Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Sociedade inclusiva e desafios à fé!



Estamos encerrando setembro com a celebração do dia da Bíblia. Em sua missão evangelizadora, a Igreja, “alimentada pela Palavra de Deus”, não comunica a si mesma, mas o Evangelho, a palavra e a presença transformadora de Jesus Cristo, na realidade em que se encontra (CNBB, doc 102,4).

As Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja têm como Objetivo geral para o período 2015-2019: Evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo.

São Jeronimo, no Prólogo ao Comentário sobre o Livro do Profeta Isaías afirma que “ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”. Deus se dá a conhecer no diálogo que estabelece conosco. “Quem conhece a Palavra divina conhece plenamente também o significado de cada criatura” (DV 15; VD 6;10).

Somos chamados a redescobrir o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo; a acolher e viver a Palavra de Deus em comunhão com a Igreja. Palavra que é luz para a vida (Sl 119). Nossas comunidades paroquiais e as comunidades eclesiais de base, espalhadas na periferia das cidades e áreas ribeirinhas e rurais “se nutrem dominicalmente da Palavra de Deus”; quanta riqueza evangelizadora acontece nos Grupos de Reflexão, Círculos Bíblicos e outros similares.

Bombardeados a todo o momento por questões que desafiam a nossa fé, a ética e a esperança, precisamos estar familiarizados com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra e, mesmo pressionados, mas não abalados (At 2,25; 2Cor 4,8-9), devemos continuar solidamente firmados em Cristo Jesus.

Ouvida e celebrada na comunhão com os irmãos, a Palavra de Deus gera solidariedade, justiça, reconciliação, paz e defesa de toda a criação (doc 102,49-53), pois, “toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2Tm 3,16).

A liturgia de hoje convoca-nos a unir forças com todos os homens e mulheres, de diferentes religiões e até com aqueles que dizem não ter religião, mas que querem trabalhar pelo bem do ser humano, pela transformação do mundo (IHU). Deus nos concede seus dons com liberalidade para o bem de todos; dons que não podem ser privatizados ou restritos a determinadas pessoas ou instituições. Cada pessoa que os recebe deve pô-los a serviço da vida (VP).

O evangelho de Marcos (Mc 9,38-43.45.47-48) trata da atitude inclusiva de Jesus que quer a salvação de Deus para todos, mesmo que ela chegue “por meio de pessoas que não pertencem ao grupo: quem não está contra nós, está a nosso favor” (Pagola). O testemunho do evangelho pode existir fora da comunidade cristã e devemos alegrar-nos por causa disso. Não se pode fazer uso do nome de Deus ou da religião para satisfazer interesses pessoais ou disputas de poder. A missão de promover a vida digna de todos constitui serviço abnegado e não uma forma de projeção ou exploração do sentimento religioso dos pequeninos.

O apostolo Tiago, com palavras duras e contundentes, denuncia a situação social em que os pobres estão sendo oprimidos (Tg 5,1-6). Percebe-se que os ricos são grandes proprietários de terras que se aproveitam da mão de obra dos pobres trabalhadores, pagando (ou retendo) um salário irrisório e reduzindo-os à condição de escravos. A riqueza acumulada nas mãos desses senhores, fruto do suor e do sangue dos oprimidos, tornar-se-á motivo de sua própria condenação e será usada como testemunha contra os seus donos, pois o grito dos injustiçados sempre é acolhido por Deus, que é justo e verdadeiro.

No livro de Números (Nm 11,25-29) o episódio de efusão do Espírito de Deus não somente sobre Moisés, o grande líder do êxodo, mas também sobre muitas outras pessoas, que começaram a profetizar. Diante disso, houve gente que tentou impedi-las. O que importa é que os dons de Deus, distribuídos conforme a sua vontade, sejam administrados para o bem de todos. Os dons divinos não obedecem aos interesses de instituições oficiais. A sociedade nova é construída com a participação do povo.

“Evangelizar é, em primeiro lugar, dar testemunho” (EN 26). Assim, Santa Teresinha e São Francisco, cujas festas estão próximas; assim papa Francisco, o missionário da misericórdia, que tem sido testemunha e promotor da paz e da esperança, e como verdadeiro pontífice, tem feito a ponte do diálogo e da reconciliação entre os diversos povos e culturas.

Em sua 10ª viagem apostólica internacional, Cuba foi uma viagem pastoral (19-22/09), na qual, o papa animou a Igreja “a continuar encorajando o povo cubano nas suas esperanças e preocupações, com liberdade e todos os meios necessários para levar o anúncio do Reino até às periferias existenciais da sociedade”. Ao povo falou de sua “vocação natural” de “ser ponto de encontro para que todos os povos se reúnam na amizade, como sonhou José Martí, mais além da língua e da barreira dos mares”. Aos políticos, pediu para prosseguirem no caminho da reconciliação, desenvolvendo “todas as suas potencialidades, como prova do alto serviço que são chamados a prestar em favor da paz e do bem-estar dos seus povos e de toda a América, e como exemplo de reconciliação ao mundo inteiro, nesta atmosfera de III Guerra Mundial por etapas que estamos a viver”.

A viagem do papa aos Estados Unidos, que se encerra hoje, teve por objetivo o encontro com as famílias no 8º Encontro Mundial das Famílias da Filadélfia (22-27/09) e com os 70 milhões de católicos da nação. A estes o papa Francisco reiterou a construção de uma sociedade tolerante e inclusiva, “na defesa dos direitos dos indivíduos e das comunidades, e rejeitando qualquer forma de discriminação injusta”, afirmando ainda que “a liberdade religiosa permanece como uma das conquistas mais valiosas da América”.
À sociedade americana pediu: “Almejo que todos os homens e mulheres de boa vontade desta grande e próspera nação apoiem os esforços da comunidade internacional para proteger os mais vulneráveis no nosso mundo e promover modelos integrais e inclusivos de desenvolvimento, de modo que, em todo o lado, os nossos irmãos e irmãs possam conhecer as bênçãos da paz e da prosperidade que Deus deseja para todos os seus filhos”.

No Congresso dos Estados Unidos, em Washington e por representarem a nação, o pronunciamento do Papa aos políticos constituiu um diálogo com todo o povo dos Estados Unidos, citando o testemunho de quatro personalidades que marcaram a história do país: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton. Pediu o fim da pena de morte: Se queremos segurança, demos segurança; se queremos vida, demos vida; se queremos oportunidades, providenciemos oportunidades. A medida que usarmos para os outros será a medida que o tempo usará para conosco. Meus irmãos bispos aqui nos Estados Unidos renovaram o seu apelo pela abolição da pena de morte. Não só os apoio, mas encorajo também todos aqueles que estão convencidos de que uma punição justa e necessária nunca deve excluir a dimensão da esperança e o objetivo da reabilitação.

Já em Nova Iorque, diante de mais de 170 chefes de Estado, o Papa discursou na sede das Nações Unidas, inspirando-se nas reflexões da Encíclica Laudato si, reforçando dois direitos: o direito à existência da natureza e os direitos da pessoa humana. Ao tratar da exclusão econômica e social como uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente, recordou que os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques: são descartados pela sociedade, obrigados a viver de desperdícios e sofrer injustamente as consequências do abuso do ambiente.

O Papa renovou seu apelo por uma solução pacífica dos conflitos na Síria, Ucrânia, Iraque, Líbia, Sudão do Sul e outros locais: “Antes dos interesses de cada parte, existem rostos concretos; nas guerras existem pessoas, irmãos que choram, sofrem e morrem; seres humanos que se tornam material de descarte”.

Na 8ª edição do Encontro Mundial das Famílias, com 15 mil delegados de 150 nações e milhares de voluntários, as palestras, testemunhos, celebrações e festival, tiveram como temas o Sínodo da Família (4-25/10). Desde a sua criação pelo papa João Paulo II, em 1994, o EMF tem procurado reforçar os laços sagrados da família em todo o mundo. É realizado a cada três anos; os anteriores aconteceram em Roma, Rio do Janeiro, Manila, Valência, México e Milão.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)