Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014 - 10h33
Felipe Azzi
A pequena cidade apreciava demonstrações extravagantes. Em tempos passados, foi até mesmo arena de desmonte de circos de pouco fôlego, de exibições de mágicos que tiravam da cartola nojentos urubus ao invés de dóceis pombinhos, além de aturar os maus bofes de certos hipnotizadores sonolentos que faziam adormecer meia plateia, sem o recurso de melodias de ninar.
A época era de politicagem e os candidatos faziam de tudo para conquistar votos. JOCENIL CARAPEBUS, candidato de oposição, já trouxera um BOI VOADOR que, em noite enluarada, se esborrachou na Praça Visconde do Rio Preto, após o percurso de dois metros no ar. O magarefe HORTÊNCIO TINHORÃO esquartejou o monstro do boi, ali mesmo, e distribuiu a carne, em partes sem pesar, a troco de votos devidamente caucionados.
Foi então que chegou DON BELTRÁN DE LA CUEVA, comedor de fogo, trazendo na bagagem a fama de ter assado oitocentos pães comuns, na força de suas chamas, quando o forno da Padaria Lusitana ficou no “prego”, na vizinha cidade de MORRO ALTO.
ANDROFEU AMENÓFIS NORONHA, Prefeito do lugar e candidato à reeleição, comentou com o seu Cabo Eleitoral, PROLÂNCIO CRUZ DE LIMA, ter contratado a fornalha de Don Beltrán, de olho gordo nos votos das urnas da promissora Colônia Agrícola “Sendeiro Luminoso”, com essa fogosa justificativa eleitoreira:
– É um pessoal que gosta de fogo, seu compadre... Vive das lindezas sapecadas de fogueiras diárias... Não posso abrir mão desses votos quentes!
Propaganda espalhada, cartazes colocados em silenciosos postes e paredes mudas, Don Beltrán contratou o desocupado ZÉ MANETA para fazer a divulgação explícita do espetáculo, na porta do Hotel dos Viajantes. Enquanto Don Beltrán acionava o maçarico, jogando pela janela de seus aposentos um fogaréu que assustava os passantes, Zé Maneta cuidava de acalmar o pessoal, garantindo:
– Não carece de cuidados, gente... É Don Beltrán, em serviço de ensaio, aquecendo o gogó para o espetáculo de logo mais à noite!
O evento foi montado, com a segurança necessária, no Cine Tamoio lotado de curiosos que, não cabendo no recinto, eram expelidos em empurra-empurra pelas portas e janelas. A viúva LIBERATA DE ABREU cochichou para a comadre LIFONSINA PARANHOS, espremida ao seu lado, uma queixa disfarçada:
– Senti um furacão... Parece que estão bulinando comigo... Não gosto de deboche, ainda mais hoje, que mandei celebrar Missa de ano de morte do meu sempre lembrado FABILÔNIO DE ABREU.
Espetáculo começando, o primeiro jato de fogo lançado chamuscou a peruca ruiva do Prefeito e o chapéu de penas de avestruz da Primeira Dama, dona GUARNECILDA NORONHA, provocando uma manifestação apreensiva dos ávidos assistentes. Mas Don Beltrán, com salamaleques castanholados prontamente desculpou-se:
– Pido perdón a ustedes... Lo que se pasa es que, sencillamente, ocurrió pequeño desliz en la regulaje de mi gogó!...
Em seguida, virando-se para Zé Maneta, escondido com o maçarico em parte mais escura do palco, recomendou em tom menor mais atenção com o uso de geringonça. Na penumbra do cinema, Don Beltrán liberou mais três golfadas de fogo bem calibradas na direção do vazio elevado sobre as cabeças das pessoas. Ouviram-se aplausos e gritos de bravos!... Bravos!... A alegria era geral numa algazarra frenética e ensurdecedora.
O comedor de fogo, animado com tal manifestação de apoio, sussurrou para Zé Maneta abrir um pouco mais a válvula do maçarico, do que resultou uma labareda dos capetas na direção do cortinado do palco, consumindo em instantes a tela de projeção e logo ganhando o madeirame do telhado. A evacuação do local foi rápida e segura e o incêndio, controlado, graças à pronta ação de habilidosos “bombeiros” da Colônia Agrícola Sendeiro Luminoso, acostumados a lidar com o fogo, o que evitou uma desgraça de maiores proporções.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Mas, no rescaldo do incêndio ficou o garrafão de gás com o maçarico, ainda em ação, chamuscando um cartaz de chamada persuasiva: “DON BELTRÁN DE LA CUEVA – O COMEDOR DE FOGO DO ALTIPLANO”.
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