Sábado, 30 de novembro de 2013 - 08h31
Felipe Azzi
UMBURIZAL DO ARROIO, atrasadão de muitos anos, perdeu o trem da modernidade. Só ficou sabendo da conquista do espaço quarenta anos depois da chegada do homem à Lua. Mesmo assim, o seu Prefeito, ANTIÓGENES SILVEIRA, simpatizante de carteirinha das novidades, costumava dizer:
– Modernismo é coisa séria!... Coloca o cidadão na cabeceira da história... Até mesmo vendedor de “rala-rala” fica famoso. Quero o melhor para Umburizal.
E por querer o melhor para Umburizal, encomendou os serviços técnicos e “engenhativos” de certo JULIÃO ARMENTÓSES, tido e havido como o maior montador de foguetes da região, com estágio prático na indústria pirotécnica mais avançada do país.
A Associação Comercial encabeçou a lista de suporte material e financeiro. Todos colaboraram. Até mesmo produtor de farinha de mandioca em roça de mato dentro entrou com sua porção adjutória.
A Praça da Matriz foi o sítio escolhido para a montagem e lançamento da parafernália fogueteira. Curiosos transitavam ruminando desconfiança, dizendo:
– Geringonça mais esquisita... Parece um caminhão bicudo sem rodas. Se voar, não passa de “CURRAL NOVO” (vizinhança de cinco léguas adiante)!
Chegado o dia do lançamento do foguete, ANTIÓGENES apareceu com uma fotografia enorme de TOCANTINS MATUSALÉM NOGUEIRA, primeiro Prefeito da cidade, esclarecendo:
– Quero homenagear MATUSALÉM com todas as honras do cargo, afilhado político que sou de sua saudosa pessoa.
E, virando-se para o mestre fogueteiro, perguntou:
– E o amigo, o que faz com esse calhamaço de jornais debaixo do braço?
ARMENTÓSES, fazendo muxoxo com os lábios, esclareceu a sua “hebdomadarista” bagagem com singular argumento:
– Vou colocar no frontispício da trapizonga, juntamente com o lobisomem cabeludo e barbado dessa foto, algumas manchetes alusivas a desvios de dinheiro público, mensalões, semanalões e quinzenalões próprios da gatunagem denunciada por nossos jornais, para o povo do espaço ficar sabendo do horror que nós vivemos aqui em baixo.
O povo extraterrestre nunca soube, nem podia ficar sabendo, do sofrer de Umburizal. O desastre multicolorido destruiu o foguete, a Praça da Mariz, a Prefeitura, a Câmara de Vereadores e, no rabo da destruição, sumiu metade da cidade. Só ficou de pé a estátua de TOCANTINS MATUSALÉM NOGUEIRA, de camisolão indiano, como era o seu costumeiro vestir, com a cabeleira e a barbaça em desalinho, tendo abaixo do monumento a inscrição póstuma: “AO EMÉRITO FUNDADOR, O POVO AGRADECE O PROGRESSISMO DE UMBURIZAL DO ARROIO”.
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