Quinta-feira, 5 de junho de 2014 - 15h06
Felipe Azzi
Este é um “causo” mineiro, acontecido em Rondônia, no tempo do Território Federal do Guaporé, sobre os trilhos desbravadores da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. CAZUZA BARBIRATO MANTIQUEIRA, seguramente o único mineiro que se aventurou na Amazônia Guaporense, remanescente da aliança política “café com leite”, quando o cavanhaque de Washington Luiz desceu a portentosa escadaria do Catete, para a subida das bombachas de Getúlio Vargas, no expirar da Revolução de 1930 e nascimento do Estado Novo. Recomeçou a vida na promissora região com uma pequena plantação de café “arábica” no povoado de Penha Colorado, de onde tirava o sustento da família.
Certa ocasião, voltando de Guajará-Mirim, onde fora negociar meia dúzia de sacas de café em grão, foi instado pelo Condutor do trem que lhe pediu a passagem para o picote inutilizador, nestes termos:
– O bilhete, por favor...
– Que bilhete, sô?... Não escrevi nada pra ninguém!... – Rebateu Cazuza, dando uma seringada de cuspe no vão da janela próxima.
– A passagem... Aquele papelócio que o distinto recebeu no guichê de venda na estação – explicou o Condutor.
– Ah!... Aquele papelim amarelo? – Perguntou Cazuza, meio sem jeito.
Justamente!... Aquele papelim é a passagem que lhe dá o direito de viajar. Disse o Condutor, esbanjando ensinamentos de cidadania.
– Eu pitei ele... – disse Cazuza. E completou:
– Eu estava sem “paia” pra fazer o cigarro e usei ele... Se o moço quiser, a bagana ainda está fumegando ali.
A viagem teve curso normal para Cazuza. Os Condutores das composições da inesquecível Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, tecnicamente chamados “Chefes”, eram pessoas de elevado espírito humanitário. Trajavam tradicional uniforme de Agentes Ferroviários, que lhes dava certo tom sóbrio na aparência, mas muita bondade compreensiva e espontânea alegria no proceder.
Não é proibido sentir saudades. Quem conheceu a nossa Madeira-Mamoré puxe pela memória e reviva um tempo onde sonhar já era a realidade.
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