Domingo, 29 de novembro de 2015 - 07h51
A nossa época está enfrentando um desafio único. Nunca antes, durante a longa história do nosso planeta, os homens e as mulheres se encontraram a ponto de tornar possível a destruição do próprio ambiente e da própria espécie. Esta afirmação do patriarca Bartolomeu, arcebispo de Constantinopla na Cúpula das Consciências, realizada em julho deste ano, na sede do Conselho Econômico, Social e Ambiental francês, além do apelo às consciências para o clima, é uma chamada de atenção para a 21ª Conferência do Clima que esta começando em Paris.
Papa Francisco, ao discursar na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, em setembro deste ano, diante de mais de 170 chefes de Estado, concluiu seu pronunciamento com as palavras de Paulo VI na Assembleia da ONU de 1965: Eis chegada a hora em que se impõe uma pausa, um momento de recolhimento, de reflexão, quase de oração: pensar de novo na nossa casa comum, na nossa história, no nosso destino comum.
Casa comum que, para o papa, deve continuar a erguer-se sobre uma reta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher; dos pobres, idosos, crianças, doentes, nascituros, desempregados, abandonados, daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como números. E o apelo em vista do futuro: O tempo presente convida-nos a privilegiar ações que possam gerar novos dinamismos na sociedade e frutifiquem em acontecimentos históricos importantes e positivos (EG 223). Não podemos permitir-nos o adiamento de algumas agendas para o futuro. O futuro exige-nos decisões críticas e globais face aos conflitos mundiais que aumentam o número dos excluídos e necessitados.
A 21ª Conferência do Clima de Paris tem como principal objetivo efetivar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e em consequência limitar o aumento da temperatura global em 2ºC até 2100. Os atentados em Paris (13/11) mudaram o cenário político, alterando a programação da COP21, que contará com delegações de 195 países e medidas reforçadas de segurança.
A grave crise do meio ambiente, que o mundo enfrenta, exige uma sensibilidade ainda maior pela relação entre os seres humanos e a natureza, disse o papa em Nairobi, Quênia. Temos a responsabilidade de transmitir a beleza da natureza, na sua integridade, às gerações futuras e a obrigação de exercer uma justa administração dos dons que recebemos.
No momento em que, pela primeira vez na história, nesse ano de 2015, a riqueza de 1% da população mundial alcançou a metade da riqueza mundial (valor total dos ativos); que a gestão recessiva da crise, com políticas de austeridade e privatizações, torna os ricos mais ricos tanto em termos absolutos como relativos e os pobres ficam relativamente mais pobres (CBJP), a Encíclica Laudato Si, ao tratar do principio do bem comum e da justiça intergeneracional, reflete que o bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral (n.157).
O bem comum requer a paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem, que não se realiza sem uma atenção particular à justiça distributiva, cuja violação gera sempre violência. Toda a sociedade e, nela, especialmente o Estado, tem obrigação de defender e promover o bem comum. Nas condições atuais da sociedade mundial, onde há tantas desigualdades e são cada vez mais numerosas as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais, o princípio do bem comum torna-se imediatamente, como consequência lógica e inevitável, um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres (n.158).
A noção de bem comum engloba também as gerações futuras. Já não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem solidariedade (159). As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia (161). A falta de capacidade para pensar seriamente nas futuras gerações está ligada com a nossa incapacidade de alargar o horizonte das nossas preocupações e pensar naqueles que permanecem excluídos do desenvolvimento. Não percamos tempo a imaginar os pobres do futuro, é suficiente que recordemos os pobres de hoje, que poucos anos têm para viver nesta terra e não podem continuar a esperar (162).
Para o jesuíta Jon Sobrino, a opção pelos pobres não significa apenas amar os pobres, mas também defendê-los de quem lhes faz mal, defendê-los de quem os empobrece (Adista, n.41).
A liturgia deste 1º domingo do Advento projeta-nos para o final dos tempos e suscita em nós a esperança da justiça de Deus que vai chegar. Os anseios do povo coincidem profundamente com o plano divino: a paz que é fruto da justiça. O povo quer governantes legítimos, dos quais possa cobrar seus direitos e justiça (VP).
O profeta Jeremias, preso pelo exército da Babilônia, proclama, em nome de Deus, a chegada de um tempo novo, no qual Deus “cura as feridas” de seu povo e oferece “abundância de paz e segurança”. Aponta um dos compromissos deste Advento: trabalhar para construir uma sociedade justa. Justiça não significa simplesmente aplicar as leis da sociedade, pois essas nem sempre são justas. Na Bíblia, justo é o que é bom, conforme a vontade de Deus. A justiça é a vitória do projeto de Deus (Konings). A prática da justiça passa pela organização da comunidade, pela reivindicação dos direitos dos empobrecidos e marginalizados, pela mobilização de todos (Jr 33,14-16).
O evangelho de hoje faz parte do gênero apocalítico, que muitas vezes é confundido com o escatológico (Lc 21,25-28.34-36). A escatologia diz respeito ao que vem no fim. Na perspectiva cristã, o fim é o cumprimento, o coroamento da obra de Deus. Apocalipse significa revelação. Revelação do sentido dos acontecimentos; trata-se da história lida com os olhos da fé (M.Domergue).
Todo o capítulo 21 de Lucas é uma linguagem para tempos difíceis, cuja finalidade é animar nossas comunidades para a denúncia profética e para a resistência diante de tudo o que se opõe ao projeto de Deus. É aqui, em nossa história cheia de conflitos, que somos chamados a levantar a cabeça e ficar de pé, pois nossa libertação está próxima, ou seja, está em curso, uma vez que o Cristo, tendo vencido as forças da morte, está vivo e virá para nos salvar definitivamente (VP).
Este é o momento de escutar a chamada que Jesus nos faz: “levantai-vos”: animai-vos uns aos outros. “Erguei a cabeça” com confiança: não olheis o futuro apenas a partir dos vossos cálculos e previsões. “Aproxima-se a vossa libertação”: um dia já não vivereis encurvados, oprimidos nem tentados pelo desalento. Jesus Cristo é o vosso Libertador: não vos acostumeis a viver com um coração insensível e endurecido. “Estejam sempre despertos”: despertem a fé nas vossas comunidades; não sejam comunidades adormecidas (Pagola).
Para a comunidade de Tessalônica, que aderiu ao evangelho com grande alegria, seus membros passaram a viver o ideal de comunhão e solidariedade fraterna própria de quem abraça a novidade do projeto de Deus, afastando-se do modo de viver da sociedade daquele tempo, que discriminava e marginalizava pessoas. Nessa comunidade, o amor e a solidariedade eram as normas que regiam o relacionamento entre as pessoas, não viviam o amor em circuito fechado, pois é próprio do amor expandir-se dentro e também fora da comunidade (1Ts 3,12–4,2).
São Paulo nos ensina que o caminho do cristão não consiste numa perfeição alcançada, mas numa contínua conversão para a santidade de Deus, que é sempre maior do que nós. O homem e a sociedade sempre podem ser renovados, essa é a dinâmica do crescimento cristão, rumo ao reencontro definitivo com Cristo.
Bendito o que vem em nome do Senhor! Nossas comunidades preparam-se com orações, para receber seu pastor, Dom Roque Paloschi, “fundamento e sinal de comunhão na Igreja Particular” de Porto Velho (13/12). Ao Espírito Santo pedimos para dom Roque “a fortaleza”, a fim de nos “confirmar na fé viva”, no seguimento de Cristo e na missão.
Estamos em plena Campanha da Evangelização, cuja Coleta em prol da ação evangelizadora da Igreja vai acontecer no dia 13 de dezembro. Preparando-nos para a abertura do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (8/12), acolhamos os sinais de um novo Advento com uma “consciência amorosa de que não estamos separados das outras criaturas, mas formamos com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal” (Laudato Si 220).
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