Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014 - 23h11
Felipe Azzi
Houve tempos em que o progresso chegava naturalmente, sema pressa que hoje atropela tudo, impondo uma modernização que angustia o ser humano. Hoje, as pessoas, rodeadas da engenharia cibernética encantadora, que tudo parece facilitar, fazem do seu caminhar uma corrida insensível e sem meta de chegada. Muito diferente de outrora, quando havia tempo para se conversar, para falar e ser ouvido, para plantar e esperar o tempo próprio para colher.
O Bondinho, que trafegava em várias cidades brasileiras, tinha destaque no cenário de paz e de legítima esperança, é hoje lembrado com carinho nostálgico.
O Bondinho surgiu entre nós, ainda no Império, como meio de transporte popular, movido à tração animal. Fidalgos, comerciantes, pessoas importantes, tinham charretes de luxo, tílburis elegantes ou montaria própria para o seu transporte pessoal.
O Bondinho, de tração elétrica, inovando o seu precursor, era realmente um veículo muito charmoso. Com chassis e grande parte de sua conformação de ferro e uma cabine trabalhada em madeira de lei. Oferecia conforto aos passageiros que viajavam, lado a lado e de frente, recebendo a ventilação natural provocada por seu deslocamento. Parte de seu charme provinha da propaganda em folhetins dispostos em seu interior, com gravuras e motes originais de seu tempo.
Quem não se lembra da sutileza do passar do Bondinho e do canto pontuado de sua campana: BLÉIM... BLÉIM... BLÉIM... Havia até mesmo um namoro platônico, encabulado e disfarçado, entre populares e o Bondinho. Pessoas acorriam à porta de suas casas para ver o seu transitar, qual rapaz guapo e insinuante, confiável e seguro de si.
As Alterosas guardam lembranças alegres e muito humanas do serviço que o Bondinho prestava às comunidades. Certa ocasião, um casal, querendo embarcar no bonde com um engradado de frangos e uma saca de espigas de milho, foi contido pelo Cobrador:
– Só vocês podem embarcar... As tralhas, não! Viajar com tralhas, só mesmo no bonde bagageiro que deve passar mais tarde...
– Mais nós num pode largá noss’trem à toa. Temo que levá tudo!... Ói, seu moço, nós cômoda debaixo do banco! – Disse o velhinho, com a naturalidade só vista naqueles que são íntimos da mãe terra produtora.
– Banco foi feito para sentar! – Procurou ensinar o Cobrador.
– Mais... Ninguém senta debaixo de banco! – Esclareceu a esperta idosa, do tipo que todos gostariam de ter como avó.
Então, o Cobrador, além de permitir o embarque, ainda ajudou na acomodação das tralhas embaixo do banco.
Na terra de Carlos Gomes, onde os bondes eram de fato “bondinhos”, aconteciam fatos pitorescos, como esse: Viajava uma senhora, absorta no pensamento das tarefas por fazer em casa de tradicional família campineira. Ocorre que os “rolemans” dos eixos das rodas do Bondinho sugeriam uma inebriante cantiga de ninar, que muitas vezes provocava sonolência nos passageiros. À chegada do bonde ao final da rota, acorda a dita senhora que, assustada, pergunta:
– Já chegamos à Avenida Senador Saraiva?...
– A senador Saraiva ficou para trás há muito tempo, dona – disse o Cobrador. E, completando:
– Já estamos fazendo o entorno para pegar o caminho de volta!
O Corcovado viu poucas e boas dos Bondes, como essa: determinado passageiro esquisito abriu o gramofone da garganta, com uma reclamação própria de usuário habitual:
– Governo bom foi o de Pinheiro Machado... O cidadão dormia e acordava sem novidades. Hoje, apareceu um tal de LOTAÇÃO, coletivo apressadinho, para perturbar a navegação dos bondes...
– Mas Pinheiro Machado nunca foi Presidente da república! – Rechaçou uma voz saída dos confins do bonde.
– Não foi porque não deixaram... Mas devia ter sido! – Rebateu o doido manso.
O bonde seguiu a sua rota, deixando para trás um correligionário político que ainda vivia no passado.
Na “terra da garoa”, um grupo de rapazes, denominado “VÍBORAS”, movido à combustão etílica, pegou o bonde do Bexiga e começou a perturbar os passageiros, com perguntas indiscretas. Para o velhote magro e de vistoso cavanhaque, com um chapéu de coco preto, tendo às mãos uma bengala, perguntaram:
– O vovô precisa mesmo de caniço, ou usa só como enfeite?
Debaixo do alvoroço desgostoso dos passageiros, desceram na parada mais próxima, para embarcar em outro bonde que se aproximava, cantalorando: “Se ocêis pensa que nóis fumu embora... Nóis inganemu ocêis...Fingimu que fumu e vortemu... Ói nóis aqui traveis!” Os passageiros desse bonde soltaram “cobras e lagartos” contra ADONIRAN BARBOSA.
Entrando na rota do “Círio de Nazaré”, alguém, vindo do “Ver-o-Peso” embarcou no Bondinho para Pedreira com um jacá de camarões e peixes secos, provocando mal-estar aos passageiros. Na altura do Cemitério Batista Campos, desceram, na marra, o jacá e o seu proprietário. Um engraçadinho embarcado fez o despacho:
– Fica por aqui mesmo... Pode ser que a turma adormecida desse lugar aguente esse cheiro maluco!
A lembrança viva dos Bondinhos é mantida, ainda hoje, no pequeno transcurso que, saindo do Largo da Carioca, percorre os altos dos Arcos Lapa, dando acesso ao bairro de Santa Teresa, de antigas tradições, na Cidade Maravilhosa.
O Bonde, para quem não conheceu nem usou esse excelente meio de transporte, não era apenas charmoso, mas também econômico, eficiente e saudável. Viajava-se nele recebendo a brisa natural, provocada por seu deslocamento, estável e ritmado pelo CATAPLE-TAPLE... CATAPLE-TAPLE... do rodar sobre trilhos.
Parente próximo de trens e metrôs, o Bonde é hoje peça de museu. Um sonho de dragonas douradas deu fim à sua vida. O mesmo destino que tiveram algumas ferrovias brasileiras, como a estrada de Ferro Madeira-Mamoré e a Estrada de Ferro Bragança, na Amazônia; as Estradas de Ferro Mogiana e Sorocabana, no Estado de São Paulo. Isto, só para citar algumas que, sem prestígio para sobreviver, sucumbiram em nome de um progresso poluente que, sabe-se hoje, alimenta-se da camada de ozônio, tão “defendida”.
A Terra – nosso lar – é limitada, mas tem tudo de que precisamos para viver bem. Não vemos por que a pressa, como justificativa para tudo, e a ânsia de conquistar o Espaço, se lá não podemos viver. Aqui já temos bastantes problemas assustadores que angustiam o ser humano, como as diversas formas de câncer e novíssimos vírus e circulantes que a própria Medicina não conhece.
Deus proteja o futuro da terra, porque o da humanidade, ela mesma já fez sua escolha...
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