Segunda-feira, 6 de janeiro de 2014 - 07h04
Felipe Azzi
O vasto território da Amazônia setentrional brasileira demarca fronteiras com alguns países vizinhos, dentre elas, a tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, banhada pelas caudalosas águas do Solimões que, denominado Marañon em terras peruanas, adentrando ao solo brasileiro, assume a condição de Pré-Amazonas com curso regular até regiões lindeiras de Manaus, a metrópole amazonense. Daí em diante, já é o majestoso Amazonas que recebe de seus tributários, os rios Japurá e Negro pela margem esquerda da vazante e, pelo lado direito, unidos como irmãos siameses hidrográficos, os rios Purus e Madeira, colossal volume de águas, para converter tudo no verdadeiro rio oceânico que percorre toda a planície amazônica, desaguando por fim no Oceano Atlântico em famoso delta paraense, onde ocorre, periodicamente, o fenômeno da pororoca.
Subindo a torrente descritiva que nos afastou do comentário inicial sobre a tríplice fronteira, vamos encontrar naquele ponto a cidade de Benjamim Constant, cujas imagens via internet mostram hoje uma localidade bonita, simpática e acolhedora, com prédios e logradouros modernos e atraentes. Bem diferente – mas muito diferente mesmo – do lugarejo que conheci nos idos de 1962. Naquele tempo, o Banco da Amazônia ali mantinha uma Agência, pequena como tantas outras filiais do BASA no interior da Amazônia.
Designado que fui para gerir essa filial, chegamos, minha mulher e eu, numa Quinta-feira Santa, triste como o próprio relato das circunstâncias históricas do Novo Testamento. A chuva fina que caía de um céu negro de matizes cinzentos como se quisesse descarregar os destemperos da natureza cósmica sobre a terra, tornava mais sombria a nossa chegada.
Deixamos o “Catalina” e percorremos a palafita margeada por habitações lacustres e estabelecimentos comerciais como farmácia, armazéns gerais, lojas de tecidos e confecções, de utilidades domésticas etc., tudo edificado em madeira e disposto em duas alas marginais de uma avenida central, elevada sobre alagadiços e encharcados resultantes de resíduos das constantes enchentes do Solimões.
Ao alcançarmos o solo firme do lugarejo, logo avistamos o prédio da agência bancária imperando sobre uma elevação de terreno, no que seria a cabeceira de uma imaginária praça. Ansiosos, Lourdes e eu perguntamos ao condutor de nossas malas se logo chegaríamos à cidade. A tranquilidade da resposta acrescentou novo ingrediente à inquietude que se instalara em nossas mentes: o desespero. Disse-nos ele:
– Mas... Já passamos pela cidade!...
Após a recepção pelo meu antecessor e seus familiares, que viajariam no dia seguinte, na volta do avião que nos trouxe, fomos para os aposentos reservados para nós. Já instalados, mas com as malas por desfazer, sentamos numa cama improvisada, olhamo-nos co o que pedindo ajuda: ela, aos meus 24 anos; eu, aos seus 22 anos; e ambos, ao enlace matrimonial de recentes três meses. Lembro-me que cogitei desistir de tudo, “chutar o balde”, na gíria de hoje, preocupado em manifestar impensável dose de desconforto, dizendo-lhe:
– Somos jovens... Não nasci bancário!... Se você quiser, podemos voltar no regresso da aeronave e recomeçar tudo de novo em nossa terra natal.
As mulheres possuem o equilíbrio do bom senso que o Criador certamente concedeu somente a elas. Abro aqui parêntesis para uma divagação do lado religioso do meu pensar. O homem é a mais perfeita criação de Deus. o relato bíblico conduz a esse entendimento. Contudo, terminada a obra, o Criador viu que faltava algo e, do próprio ser criado tirou-lhe uma costela para presenteá-la com uma companheira – a mulher – frágil e dócil, mas com sabedoria natural para caminhar a seu lado, às vezes, um rochedo de segurança. Minha mulher tem e têmpera desse protótipo de mulher e, por isso, com olhar firme, determinado, típico das mulheres orientais, Lourdes, ou simplesmente “Nega”, coo ainda hoje a chamo, encarou-me com fisionomia matriarcal, para fincar as estacas de uma decisão definitiva e encorajadora, respondendo:
– Nada disso!... Estamos falando de tua carreira profissional... É um desafio amedrontador, mas vamos enfrentá-lo com a dignidade que nossos pais esperam de nós. Vamos ficar!
Ficamos. E, para nossa surpresa, o viver e Benjamim Constant não foi de todo penoso. Tivemos dias de muita alegria, desfrutamos de amizades nascidas também nas dificuldades que eram comuns a todos. A memória registra fatos pitorescos de nosso dia a dia naquela época, mas é assunto para outra oportunidade. O que importa para o momento é demonstrar como é necessário enfrentar situações adversas, não ceder ao assombro do primeiro obstáculo. É preciso encará-lo cofirmeza, coragem e vontade de vencer.
Na vida, às vezes, após a caminhada montanhosa e íngreme, surge no horizonte um vale margeado por planícies verdejantes e ricas de oportunidades. Foi o que aconteceu comigo. Depois de Benjamim Constant, de volta a Guajará-Mirim, enfrentei uma jornada de ostracismo, logo compensada com a duradoura e promissora passagem por Goiânia e depois por Londrina para, finalmente, culminar em Campinas, no Estado de São Paulo, onde hoje vivemos.
É certo que nem tudo foi um jardim florido. Houve momentos difíceis em que parecia eu o mundo ia desabar. O sereno equilíbrio que eclodiu dos 22 anos de Lourdes foi acionado por mais três vezes em que a minha saúde, com risco de vida, esteve na berlinda. Mas, a cada barreira dolorida e preocupante, a cada obstáculo desafiador interposto, longe de abalar nossos projetos, as colunas de fortificação na fé se transformaram em baluartes, como se fora um fortim invencível.
Olho para trás e contemplo o caminho percorrido, sem receio de encarar os erros, que sempre foram as fontes do verdadeiro aprendizado, pois os acertos foram tantos e produtivos, que ainda hoje me dão forças para puxar a alça da janela do tempo e sentir saudades com alegria.
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