Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Helder Caldeira

A vergonha dos e-books brasileiros


 

HELDER CALDEIRA
Escritor, Articulista Político, Palestrante e Conferencista

* Autor de “A Primeira Presidenta”, primeiro livro publicado no Brasil sobre a trajetória política da presidente Dilma Rousseff (Editora Faces, 207 páginas, 2011).
 
 

Os e-books são a sensação mundial em vendas da atualidade. São modernos, portáteis, práticos, de fácil compra e acesso e, principalmente, infinitamente mais baratos. No entanto, o mercado editorial brasileiro ainda não compreendeu essa dinâmica econômica dos livros digitais. Ou pior: compreendeu e está tentando lesar os consumidores para ganhar mais dinheiro enquanto for possível manter encoberta a farsa bandida ao grande público brasileiro. Você, caro leitor, está sendo literalmente roubado.

Vou tomar como grande exemplo o meu próprio caso, afinal, nada melhor que uma experiência pessoal para ilustrar um assunto tão delicado. Acredito que a maioria dos meus leitores, desde os mais distantes ricões às grandes capitais, tenha ciência de que eu lancei, no final de janeiro, o livro “A Primeira Presidenta”, com a honra de ser a primeira obra publicada no país sobre a trajetória política de Dilma Rousseff. Diante da morosidade das editoras na análise dos jovens autores e do cruel monopólio da intelectualidade reinante no Brasil, decidi arriscar tudo: banquei minha própria publicação, arcando com todas as responsabilidades, incluindo divulgação, marketing e afins.

Guardando ufanismos imbecis, mas sem ficar atolado em falsas modéstias, tive um resultado surpreendente e em questão de dias, com comércio exclusivamente digital, tinha vendido milhares de cópias. Como consequência imediata, algumas editoras começaram a me cercar interessadas em publicar meu trabalho, agora já reconhecido. Por não concordar com a política editoral anacrônica e até mesmo por certo rancor, neguei todas elas. E explico: depois que eu tinha me arriscado, bancado todo jogo e feito todo o trabalho, agora alguns estavam interessados em garfar uma fatia dos meus lucros. Simples assim.

Eis que a editora-chefe de uma empresa me apresentou aquela que considerei a melhor e mais justa proposta e nesta semana estamos chegando às livrarias e ao comércio eletrônico com “A Primeira Presidenta” pela Editora Faces, uma jovem e arrojada empresa, comandada por Bia Willcox, uma “mulher-alfa” que parece não dormir nunca. Sua proposta é perfeita: ser justa com o consumidor literário brasileiro e dar aos e-books a cara que eles realmente devem ter, como em qualquer outro lugar do planeta. Um livro digital, muito além da praticidade e da tecnologia embutidas em sua concepção, tem o dever absoluto de ser mais barato, mantendo uma expressa qualidade. E foi exatamente dentro desses critérios que a Editora Faces me seduziu. Me são caras e fascinantes a possibilidade brigar pela democratização do acesso aos livros digitais e a luta intransigente contra o monopólio intelectual e os roubos descarados a que os brasileiros estão sendo submetidos.

Parece papo de “comuna”? Não é não. Com a publicação do meu livro pela Editora Faces e o início das vendas, veio a grande surpresa: minha obra é uma das mais baratas do mercado atual. O livro está sendo vendido nos principais sites do país por apenas R$ 9,90. Ainda assim, eu estou recebendo minha devida e justa quantia pelos direitos autorais e a editora está ganhando seu naco para arcar com toda a equipe de profissionais envolvida no processo, além dos lucros e dos impostos, obviamente. Parece uma pizza pequena a ser dividida por muitos? É sim. Mas é justo. É honesto. Principalmente com os consumidores.

Enquanto isso, uma pesquisa rápida pelos sítios de comércio eletrônico me comprovaram o absurdo: livros cujas versões impressas são vendidas nas livrarias por R$ 40 estão sendo colocados à venda no formato e-book por algo entre R$ 35 e R$ 38. Ou seja, tanto os autores quanto às editoras estão enganando os consumidores e faturando alto com a padronização irresponsável de preços dos livros digitais no Brasil. Certamente, cada um desses e-books poderiam estar sendo vendidos por, no máximo, R$ 15. Mas há um cartel disposto a continuar lesando o bolso dos leitores enquanto essa realidade esquizofrênica permanecer no mercado editorial. Sinceramente, como escritor eu me sinto envergonhado e insultado com essa prática suja dos nossos “pseudonotáveis”.

Fique aqui o alerta: se você vai comprar um e-book e ele estiver sendo vendido por mais que R$ 20, tenha a certeza de que você está sendo descaradamente roubado. Nesse sentido, acredito no poder dinâmico do mercado em pressionar essas empresas por um preço justo para um produto cada vez mais moderno e que chegou para dominar o comércio literário. O e-book é uma realidade mundial e é sensacional. Mas o Brasil precisa, com urgência e no mínimo, corrigir sua compreensão sobre esse mercado. Caso contrário, vamos continuar no nosso atrasado atoleiro cultural.

Gente de Opinião

Fonte: HELDER CALDEIRA
Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista / http://twitter.com/heldercaldeira
www.magnumpalestras.com.br
heldercaldeira@estadao.com.br

Gentedeopinião / AMAZÔNIAS / RondôniaINCA / OpiniaoTV / Eventos
Energia & Meio Ambiente
/ YouTube / Turismo / Imagens da História

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Chegou a hora de enfrentar o STF

Chegou a hora de enfrentar o STF

A atual composição do Supremo Tribunal Federal é a pior de sua História. Não apenas pela desqualificação técnica de alguns ministros, mas pela postu

A tragicômica amnésia da esquerda

A tragicômica amnésia da esquerda

A estreia internacional do presidente Jair Bolsonaro revelou bem mais do que sua capacidade de quebrar protocolos oficiais, despistar a imprensa e i

O auxílio-moradia e a amnésia seletiva - Por Helder Caldeira

O auxílio-moradia e a amnésia seletiva - Por Helder Caldeira

Em recente entrevista ao apresentador Pedro Bial, na Rede Globo, o ministro Luiz Fux, atual presidente do TSE e relator no STF das ações que discutem

Povo fraco ceva porcos imundos - Por Helder Caldeira

Povo fraco ceva porcos imundos - Por Helder Caldeira

(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); HELDER CALDEIRA, Escritor. www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br *Autor dos livr

Gente de Opinião Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)