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Luka Ribeiro

A SAGA SALDANHA – PAULO SALDANHA SOBRINHO


                               

Felipe Azzi            
  

                    O rio Guaporé desperta paixões. É um rio como tantos outros que há na Amazônia, atraente pela exuberância piscosa. Calmo, mas às vezes turbulento, como se desaprovasse os fenômenos violentos da natureza. Encantador pela harmonia e constante namoro de suas águas cristalinas da cor de chá preto, com a imponente floresta, sempre a beijar as suas margens.

                    Durante anos, esse foi o campo de batalha profissional de um dos notáveis Saldanha que, mesmo sem fixar raízes em suas barrancas, navegou grande parte de sua vida no caudaloso rio que dá nome à região.

                    Paulo Saldanha Sobrinho – o Saldanha a que nos referimos – costumava dizer que se tivesse que eleger um novo lugar para nascer, certamente, escolheria as terras do Guaporé.

                    Filho do enlace de Mizael Mendes Guerreiro com Sinfrônia Saldanha Guerreiro. Do pai lhe veio a tradição de lutas que marcaram a trajetória épica de “Canudos” em nossa história, pois Mizael era primo do lendário Antônio Conselheiro. Da mãe, irmã do Coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, nascida de brava família cristã católica cearense, recebeu a coragem para enfrentar desafios. E, desafios, não faltaram em sua vida.

                    Não era alto de estatura. Mas, como o seu homônimo bíblico (Paulo, em grego, quer dizer pequeno) se agigantava em tudo o que se dispunha a fazer. Era tranquilo no falar, mas voluntarioso no proceder, especialmente no cumprimento de normas e princípios naturais do cotidiano. Brincalhão como todos os Saldanha, porém sério nas atitudes, quando necessário fosse. Polido no relacionamento com os semelhantes, era muito querido e admirado pelos seus concidadãos.

                    Foi Superintendente do Serviço de Navegação do Guaporé, por 3 vezes. Nas suas gestões, procurou inovar o estilo das embarcações, dotando-as de dependências para uso socializado, cujas bases e cascos eram trabalhados em Itaúba (madeira ferro) abundante na região, ou mesmo em chapas de ferro industrializado.

                    Tinha especial interesse na ligação entre Mato Grosso e o Território do Guaporé. Interesse que chegou a ser um sonho partilhado com o seu irmão João Saldanha. Gostaria de ver Porto Velho ou Guajará ligados à Cuiabá, por percurso seco, pensamento que, aliás, um dia povoou a mente do Marechal Cândido Mariano Rondon. A atual rodovia BR-364 seria a realização desse sonho.

                    Manteve constante o tráfego fluvial, desde Vila Bela da Santíssima Trindade, passando por Pimenteiras, Rolim de Moura, Ricardo Franco, Ilha das Flores, Pedras Negras, Santo Antônio, Costa Marques, Deolinda de Sete Ilhas, Sagarana, Surpresa, além de outros povoados de parada rápida para, ao final, aportar em Guajará-Mirim.

                    A região, em sua época, vivia intenso movimento buscando o progresso, mercê de uma navegação fluvial, caracterizada pelo sentimento humano de apenas servir ao povo, complementada pela eficiente capacidade transportadora da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

                    Como Prefeito de Guajará, em dois mandatos distintos, um de 21/11/1950 a 25/09/1951, e outro de 22/03/1974 a 30/10/1975, restaurou logradouros e vias públicas, implantou escolas de ensino elementar, inclusive em áreas rurais. Viveu o fenômeno de uma enchente, devido ao aumento das águas do Mamoré, ocasião em que, pessoalmente, acompanhado de auxiliares administrativos, promoveu o abastecimento necessário aos moradores das áreas atingidas, conforme depoimento de uma de suas Secretárias de Governo Municipal, da época.

                   Citadino autêntico, carismático, altruísta e de fácil relacionamento pessoal. Administrou, com raro acerto, o Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a despeito de lhe faltar conhecimentos de medicina, mantendo o atendimento e a oferta de medicamentos à altura das necessidades da carente população de nossa Guajará daquele tempo.

                   Fundou, com outros companheiros de ideias avançadas, dois Clubes: um, de Serviços Sociais, o Rotary Club Internacional de Guajará-Mirim; e outro, de atividades desportivas, o Guajará Esporte Clube, cuja sede social ficava na Avenida Leopoldo de Matos, no antigo centro comercial da cidade.

                    Pensador, poeta e teatrólogo amador. Escreveu, para devaneio doméstico, pequenas peças teatrais que foram montadas e apresentadas, sob a direção da consagrada atriz Maria de Lourdes Argolo Óliver, a “Dilú Melo” do cenário artístico nacional do passado.

                    Foi colunista e colaborador nos jornais “O IMPARCIAL”, “O ALTO MADEIRA”, “ O MAMORÉ” e “ DIÁRIO DE CUIABÁ”, além de subscrever matéria especializada para a revista paulista “CAÇA E PESCA”.

                    Publicou, em 1995, o livro “HISTÓRIA, FATOS E LENDAS DO GUAPORÉ”, sua primeira obra literária, que retrata o cotidiano e o imaginário da gente guaporense, que tanto amou.

                    Mas o tempo é implacável e não poupa sofrimentos e dores. No dia 01/05/2000, aos 86 anos de idade, Paulo Saldanha Sobrinho nos disse “Adeus”, deixando tristezas para os seus “queridos” e perda dolorosa com a sua segunda obra literária, inacabada.

                    Contudo, esse “adeus” teve o seu lado bom. É que Paulo foi recebido, com honrarias, pelo Comitê Saldanha.  No comando, o Coronel Saldanha, tendo ao lado dois bons escudeiros, O Mizael e o João Saldanha, os dois guerreiros. Ao lado, de braços abertos, a amorosa Cecy, a Sinfrônia e Anusia, eram todas sorrisos. Outros Saldanha estavam ocupados na arrumação do “SALÃO NOBRE”. A antecâmara, de cristal translúcido, revelava a vida passada de cada um. Mais acima, um palácio com um pórtico trabalhado em ouro, adornado por esmeraldas, rubis, ametistas e outras preciosas pedras nunca vistas. De seu interior emanava uma luz dourada, irradiando paz e alegria. Eremita, acompanhada de alguns outros aparentados e amigos, uns de Guajará, outros de Ilha das Flores e cercanias, cuidava dos últimos preparativos da festa. Até Quitéria, esquecida nos antigos anos da família, á frente de todos os agregados que outrora serviram aos Saldanha, apareceu toda cheia de mimos e recomendações. Eis que o Coronel Saldanha toma a palavra, para perguntar:

                    – Como foi a viagem, Paulo?

                    – Mais confortável do que viajar no “Costa Marques”!...

                    – Como deixaste os que ficaram? Quis saber o Coronel.

                    – Ficaram tristes... Mas muito bem encaminhados. Assegurou Paulo.

                    – O que podemos esperar deles?... Insistiu o Coronel.

                    – Que a lenda Saldanha vai continuar a sua trajetória do mesmo modo como iniciou: com GARRA, HONESTIDADE e muita CORAGEM para enfrentar desafios, e vencê-los... Disse Paulo, com indisfarçável sorriso da certeza do que falara.

                    Então o Coronel, viajando, em lapso de segundo, pelo Guaporé, passando por Manaus, Rio de Janeiro, Fortaleza e Canindé, chegou a Boa Vista do Rio Branco, onde tudo havia começado, e com a mão firme de militar, agora das alturas celestes, tocou o braço de Paulo, dizendo:

                    – Deixe de prosa, homem... E vamos entrar logo no “SALÃO NOBRE”, pois já estão nos chamando...

                   “AOS  VENCEDORES,  OS LOUROS  DA  VITÓRIA!”

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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