Quinta-feira, 23 de agosto de 2012 - 21h09
A transferência da festa da Assunção de Nossa Senhora (15/08) para o domingo permite uma reflexão maior sobre os sinais que iluminam a nossa vida cristã.
A Cruz da Jornada Mundial da Juventude, peregrinando pelas ruas de nossa cidade, é o sinal perene do crente, do qual jamais se deve afastar o olhar. “Vede! Ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, como também aqueles que o traspassaram. Todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele” (Ap 1,7).
O drama da cruz é um espetáculo que converte. As multidões acorrem, olham, compreendem e “batem no peito”. O espetáculo da cruz provoca uma reviravolta na vida. Contemplando-o, compreendemos que a nossa vida deve assemelhar-se à vida daquele crucificado que, rejeitado, ama e perdoa, e não rompe a solidariedade com quem o rejeita; compreendemos que o caminho da vida não pode ser outra coisa a não ser seguimento e doação.
E o que nos quer dizer Deus com a Assunção de Maria em corpo e alma no céu? Que Aquela que reina gloriosa foi a Mulher das Dores. Que o caminho para a Glória é o caminho para a Cruz. Como a Ressurreição é a reabilitação do Crucificado, assim, a Assunção é a exaltação d’Aquela que antes esteve “aos pés da Cruz” (Jo 19,25). Assim, a Cruz, de símbolo do sofrimento, transformou-se em escada para a glória.
Quando Clodovis Boff, confrade da Ordem dos Servos de Maria, aprofunda o significado da Virgem Maria para a sociedade, em “Mariologia Social” (Editora Paulus), ele responde à pergunta acima, dizendo que a potencia da ressurreição de Jesus (Fl 3,10) está em ação no mundo e já dando os primeiros frutos.
A Ressurreição do Filho puxa a da Mãe. A Assunta é o fruto mais excelente da vitória pascal de Cristo. Ela é a seguidora imediata de Jesus na Glória, a “primeira depois do Único” em seu Reino. Com ela o fiel pode gritar com mais força: “Ó morte, onde está a tua vitória?” (1Cor 15,54). Dessa maneira, a morte sofreu duas derrotas sucessivas: a Ressurreição de Cristo e, depois e em virtude desta, a Assunção de Maria. Como a Maternidade de Maria garante a Encarnação de Jesus na história, assim também a Assunção da Virgem garante a ressurreição da carne de Jesus e a redenção de nosso corpo.
O dogma da Assunção foi proclamado através da Bula Munificentíssimus Deus, no dia 1º de novembro de 1950, pelo papa Pio XII, valorizando a vida e, através do mistério mariano, revelando a grandeza da vida humana enquanto destinada a se perpetuar na glória.
De fato, o contexto social em que se deu a solene declaração foi o contexto pós-bélico. O período de 31 anos de conflito global, que incluiu as duas guerras mundiais (1914-1945) e que foi provavelmente o mais sangrento de toda a história humana, tinha terminado havia apenas cinco anos (E.Hobsbawn).
Quatro sentidos sociais se depreendem do dogma da Assunção: o imenso valor da vida humana, destinada a participar, como Maria Assunta, da vida eterna de Deus; a dignidade do corpo humano e ainda do corpo das realizações históricas e da matéria em geral; a grandeza que ganham os pobres e as mulheres à luz d’Aquela que foi exaltada, por ter sido precisamente pobre e mulher. E, por fim, a força particular que tem para as lutas sociais a esperança cristã enquanto confirmada pela Assunção da Virgem.
Como Mãe, Maria revela uma capacidade privilegiada de reunir a ecumênica família dos “filhos de Deus dispersos” (Jo 11,52). Ela, de fato representa a Mãe grávida do Messias Salvador; a Virgem livre e intocada, totalmente consagrada a Deus e a sua vontade; a Imaculada repleta de graça e santidade, vencedora do pecado; e finalmente a Assunta exaltada e coroada, vitoriosa sobre a morte.
Os quatro dogmas marianos atingem a todos os fiéis, mobilizando os católicos em massa, pois são sinais expressivos do mistério da salvação do Pai pelo Cristo no Espirito Santo.
A Maternidade divina fala do mistério da Encarnação do Filho de Deus e Filho do Homem. A Virgindade fala da potencia de Deus, que cria uma nova humanidade por obra do Espirito Santo. A Imaculada Conceição fala da primazia da Graça de Cristo e da supervitória de sua Redenção. Enfim, a Assunção ao Céu fala da ressurreição como glorificação final e total da humanidade e da criação pelo poder da Santíssima Trindade.
Atrás das figuras marianas que os dogmas apresentam, contemplamos o Mistério: a figura da Mãe com o Menino representa a Maternidade, o dogma mariológico nuclear, testemunha da Encarnação redentora. A da Virgem Orante representa Maria na atitude de total entrega a Deus e de plena disponibilidade a sua Palavra. O Mistério da Imaculada representa o momento inicial de sua vida, a da criatura que foi, desde sempre “cheia de graça”. E a imagem da Virgem coroada nos remete ao momento final de seu destino: a plenitude do Reino.
Na contemplação do Mistério, percebemos que assim como o Ressuscitado carrega ainda os estigmas da paixão, assim Maria, assunta ao céu, traz as marcas de sua compaixão. O Apocalipse 12 descreve a cena contrastante da “Mulher solar”, sofrendo as dores do parto.
A via crucis de Maria para a glória foi semelhante a via crucis da grande maioria dos pobres na história. A cruz da Virgem foi a cruz dos pobres e excluídos deste mundo: cruz cotidiana extremamente pesada, cruz social feita de exclusão e cruz existencial comum a todos os mortais.
Deus assumiu em sua Glória uma serva e não alguém da realeza. Assunção é a entronização dos humilhados. Maria já o tinha profetizado no seu cântico com as palavras “Ele olhou para a humilhação de sua serva.. exaltou os humildes” (Lc 1, 39-56). A liturgia da Assunção mostra no Evangelho da Visitação, a solicitude de Maria em favor de sua prima grávida e indica que o caminho para a glória se encontra no serviço generoso aos irmãos e irmãs.
Maria é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários. São incontáveis as comunidades que encontraram nela a inspiração mais próxima para aprender como serem discípulos e missionários de Jesus. Com alegria constatamos que ela tem feito parte do caminhar de cada um de nossos povos, entrando profundamente no tecido de sua história e acolhendo as ações mais nobres e significativas de sua gente (DAp 269).
Sua figura de mulher livre e forte emerge do Evangelho, conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de Cristo. Ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem que fosse livrada da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai. Alcançou, dessa forma, o fato de estar ao pé da cruz em uma comunhão profunda, para entrar plenamente no mistério da Aliança (DAp 266).
Maria Santíssima é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra (DAp 270).
N’Ela vemos o mundo renovado no amor. Contemplando-A elevada ao Céu em corpo e alma, vemos um pedaço do “novo céu e da nova terra” que se hão de abrir diante dos nossos olhos..(J.P.II, EE 62).
Fonte: Arquidiocese
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