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Gente de Opinião

Luka Ribeiro

FUTEBOL, SE NÃO VAI NA TÁTICA, VAI NA MARRA


Felipe Azzi
 

                Futebol é doença nacional. Jargão que motiva a paixão do torcedor brasileiro. Frase lapidar de autor consagrado no anonimato. Esporte dos mais competitivos – amador ou profissional –, apaixonante devido à forma como é disputado em busca da vitória. O empate, às vezes, pode consolar, mas a derrota chega a causar muito choro e ranger de dentes. A sua prática requer sistemas, táticas e estratégias. Tudo muito bem concebido para cada confronto.

                IGARATÁ-MIRIM, em tempos remotos, também tinha o seu campeonato anual de futebol, com várias equipes. Mas o destaque sempre foi a rivalidade entre Igaratá Esporte Clube e Frontal Futebol Clube. Era o clássico da cidade. Mexia com os nervos dos torcedores, em face da expectativa  de cada confronto, alimentada por palavras de ordem, desacatos e xaveco muito bem direcionados.

                Os técnicos das equipes, alheios ao clima que se formava, agiam de forma serena, procurando motivar os seus comandados, usando os conhecimentos do mister, aliados à capacidade de persuasão.

                GERVAL MACEDÔNICO, orientador do Igaratá, dizia:

                – Futebol é força! Disposição firme para o ataque e defesa em bloco... Bola sempre pra frente e atrás, um paredão!

                MIRALVES CAVIÚNA, técnico do frontal, era franco:

                – Futebol não tem mistério! É uma questão de psicologia e fração de segundo... Basta pensar e, imediatamente, fazer. Não indo por bem, que vá por mal! Mas sempre com boas maneiras.

                Num sete de setembro, em pleno jogo festivo, mas valendo pontos, o centro-avante SIMÃO, do Igaratá, após cobrir com um lençol imaginário o Cabeça-de-Área FLÁVIO GUERRA, do Frontal, enfiou a bola entre as canetas do Beque-de-Espera e, quando ia marcar o gol, foi laçado, feito boi fugido de boiada, pelos braços de NILO FACA AFIADA, zagueiro central de gênio torto, do que resultou a penalidade máxima marcada, mas não cobrada, porque os jogadores expeliram jatos de mimosos impropérios na pessoa da genitora do árbitro, com os devidos acessórios de honra.

                Confusão armada, bloco humano mais parecendo fumaceiro de queimada de roça, ganhou as arquibancadas, saiu do estádio e desceu pela Avenida da Proclamação levando de roldão tudo o que estivesse no caminho, parando, finalmente, defronte ao Educandário Herói das Américas, onde se procedia ao arriamento solene e retirada do Pavilhão Brasileiro sob os acordes do Hino Nacional.
 

                Com a surpresa dos chegantes, mais uma remessa de desgostosos se incorporou à turba brigona. Uns, por causa mesmo do futebol; outros, muito bem motivados pelo discurso político de ocasião, manjado e repassado de embustes. Então, a batalha foi completa. O pau comeu solto. Todo mundo bateu em todo mundo. Não houve quem escapasse. O carregador LICORDINO FEITÃO levou um cachação medonho na nuca que soltou pela boca um enrolado de cordas, lambuzado de seiva de mutamba. A viúva IZALTINA DE MEDEIROS, que voltava da Missa vespertina, foi sorteada com uma porretada debaixo do queixo, e começou a falar coisas de moça casamenteira para o seu marido, o contador OSÓRIO MEDEIROS, falecido havia trinta anos. Pior sorte teve o meirinho CALISTO GURJÃO, que recebeu um safanão, de quatro por dezoito, pelas costas e começou a ler uma Escritura lavrada no tempo das “sesmarias”, quando nem Cartório de Notas existia.

                Tropa de choque, cacetetes e balas de festim, para efeito moral, se apresentaram no entrevero. Tudo entrou nos eixos da paz, voltando a ser como dantes na casa de Abrantes.

                De positivo mesmo ficou que OFÉLIO BARBIRATO, gago de nascença, conhecido como “Conta-Gotas-da-Palacra”, recuperou o falar desimpedido e correto, e danou a recitar Olavo Bilac com todos os qualificativos poéticos. Enquanto que DOMINGUINHOS DO MERCADO, zarolho por natureza, aprumou de vez o corretismo dos olhos, afirmando estar vendo anjinhos no céu fazendo revoada em torno de São Benedito, mas de olho calhorda nos prestimosos aparatos de moçoilas ancoradas no pátio do colégio.

                Futebol e Política têm desses mistérios. Quando falha nos resultados, provoca curas e recordações do passado.

Nota:

O texto tem algo de verdade. Homenageia, com merecimento, três amigos:

- SIMÃO SALIM, advogado, executivo aposentado do Banco da Amazônia, guajaramirense. Certamente, o melhor Centro-Avante que a região conheceu;

- ANTONIO LUÍS DE MACEDO, enfermeiro aplicado, cujos serviços em tempos de necessidade extrema, supriram a falta de médicos em nossa Pérola;

- ALMIR MADEIRA, competente profissional da construção civil, que atuou no ramo, quando engenheiros civis eram para nós coisa estrangeira.

Todos apaixonados por futebol. MACEDÃO e ALMIR viveram numa época em que a realidade é que era o sonho. Saudades!...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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