Sexta-feira, 29 de agosto de 2014 - 12h51
Felipe Azzi
Apesar de nascido nas barrancas do rio São Miguel, no lugarejo mais bonito da região chamado Limoeiro, de onde se descortinava vasta pradaria verdejante com jeito de sertão em plena selva amazônica guaporense, nunca comi iguarias exóticas como JACARÉ, COBRA, TATU, BICHO PREGUIÇA e outros animais que ainda hoje, bem condimentados, transitam no cardápio de pessoas de requintado paladar.
Para não dizer que escapei desses repastos, recordo que, quando criança, algumas vezes almocei MACACO NO LEITE DE CASTANHA e, saibam, amigos que acompanham este texto, é uma delícia, tanto de sabor como de substância.
Desde guri, nunca fui de refugar desafio que envolvesse o que comer. Certa vez, o SIMÃO SALIM, líder da molecada limoeirense, apareceu entre nós com uma rapadura fresquinha, saída da moenda de melaço que ficava próximo da casa de Madrinha Guilherma. Saboreava aos estalos o torrão mascavo e oferecia, matreiramente, um pedaço àquele que disposto estivesse a aceitar, desde que mastigasse, antes, cinco pimentas malaguetas vermelhinhas, disponíveis na exuberante pimenteira vicejante ali ao lado. Alguns meninos, inclusive eu, degustaram o suculento torrão de rapadura, mas ganharam um inchaço vermelhão dos capetas nos lábios. Ficaram “beiçudos” na marra.
Outro desafio me interpôs o parceiro CAROLA – Joaquim Francisco Bártholo Junior – das mais gratas lembranças de amizade, quando me convenceu a participar de uma tartarugada no Sítio de JOÃO PICANÇO, creio que era esse o nome do amigo Picanço. O seu Sítio ficava no lado direito da foz do rio Pacaás-Novos, praticamente ao desaguar no rio Mamoré. Lembro-me da fascinante praia que se formava no lado oposto da foz, da temível infestação de “puraquês”, e do insinuante namoro das águas cor de chá preto do Pacaás com as achocolatadas águas do Mamoré. Espetáculo discreto, mas intrigante, porque as águas levam horas no processo de ajuntamento renitente para se misturar. É um dos atrativos que o Hotel PAKAÁS PALAFITAS LODGE oferece aos seus hóspedes, de onde se pode observar de terra firme esse fenômeno.
Completavam o festivo almoço ADAUTO CORTEZ, AUGUSTO LOPES, GRACILIANO MAIA, CHICO BIL, MATO-GROSSO, os irmãos WALDEMAR e MÁRIO PEIXE, ZÉ-DA-FARMÁCIA, meu saudoso compadre AMÉRICO CASARA e outros amigos que a memória se recusa a recordar, sem contar a vizinhança de rio acima, bem assim alguns “hermanos” moradores do lado esquerdo da vazante do Mamoré.
Alguém chegou com uma caixa de “Cocal”, o que despertou a ira do pacato Picanço, que soltou no recinto um trovão de rechaço:
– Em minhas presenças, convidado meu não bebe cachaça solteira de sabor apurado... Tenho tudo preparado!
E tinha mesmo. Tanto que abriu um pequeno barril de madeira e passou a servir um aperitivo de cor parda brilhante, mas de delicioso aroma e, diante dos comensais, ministrou seus explicativos:
– É cachaça nordestina... Destilada em engenho colonial... Domada por sete noites de lua cheia em tonel de carvalho. É de primeira, gente!
Saboreamos, então, a tartaruga. Estava ótima e atestava a competência do “Chef” no preparo de quelônios.
Descemos do casarão avarandado, erguido sobre palafitas sustentadas por pilotis de itaúba como proteção das ocasionais enchentes do rio. Ao redor, uma plantação temporana de macaxeira, enfeitada por uma cerca viva de quaresmeiras em contenda botânica com intrépidos foliáceos de melão de são Caetano, onde um grupo de anuns parolava com um séquito de japins, acerca da posse do território, ainda úmido devido à última cheia do Pacaás-Novos e, por isso mesmo, rico em nutrientes minhocados tão a gosto dos pássaros.
Pitando Continental, ainda ao sabor do cafezinho que fora servido, saímos, Carola e eu, a assuntar, vasculhando com os olhos a parte de terra firme da propriedade. Em meio a um emaranhado de cipó rabo de macaco, sufocado por moitas de capim-navalha, nos deparamos com dois enormes cascos dorsais de jabuti-açú, onde formigas se banqueteavam com o sangue, ainda viçoso, dos animais abatidos na véspera. Engoli seco. Não havia como “descomer”. Comi jabuti, bicho exótico, mas bem saboroso como a tradicional tartaruga, de consagrado degustar.
São lembranças que fazem bem aos anos vividos e que desfilam no pensamento saudoso. Quanto às iguarias, trancando a soberba em cofre de segurança, guaporense que se preza costuma dizer: “Caldeirada de Tambaqui ou Traíras e Jatuaranas assadas na brasa em remanso frondoso às margens de rio guaporense – afianço, sem medo de errar, que o vivente que transitou neste mundo sem degustar essas maravilhas viveu, seu compadre... Mas não disse presente à própria vida”.
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