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Gente de Opinião

Luka Ribeiro

NÃO DIGO QUE SIM... NEM QUE NÃO... CUIDADO É NECESSÁRIO!


 

Felipe Azzi
 

MAXIMINIANO FERREIRA, digno migrante, remanescente do povo simples que desceu de Vila Bela da Santíssima Trindade para se instalar em Pedras Negras, Ilha das Flores e outros lugarejos do Vale do Guaporé, de natural, sempre foi pessoa simplória e de opinião enclausurada. Era difícil arrancar uma definição de seu parecer. Tinha o ofício de vigia nas dependências do SNG, antigo Serviço de Navegação do Guaporé, usando como equipamento de segurança, apenas um terçado “Collins” e justificava:

– Não aprecio arma de fogo... Quando não falha na alça do gatilho, deixa o atirador “de calças curtas” no erro do tiro!

Era um homem valente, de não refugar entreveros que envolvessem os amigos, mas respeitador aos extremos. Sabia e contava casos do cotidiano da região.

Certa vez, voltando do turno de vigília, já altas horas da noite, passando defronte da casa do funileiro AFANOR DAS SOLDAS, foi convidado a dar descanso aos pés e engrossar a roda em volta da fogueira que crepitava os seus queimados, regados a café caseiro e muito fumo de rolo esfumaçando o lugar.

A coversa navegava nas marolas dos predicados de moça bonita, ancorando nos ilustrativos de brigas de galos, misturados com o desempenho safado de políticos carreiristas e aproveitadores que em tudo querem levar vantagem. De repente, uma boca, no mais escuro do jardim, trouxe a tona o caso da porca andadeira em noites trevosas nas ruas de Guajará. Houve quem afirmasse que era caso arranjado, namoro esquisito entre amantes platônicos de dia e, de noite, sabe-se lá como. JONJOCA RUFIÃO apresentou o caso em que fora abordado por um indiozinho de metro e meio, vestido de farda do exército, com uma cabeleira maior que a própria cabeça. E não era de se duvidar, disse, pois a noite enluarada bem confirmava a apavorante visão. Perguntaram, então, a MAXIMINIANO o que achava dos relatados, ao que respondeu:

– Não digo que sim... Nem que não!... Mas é bom não futucar quem está quieto... As coisas do além merecem respeito e devocionismo de Santo na proa.

Tanto insistiram e provocaram MAXIMINIANO que ele contou dois casos de seu conhecimento e atuação próprios, assim demonstrados:

– Na colocação Azul do Céu, onde extraía seringa o cearense PERCINALDO LOURENÇO, no seringal Rio Branco, sucedeu coisa estranha e nunca vista. Uma procissão à meia noite, de cerca de cinquenta índios com porongas acesas sobre as cabeças. Ao passar pela cabana, alguém entregou ao seringueiro uma vela acesa e, em sequência, sumiram na densa mata. Ao amanhecer, o seringueiro viu que a vela deixada à noite era na verdade um pequeno osso humano.

O outro caso:

– Andava este vigia, em noite muito escura, de não se entrever quatro dedos adiante do nariz, quando levei pelos acolchoados de sentar um chute de quilate desmedido, sendo a minha pessoa varejada com a cara no rego d’água do local. Vi, então, que andava pelas redondezas da moradia de certo estripador, o que me fomentou mais cuidado. O diabo é que as bofetadas eram renitentes, não davam prazo para que eu tirasse o terçado da bainha. Nesse imbróglio desgraçado, lembrei-me de São Cipriano. Fiz as rezas recomendadas para esses casos e o tufão mal-assombrado recolheu as forças.

Dona Cotinha, chegando com a bandeja de biscoitos, gritou da porta da casa:

– Cruzes, Credo!... Será que os mortos de nossa viuvez podem se manifestar? – E, virando-se para o funileiro, foi taxativa:

– AFANOR, é melhor mandar celebrar missa para a comadre EUFROSINA, porque velas, eu já acendo muitas para o seu compadre ALCEBILÁQUIO.

A fogueira amanheceu só cinzas. As papoulas que enfeitavam o jardim da casa desabrocharam suas flores. Um sabiá laranjeira exibiu o seu canto de acasalamento. Os mistérios de Deus são insondáveis.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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