus que fala” e “do ser humano que responde”.
Para aquele que crê, a leitura da Escritura é início de um êxodo de si mesmo para ir ao encontro do Outro. Esse itinerário, no entanto, somente é possível pela escuta. Escuta que é acolhida do Outro, que embora totalmente Outro,épresença que nos acompanha e nos guia, nos precede e nos origina, porque nos ama incondicionalmente. Da experiência de comunhão com o Outro nasce o desejo de partilhar o amor vivenciado com os outros, para também com eles criar comunhão (23-24).
Além dos ambientes propícios ao encontro com a Palavra, é preciso ainda atenção ao estudo bíblico. A dimensão do estudo, seja no que diz respeito à séria formação dos ministros ordenados, dos consagrados e das lideranças pastorais, deve ser motivada e impulsionada com iniciativas mais assertivas. De fato, como nos recorda S. Jerônimo: “A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”. Se não o conhecemos, como haveremos de anunciá-lo? Daí decorre que a catequese, como iniciação à vida cristã, encontra, no estudo e na meditação das Sagradas Escrituras, o lugar privilegiado para formar discípulos e discípulas de Jesus Cristo (41). Ela “será tanto mais rica e eficaz quanto mais ler os textos [bíblicos] com a inteligência e o coração da Igreja” (VD 74).
Por outro lado, a dimensão do estudo do texto e a busca de sua interpretação, em um primeiro momento segundo o sentido literal, nos ajudam a recuperar contexto histórico como “espelho” de uma época, de uma história e de uma cultura, ainda que as transcenda e seja perfeitamente atual. S. Tomás de Aquino afirma: “Todos os sentidos da Sagrada Escritura se fundamentam no literal”. Além disso, a busca de uma leitura, primeiramente literal, nos preserva de aproximações fundamentalistas ou ideológicas.
O fundamentalista lê a Escritura ao pé da letra. Ele identifica a letra com a Palavra, materializando a letra e aprisionando a Palavra que, como nos ensina S. Paulo, “não está acorrentada” (2Tm 2,9). Ele não percebe o que o apóstolo já advertia: “a letra mata, o Espírito é que dá a vida” (2Cor 3,6).
Atualizar não significa manipular os textos, pois “não se trata de projetar sobre os escritos bíblicos opiniões ou ideologias novas, mas de procurar sinceramente a luz que eles contêm para o tempo presente”.
Não é o discípulo missionário que indica à Palavra o que ela deve dizer. Antes, o discípulo missionário é um ouvinte da Palavra (Is 50,5). Ele a acolhe na gratuidade e na alteridade, deixando-se apaixonadamente interpelar (42-45).
Sem o silêncio não é possível a verdadeira escuta, entendida, aqui, não somente como acolhida da Palavra, mas, sobretudo, enquanto comunhão com Aquele que é a Palavra. Infelizmente, vivemos um “tempo de muitas falas, muitos ruídos, muito barulho, incertezas e crises de referências” (DGAE 48).
A compreensão do sentido do texto em sua totalidade, sem fundamentalismos ou ideologias, fruto do encontro com a Palavra de Deus, marcado pela escuta e pelo silêncio, gera naturalmente o desejo de que o gosto do encontro com o Senhor se prolongue na oração e numa profunda mudança de vida.
Fonte: Arquidiocese
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