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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Um coração pascal e uma nova vida!



Nesta Páscoa Deus nos convida a sermos fonte de bênção para o nosso povo da Amazônia e para todos os povos da terra. A palavra “vida” esteve sempre presente durante esta quaresma. Trata-se da vida que temos agora, mas ela não está desligada da vida que é Jesus. Realiza-se assim também para nós a promessa que Deus fez para Abraão: “Eu faço de ti uma bênção! Por tua causa serão abençoados todos os povos da terra!”  

Celebrar o tempo pascal é festejar, aqui e agora, a ressurreição de Jesus como uma nova vida para as pessoas, comunidades e toda a humanidade. É vibrar intensamente com a ressurreição de Jesus, revestidos de sua vitória sobre a morte, lembrando todos os dias: “Ele não está aqui, ressuscitou” (Mc 16,6), e alegrando-nos com a sua saudação: ”A paz esteja convosco! Não tenhais medo, sou eu!” (Lc 24,36-37) e como os discípulos de Emaús, reconhecendo o Ressuscitado presente na caminhada, nos pequenos e simples gestos, na escuta da palavra de Deus, no repartir os alimentos e nas celebrações da comunidade (Lc 24,13-35).

O dia de páscoa celebra a ressurreição de Cristo. Nisto está toda sua força, e toda sua importância.  Sem a ressurreição de Cristo, não teria havido história de Cristo, nem teria existido história do cristianismo. Se tudo tivesse terminado na cruz, a morte de Cristo teria sido esquecida.

Na Páscoa vivemos o mistério da redenção, da morte e ressurreição em Cristo, o mistério da novidade de vida em Cristo Ressuscitado. Será necessário que a semente lançada à terra da Páscoa, quando renovamos nossa consagração batismal, e fecundada pelo dom do Espírito, germine, desabroche, nasça, cresça e dê muito fruto. Toda força de nossa vida espiritual encontra-se no mistério pascal, que inclui a Páscoa e o Pentecostes. A Páscoa da libertação e da Aliança, revivida semanalmente no dia do Senhor, o Domingo, deverá impulsionar o crescimento de nossa vida espiritual, na caminhada ao encontro do Senhor.

Após acompanharmos o Cristo Senhor nos mistérios de sua vida pública na Quaresma e seus passos na Semana Santa, no Mistério da Paixão e Morte, importa viver em atitude de páscoa, ter "um coração pascal" e ser esperança, pois Cristo venceu a morte. É a nova vida que nasce em nós e que crescerá até a plenitude, quando passarmos do tempo para a eternidade.

Se refletirmos bem, toda a vida humana possui estrutura pascal. Toda ela é feita de crises que significam passagens e processos de amadurecimento. Tomando o tempo como referência, verifica-se uma passagem da meninice à juventude, desta à idade adulta, da idade adulta à terceira idade, da velhice para a morte, da morte para a ressurreição e da ressurreição para o inefável mergulho no reino da Trindade.

Em meio a tantas ameaças de morte, a Páscoa nos diz que podemos confiar na força da vida.  Em meio a tantas incertezas, que hoje levam as pessoas a se sentirem inseguras e perdidas, o episódio de Emaús nos adverte a necessidade de buscar as razões de nossa esperança. A refeição do Ressuscitado com seus discípulos, a quem transmite a paz e renova a missão, nos mostra a urgência de refazer o ambiente de segurança e de confiança no íntimo de nossos corações e no seio de nossas instituições iluminadas pela fé cristã.

A partir de Cristo a história toma novo alento. Não é que ela termina com Cristo. Ela recomeça. Há muito que fazer. Existe uma grande empreitada a assumir. 0s que madrugam, como as mulheres naquele dia, descobrem o segredo da história, e são alentados pela esperança. Depois da madrugada, vem a manhã e toda ela dedicada ao  "anúncio".  Assim como a paciente caminhada dos discípulos de Emaús, naquela tarde, pode ser identificada com o desafio da "formação",  do amadurecimento na fé, da busca de consistência e de maturidade. E as aparições de Jesus naquela noite simbolizam a  "celebração",  onde Cristo é reconhecido na partilha do pão.

A celebração da Páscoa do Senhor vem, dessa forma, renovar em nós a certeza do amor de Deus, que dá sentido à vida humana. Demonstremos nossa alegria ao repetir muitas vezes: "Feliz Páscoa!", isto é, passagem da morte à vida, do egoísmo ao amor, do medo à esperança.

Páscoa significa passagem, travessia de um estado de desumanização para um estado de humanização. Portanto, a libertação do Povo de Israel significou a superação de um estado de inércia da escravidão no Egito. A ressurreição de Jesus significou a vitória da vida sobre a morte, o projeto da cultura da vida dizimou todas as formas de cultura de morte. Todos os povos, todas as culturas e sociedades humanas em algum momento da história fizeram a travessia, a Páscoa. Por isso mesmo a Páscoa é o símbolo mais humano que existe, pois resgata a memória perdida das tradições, dos costumes, das crenças e da utopia dos povos. (Claudemiro G. Nascimento)

Experimentamos neste tempo da Páscoa a certeza de que é possível superar o pecado pela graça de Cristo; a esperança de que, pela força da vitória de Jesus, também nós haveremos de ressuscitar; a alegria de vivermos já neste mundo a novidade dos valores de Jesus. Para cada discípulo e discípula de Cristo, a Páscoa significa vida nova, que inclui a mudança de comportamento pessoal, especialmente na própria família, renovando o amor, a compreensão e a doação aos outros.

A vida nova que Cristo nos comunica pela sua vitória é ainda compromisso de construir a sociedade marcada pelo respeito à dignidade de cada pessoa. As comunidades cristãs são chamadas a avaliar, no espírito pascal, como vão os serviços de caridade em favor das crianças, dos desempregados, dos idosos e dos enfermos. A Campanha da Fraternidade anima-nos a continuar promovendo a solidariedade, começando pelos mais carentes. Abre-se amplo horizonte para colocarmos em prática a vida nova da Páscoa. Aproveitemos para nos perguntar: temos acolhido e auxiliado as pessoas carentes que aumentam a cada dia em nossas cidades? Como procuramos aliviar o sofrimento dos presos e de seus familiares? Que apoio oferecemos aos grupos que aguardam terra para nela morar e trabalhar? Como ajudar os jovens dependentes das drogas? Qual a atuação de nossas comunidades em benefício das vítimas da exclusão social? Será que reconhecemos mesmo em cada sofredor a face de Jesus Cristo?

É nessa perspectiva que a Páscoa deve ser celebrada, levando-nos a assumir sempre mais o compromisso de caridade e o anúncio de esperança, multiplicando os gestos generosos de solidariedade: mutirão contra a fome, grupos de geração de renda, cooperativas de trabalhadores informais e artesanais, cursos de alfabetização e recuperação escolar, cursinhos para vestibular, oferecidos por voluntários, visitas freqüentes aos enfermos e apoio aos portadores de deficiências e tantas outras iniciativas que vão surgindo nas nossas comunidades.

Para Martin Luther King “a Páscoa é uma eterna recordação de que a terra pisoteada ressuscitará. A História atual de nossas sociedades clama por uma nova Páscoa que quer fazer a travessia para um novo modelo de sociedade. Nossa celebração pascal deve ser então a proclamação de um mundo novo que começa e toma força na esperança e no amor de toda pessoa consagrada à vida. A figura do Cristo ressuscitado é primícia deste universo renovado, para o qual todas as pessoas que amam a vida e a justiça são chamadas a aderir e defender. Nessa esperança, o 12º. Intereclesial que vai acontecer em Porto Velho e já está sendo preparado em todo o Brasil, é anuncio pascal de “céus novos e uma nova terra” (Is 65, Ap 22); pois  caracteriza um ponto concreto de convergência nacional para que nasça uma nova consciência no país e para além de nossas fronteiras, do exercício de uma cidadania solidária e co-responsável em prol de uma nova ordem, nova sociedade, nova Amazônia.
 
Fonte: Pastoral da Comunicação Arquidiocesana

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