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Dom Moacyr

Trindade e Corpus Christi


Neste domingo dedicado à Santíssima Trindade, somos convidados a contemplar esse mistério insondável de nossa fé e a entrar na comunhão de vida com Deus Trino e Uno para assumirmos, com alegria e renovada coragem, a missão de construir comunhão ao nosso redor. Tudo o que temos e somos é obra amorosa deste Deus, Pai, Filho, Espírito Santo que nos é revelado como um Mistério de profunda comunhão. “O projeto salvífico de Deus se realiza na humanidade através de um Povo, o Povo de Deus, com a missão de ser luz para as nações”(Doc.87,47)
 
Como membros da Igreja, somos chamados a viver e a transmitir a comunhão com a Trindade, antecipando a comunhão perfeita e definitiva com Deus e com as pessoas, convidando outros a participarem desta comunhão. De fato, a Igreja evangeliza como comunidade de amor que atrai na medida em que seus membros vivem o amor fraterno e interpelam assim os demais a participar da aventura da fé. Então ela poderá ser reconhecida como seguidora de Cristo e servidora da humanidade. Deste modo, a comunhão e a missão estão profundamente unidas entre si.. A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão (Doc CNBB 87,47-49).
 
 A Igreja, como comunidade de amor, é chamada a refletir a glória do amor de Deus (DAp 159), pois tal comunhão acontece na Trindade. “Os discípulos de Jesus são chamados a viver em comunhão com o Pai” (Jo 1,3) e com seu Filho morto e ressuscitado, na comunhão do Espírito Santo (1Cor 13,13. DAp 155).
    
Formamos comunidade com a Trindade, pois o amor é a essência da vida de Deus e das pessoas. O Pai ama o Filho, comunicando-lhe o Espírito Santo. Jesus nos ama, infundindo-nos seu Espírito e tornando-nos seus amigos e companheiros de luta na implantação do projeto de vida. Assim esse amor trinitário transborda, como uma fonte, nas relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e na missão do Filho (encarnação) e do Espírito Santo (doação). Jesus, o Enviado do Pai, coloca os discípulos na linhagem da “Missão de Deus”: “Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17,18). Associado ao mistério da Trindade está à presença permanente de Jesus na Eucaristia, a comunhão que transforma a nossa vida, e a intercessão permanente de Maria que participa neste mistério através da Encarnação.
 
Festa do Corpo de Deus
 
A igreja escolheu, há muitos séculos, a quinta-feira depois da festa da Santíssima Trindade como dia consagrado a especial veneração pública da Eucaristia: o dia do Corpus Domini, o maior dos sacramentos, que sintetiza todos os outros, e nos recorda a entrega de Cristo, que por amor deu sua vida para a salvação da humanidade.
 
Este amor que é simbolizado pelo seu coração humano, nós vamos recordar na semana seguinte, dia 11 de junho, com a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Padroeiro da Catedral de Porto Velho.
 
Na Quinta-feira de Corpus Christi recordamos a Quinta-Feira Santa, antes da Páscoa, na qual os apóstolos foram participantes da Ultima Ceia, isto é, da instituição deste Sacramento, que sempre na Igreja foi considerado como o mais Santo: o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor. O Sacramento da Páscoa Divina. O Sacramento da Morte e da Ressurreição. O Sacramento do Amor, que é mais poderoso que a morte. O sacramento do sacrifício e do banquete da redenção. O Sacramento da comunhão das almas com Cristo no Espírito Santo. O Sacramento da fé da Igreja peregrina e da esperança da união eterna. O alimento das almas. O Sacramento do pão e do vinho, das espécies mais pobres, que se tornam o nosso tesouro e a nossa maior riqueza. “Eis o pão dos anjos, feito pão dos peregrinos”(Seqüência), “não como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; o que come deste pão vive eternamente” (Jo 6,58.P.J.Paulo II).
    
Felizes as Comunidades que se reúnem como uma grande família, cujo centro é Jesus Cristo na sua Palavra e Eucaristia. Dom Luciano M. de Almeida por ocasião do 13º Congresso Eucarístico Nacional, falou sobre a “Eucaristia, centro da comunidade eclesial”. Quem é o centro da comunidade eclesial? É Jesus Cristo. Jesus Cristo que se encarnou, nasceu, viveu como nós, fez a opção preferencial pelos que sofriam mais, pregou na sua vida o evangelho do Reino e deu o grande sinal do amor maior, entregando-se na cruz por nós. Mas não se poupou: ele anunciou, predisse e cumpriu. Ressuscitou ao terceiro dia e, hoje, está na glória do Pai, e está, também, presente entre nós. “O Senhor esteja convosco”.
 
Eucaristia, centro da comunidade eclesial.
 
É esta presença que queremos pela fé, perceber. Jesus Cristo está presente, Ele ressuscitou e intercede por nós na glória do Pai e nos leva, assim, para o céu no seu coração. Nós estamos presentes a Ele. Mas, Ele se faz presente, também, pela palavra e pelos sacramentos. Quem de nós, abrindo o evangelho não percebe a presença do Cristo que, ainda hoje, fala a nós, quando cura os doentes, faz ver o cego, e livra-nos do mal. Jesus Cristo está presente, quando nos reanima e nos faz capazes do perdão, e da doação.
 
A palavra lida e meditada em comunidade é presença do Cristo. Ele anunciou que estando na glória do Pai, permaneceria conosco. Permanece sempre, porque é o Verbo Encarnado. Permanece como Senhor e cabeça da Igreja. Tudo o que a Igreja faz, faz sob ação do Espírito que Jesus Cristo infunde a todo momento na sua Igreja. Essa presença, nós aprendemos a reconhecê-la no rosto de cada irmão, de cada irmã, com os quais Cristo se identifica. Ele está presente na vida de cada um de nós e de nossos irmãos.

Mas há uma presença que só a fé nos faz, realmente, perceber, é a presença sob a aparência humilde do pão e do vinho em que o Cristo quis se revelar presente todo Ele, corpo, sangue, alma e divindade para a vida do mundo, para a nossa vida. O centro da nossa vida é Cristo presente na história, Cristo presente na glória, mas Cristo, também, que se faz por nós “sacerdote, altar e oferta”, transformando-se em alimento para a vida do mundo. Cristo alimento. Cristo, pão partido é aquele que consideramos pela vontade do próprio Cristo, como centro da comunidade e da Igreja.
 
Quem de nós, vendo o pão não se lembra do grande momento da consagração? E quem de nós presente pela consagração não vive, na fé, esta presença maravilhosa do Cristo? “Isto é meu corpo entregue por vós”. O Pão consagrado, o Pão partido, é o centro para o qual converge a nossa fé, a fé que atinge o nosso íntimo e marca toda nossa vida.
 
Jesus Cristo é o centro da nossa vida, morto e ressuscitado, presente entre nós. Esta presença, nós a podemos sentir, quando celebramos a Eucaristia, sabendo que neste momento esta presença em tantos lugares do mundo, é centro de nossas comunidades, Cristo vivo na glória do Pai, infundindo o seu Espírito e a vida em cada um de nós e em toda a Igreja.
 
Certa vez fomos questionados pelo Cardeal Serafim F.Araujo: “será que estamos, não nos esquecendo, mas apenas deixando um pouco de lado a grande verdade de que a finalidade da eucaristia é construir o Corpo Eclesial que somos nós a Igreja”? Percebemos, então, que é na Eucaristia que nos sentimos, realmente, comunidade unida como diz S.Paulo: “Nós que participamos do mesmo pão, formamos um só corpo” (1Cor 10,17). Vivendo cada um de Cristo, vivemos unidos entre nós. Esta é a grande graça, o milagre da Eucaristia que se faz assim centro de nossa união, na comunidade e leva-nos ao compromisso com operosidade fraterna, ao encontro de alguma das muitas pobrezas de nossas cidades.

Fonte: Pascom

 

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