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Luka Ribeiro

BANCO SEGURO É MALA DEBAIXO DA CAMA



                    Felipe Azzi

                O Gerente de Banco de primeira viagem, cheio do gás da empolgação natural do cargo, saiu a campo em busca de recursos financeiros necessários para o mister operacional da pequena agência bancária sob seu comando. Os colegas de trabalho ainda ponderaram, com advertências carregadas de desafios, dizendo:

                 – Olha, Felipe... Pode ser que você consiga alguma coisa com alguns comerciantes daqui. Mas, com o Seu Ibrahim, duvidamos que você tenha sucesso. O “Turco” é massa braba... Não gosta nem de ouvir falar de Banco.

                O neonegociante fustigou disfarçada comichão e fez uma divagação imaginosa: “Turco por turco, não vejo diferença!... O meu sangue também veio do Oriente. Vou pagar pra ver!”

                Os Bancos, tradicionalmente, são responsáveis pela organização do trânsito financeiro da economia, facilitando a realização de negócios, mantendo em segurança a guarda da moeda circulante, além de alavancar atividades que promovam o desenvolvimento dos seguimentos produtivos. Pelo menos, esse foi o aprendizado de nosso gestor bancário em questão.

                Presumindo estar preparado, seguiu nosso amigo os ditames de sua consciência, calcada em reserva monetária. Visitou vários comerciantes do lugar, jogou sinais marotos no ar e colheu conversa fiada, ministrou algumas estratégias e aprendeu outras, empanzinou-se de cafezinho – degustar implícito nessas rotinas – confirmando convites para começar ou incrementar negócios com o Banco.

                Mas, restava ainda a visita mais importante: O BAZAR MONTE LÍBANO, de propriedade de IBRAHIM NACIB BUTROS, o “Turco Ibrahim”, como era conhecido. Não tinha como esquecê-la, pois era a meta principal da investida para captação de recursos financeiros. E veio em seguida:

                – Bom dia, seu Ibrahim!...

                Disse o nosso personagem monetário, quase atropelando uma vistosa morena que saía da loja. O Turco, sem tirar os olhos da estilosa secretária do Consulado Peruano, respondeu, já em tom de despedida:

                – É... Mas “barece” que vai chover!

                Já nos domínios do Monte Líbano, a conversa foi afável, em torno de recordações do Líbano e troca de informações sobre as mútuas descendências, como sói acontecer com estrangeiros que deixam as suas origens. Na questão prática, no entanto, a cada vantagem exposta, o “turco” rebatia com mourisca segurança:

                – “Num brecisa” Banco... Eu guarda “dinero” em casa mesmo!

                Perguntado de que forma guardava o seu dinheiro, foi mais enfático ainda:

                – Guarda em mala... debaixo da cama... “Gumbardimendo sigreto”... É seguro, ninguém sabe!

                A demanda parecia concluída sem êxito, confirmando as previsões negativas, pelo menos no momento.

                Dias depois, o pertinaz gerente foi surpreendido com o alerta de um funcionário, anunciando a vinda do seu Ibrahim ao Banco. Rápido, deu uma recomendação:

                – Faça-o entrar e peça que me tragam água e cafezinho!

                Sentado, após as mesuras de praxe, o neocorrentista abriu uma sacola de tecido grosso e surrado, contendo vários pacotes de células de diversos valores, expondo o seu desejo:

                – Aqui está “dinero”“ Ibrahim...               “Bra fazer o dubósito”. Mas não quero que mexam no meu “dinero”... É “bra” guardar”

                Depósito efetivado e com o comprovante em mãos, o Turco examinava o recibo, verso e anverso, apalpava seus bolsos e olhava o interior da Agência, como se buscasse alguma coisa. O gabinete foi invadido por uma névoa de insegurança. Felizmente, o gerente foi salvo da cena incômoda por outro cliente, que assomou à porta, pedindo atendimento.

                Após atender um ou dois clientes, o gerente foi procurado por um funcionário aflito, querendo fazer uma comunicação, em termos:

                – Felipe, o seu Ibrahim está discutindo comigo no “caixa”, reclamando que eu estou entregando o dinheiro dele para os outros; o que faço?        – Diga-lhe que entre aqui novamente – disse o gerente.

                O Turco já entrou soltando quibes e charutos de repolho pelos desvãos de sua pessoa, dizendo que era um absurdo, que o funcionário “caixa” entregara parte de seu dinheiro para dois clientes. E, mudando de cor, indagava que diabo de segurança era essa que o Banco oferecia...

                Com paciência franciscana, que nunca teve, o nosso “herói” tratou de acalmar o sr. Ibrahim, esclarecendo para o cliente mais vigilante e zeloso de suas posses financeiras, agora sim, com o apreço e respeito filial, toda a sistemática que envolve uma conta corrente bancária.

                Dispensável mencionar que a vida dessa conta corrente foi breve e efêmera. Durou apenas o Natal, seguido de um animado Carnaval.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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