Terça-feira, 9 de julho de 2013 - 06h09
Felipe Azzi
Ele chegava ao remanso pesqueiro, colocava a linhada no jeito de pegar peixe de porte, e distribuía os caniços em pontos estratégicos, para o caso de fisgar uma JATUARANA, uma PIRACANJUBA ou, quem sabe, uma PESCADA que era a peça de especial apreciação de Rosita, sua mulher.
Essa era a rotina de Anzolino Torquato Pimenta, pescador de pequeno curso, mas que tirava das águas o sustento de sua família. A lida diária era noturna e começava já em noite alta, entrando pela madrugada que, no dizer de pescadores experientes*, é quando os peixes abandonam os seus escondidos para vistoriar os lagos, as lagoas e os remandos, em busca de alimentos.
Anzolino era, de natural, pessoa franca, de índole simplória, muito respeitoso dos ensinamentos da igreja, de não falhar domingo de Missa ou paga de promessa a santo de sua devoção. Apesar disso, era espantadiço com fatos da natureza que não se explicassem por si mesmos.
Uma ocasião, escapou da linhada um PIRARUCU sem tamanho de dizer. Olhando o peixe no prateado do luar era coisa para mais de quatro metros. E o pior é que o danado do pescado deu de subir, vezes sem conta, acima da água, encarando Anzolino, com risos de deboche.
De outra feita, estava Anzolino a desembaraçar uma JATUARANA do anzol, quando ouviu, nas suas costas, um chacoalhar de água com força de maré e, virando-se, viu um JAÚ de três metros no ar, alforriado da linhada. No entanto, o que deixou Anzolino vexado foi que o dito peixe, por certo aparentado de bailarino, estava com as duas nadadeiras colocadas em forma de arco na cintura, rodopiando na água, no estilo de cabrocha dançarina de quadrilha junina.
Ficou ressabiado com esses acontecidos e cuidou de praticar a pescaria com as cautelas necessárias. E, assim, tocava a vida.
Certa madrugada, chegado ao remanso, enquanto arrumava todo o aparato de pesca, como costumeiramente fazia, sentiu que soprava um vento gelado e vindo com ele uma voz, saída não se sabe de onde, que lhe perguntou:
– Pescador... Quer enricar? ... Quer ficar rico?
Anzolino, com a rapidez de um raio, juntou todas as tralhas do ofício e se mandou para casa. Aí chegando, com os bofes a sair pela boca, deu uma desculpa esfarrapada que a mulher aceitou.
Passados três dias com a repetição do mesmo assombradiço inexplicável, a mulher de Anzolino tomou atitude dando um ultimato:
– Assim não é possível, Anzolino!... A comida da casa já está escasseando... Temos que alimentar os meninos. Tu te ausentas para pescar e voltas cedo com o samburá vazio! Então me diz: o que está acontecendo?
Anzolino também foi franco, pois estava numa sinuca de bico e precisava de ajuda. E respondeu:
– É que no poço de pesca está sucedendo uma manifestação do Além!
E a mulher, intrigada, retrucou:
– Como do Além?... Por acaso estás vendo assombrações?
– Vendo de ver mesmo, não estou. Mas estou ouvindo – disse.
E a mulher, mais intrigada ainda, perguntou:
– E o que ouves?
– O caso mesmo é assim: – disse Anzolino – Eu chego ao remanso, coloco todas as tralhas em seus lugares e quando vou enfiar as iscas, escuto uma voz que vem acompanhada do ventinho gelado da madrugada, e me pergunta: ‘Pescador, quer enricar? Quer ficar rico?’
– Mas tu és um tonto! – Disse a mulher. E completou:
– O que custa responder, homem de Deus, dizendo que queres ficar rico?... Olha, pode ser a manifestação de alguém que deixou uma botija de barro cheia de libras esterlinas, das de ouro, enterrada no lugar, e não tem sossego porque o dinheiro está parado. Responde que sim, Anzolino, e resolve todos os nossos problemas.
O marido, com o pensamento ensarilhado no conselho da mulher, prometeu que responderia positivamente, mas com uma condição: sem deboches ou agravos de missa penitencial, pois não gostava de misturar assunto de pesca coma devoção a São Miguel Arcanjo.
E foi para a pescaria. Lá chegando cumpriu o ritual costumeiro, e bem não pegou o farnel das iscas, sentiu o conhecido ventinho e, sem maiores preâmbulos, a voz perguntou:
– Pescador... Quer enricar? ... Quer ficar rico?
Anzolino ainda pensou não dar vazão à questão. Mas lembrou-se dos pirralhos e dessa lembrança chegou à memória dos antepassados: os Pimenta, destemidos e corajosos. E, para não deslustrar sua origem, respondeu:
– Quero enricar!... Quero ficar rido!
E ouviu a resposta, em forma de sentença:
– Então vai trabalhar, vagabundo!... Vai pegar numa enxada, explorador de piabas e sardinhas... Vai enfrentar o sol forte de uma roça, preguiçoso madruguista!
De cabelos em pé, Anzolino rebateu:
– Vai tu, alma penada dos infernos!... Vai assustar a mãe desgraçada penitente!... Botija de ouro é o diabo que te carregue... Esconjuro!
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* É fantasioso o que aqui é contado. Mas, na Guajará de minha saudade, tive dois amigos pescadores de mão cheia: os irmãos PEIXE, Valdemar e Mário, aos quais presto merecido tributo.
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