Segunda-feira, 13 de junho de 2022 - 12h05
A entrevistada da Academia
Rondoniense de Letras, Ciências e Artes – ARL desta semana, é Andrea Andreus da
Silva Figueiredo, advogada, educadora musical, pianista pós graduada, professora
de piano na Escola Municipal de Música Jorge Andrade, com apresentações bombásticas
no Teatro Amazonas (Manaus), no Teatro Guaporé, no Palácio das Artes (Porto
Velho) e no anfiteatro da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Andrea é
dona da cadeira nº 06 da ARL, cujo patrono é José Vicente de Melo e Silva.
1.
ARL – A música, com a escolha
recente de Gilberto Gil, teve seu representante na Academia Brasileira de Letras
- ABL, nós nos antecipamos, escolhemos você e o Ernesto Mello, como representantes
da música na Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes – ARL, desde 2020.
Como você se sentiu, ao saber dessa responsabilidade?
AA - Foi
uma surpresa agradabilíssima ter sido convidada a fazer parte da Academia, primeiramente
por ser a primeira mulher representando a música erudita em nosso Estado e
segundo por poder mostrar um outro viés para nossa população sobre o que é ser
um músico erudito.
2.
ARL – Qual a origem da sua
família? Você é rondoniense?
AA - Meus
pais são do Estado de Mato Grosso, meu pai nasceu na cidade de Poxoréu e minha
mãe na cidade de Rondonópolis. Contudo, na década de 80 meus pais chegaram em
nosso estado e no ano de 1984 nasci na cidade de Porto Velho, as margens do
suntuoso Rio Madeira.
3.
ARL − Como surgiu a música na
sua vida, notadamente a música clássica?
AA - Amo
falar sobre esse início, tudo começou no ventre de minha mãe que é pianista.
Durante toda a gestação ela estudava muito o piano, lecionava aulas de piano em
nossa residência, e isso influenciou com toda certeza em minha escolha para a
música. Cresci ficando debaixo do piano, ouvindo e observando os alunos,
enquanto tocavam. Aos 2 anos pegava o LP da coleção Mestres da Música e pedia
para minha mãe colocar para eu ouvir, segundo ela, eu ficava sentadinha no chão
da sala e ouvia atentamente as músicas que eram tocadas. Eu sempre pedia para
ela me ensinar a tocar piano, mas somente aos 3 anos e meio adentrei, de fato, no
estudo do piano.
4. ARL –
Por que o piano?
AA - Boa
pergunta, embora minha mãe fosse pianista eu poderia ter escolhido outro
instrumento sim, mas o piano sempre achei lindo, 88 teclas que poderiam
proporcionar a execução das mais belas músicas e me desafiar, completamente,
como fazem até hoje. Amo ser desafiada e o piano faz isso comigo até os dias
atuais. A decisão de ser pianista surgiu a partir de um diálogo com minha mãe,
quando estávamos resolvendo um problema de matemática quando tinha uns 8 anos
de idade, sempre tive dificuldade com essa disciplina e não acertava as
respostas dos problemas. Indignada com a situação virei para minha mãe e disse:
“Por que vou ter que estudar matemática se vou ser pianista quando crescer?”, Sempre
digo para ela que é culpa dela eu ser pianista, hoje. Sou extremamente grata
pelos meus pais, eles me apoiaram, me apoiam, incondicionalmente, e isso faz
toda diferença na vida de um músico.
5. ARL –
Um dos nossos confrades, escritor William Haverly Martins, escreveu uma crônica,
A Janela Alucinógena, no seu livro De Que Me Vale a Janela sem a Vista? Pág. 85
Editora Temática – 2019, declarando a sua paixão, pelas imagens (Youtube) da
ucraniana Anna Fedorova, interpretando ao piano o concerto nº 2 do russo Sergei
Vassilievitch Rachmaninoff, compositor, pianista e maestro. Dizem que sua mãe,
ainda grávida, gostava de interpretar, ao piano, o renomado compositor,
gostaríamos de saber: vem do útero a influência de Rachmaninoff na sua
trajetória artística?
AA - Com
certeza, Rachmaninoff é um dos meus compositores favoritos, esse Concerto
número 2 para piano e orquestra é o mais conhecido no seio pianístico e o mais
tocante para mim. Muitos pianistas o executam, e aproveito para externar que o
Concerto de número 3 para piano e orquestra é um dos mais temidos, pelo seu
grau de dificuldade, para os pianistas. Apesar de amar Rachmaninoff, executo
poucas obras dele por questões anatômicas, minhas mãos são extremamente
pequenas, consigo alcançar de forma satisfatória um espaço de 9 teclas e as
obras de Rachmaninoff, em sua grande maioria, exigem um espaço muito maior de um
acorde tocado simultaneamente.
6. ARL – A
nota máxima, em Concurso recente para o cargo G204 – Músico – Habilitação: Piano
− da Universidade Federal de Goiás, a surpreendeu?
AA - Até
o presente momento ainda não acredito, tirar nota máxima em uma prova prática
realmente é algo inacreditável no meio musical. Digo isso porque foram 10
pianistas, classificados para a segunda fase, e inevitavelmente os próprios
candidatos verificam o currículo dos oponentes. Dos 10 candidatos, eu era a
única com uma pós-graduação, que embora fosse na área de música não era em
performance pianística. A maioria dos candidatos estudaram foram do país e
tinham muita experiencia em performance pianística. No primeiro momento
confesso que fiquei um pouco desanimada, mas como nesse concurso não havia
prova de títulos resolvi me entregar totalmente aos estudos para realizar uma
excelente prova prática. Foi extremamente desafiador porque além de escolher um
bom repertório eu tinha também que levar meus músicos para a prova, que, nesse
caso, eram um cantor e uma clarinetista. Tive apenas 2 dias para realizar os
ensaios e deixar o repertório bem trabalhado. Além desse desafio, tive que
duelar comigo mesma, estudar um repertório camerístico não é fácil, ainda mais
erudito. Estava adormecida dos estudos pianísticos há anos, posso dizer que
estudei “de verdade” até o ano de 2005, deixo claro que nunca deixei de ‘tocar
piano’, mas ‘estudar piano’ é bem diferente. Digo isso porque de 2005 para cá
me dediquei a pedagogia pianística, deixei de ser performance, para lecionar. É
uma linha difícil de conciliar, a vida de uma performance se assemelha a de um
atleta. São horas de dedicação de disciplina diária para a perfeição ao tocar
para o público. Assumindo esse cargo na Universidade Federal de Goiânia terei
que voltar para essa disciplina e isso me deixa extremamente feliz pois sempre
foi meu sonho ser performance. Tive apenas 1 mês e meio para me dedicar a essa
prova e convencer uma banca renomada que teria condições de assumir uma
atividade, com maestria, que é a de pianista correpetidora, não foi fácil!
Estou feliz demais, mesmo!
7. ARL – Durante
as festividades de sua posse, na ARL, em 14 de março de 2020, você brindou os
presentes com a interpretação da Bohemian Rhapsody, do Queen, arrancando
aplausos e gritos de bravo, bravo, da plateia, inclusive de um membro da mesa
de personalidades, General Luciano Batista de Lima, também pianista, que não se
cansava de repetir em voz baixa: − mas que espetáculo, a interpretação dessa
música é dificílima. Por que é tão difícil interpretar o Queen?
AA - Queen
é genial, contudo, Freddie Mercury é a peça principal, em especial na
composição dessa música. Freddie possuía base erudita pianística e isso foi
primordial para a composição dessa obra. Outro compositor que acho genial, que também
possui base erudita, é o grandioso Tom Jobim, em suas obras é notória a influência
de Debbusy e Ravel, compositores do período impressionista da história da
música ocidental.
8. ARL –
Você é professora de piano da Escola Municipal de Música Jorge Andrade,
indicada para alunos de classe média baixa. Sendo o piano um instrumento caro e
elitizado, foi fácil conseguir alunos?
AA - Penso
que a música precisa ser acessível a todos. Para embasar essa minha afirmação
preciso contar um fato verídico que aconteceu em minha família. A família de
minha mãe era composta pelo meu avô, minha avó e mais 6 filhos. O poder
aquisitivo deles era baixo, viviam de forma modesta. Pois bem, aos 13 anos de
idade, minha mãe começou os estudos de piano na igreja em que a família
frequentava. Passados alguns meses, meu avô conseguiu uma quantia em dinheiro e
deu entrada em um piano e chegou com esse piano, em casa. Minha avó quase teve
um surto, como faria para pagar o restante do piano? Pois bem, minha mãe
começou a lecionar desde então e conseguiu terminar de pagar as parcelas
restantes. Com as aulas de piano, minha mãe fez com que as irmãs dela
estudassem piano e hoje uma das minhas tias possui o bacharelado em piano pelo
Conservatório Brasileiro de Música, minha mãe fez o técnico em piano, minha
outra tia é pedagoga e sua tese de mestrado tem a ver com a temática musical.
Tenho atualmente duas primas que possuem o bacharelado em música e vivem
integralmente da música. Todo esse desenrolar familiar, por conta de um piano
comprado há mais de 40 anos. Portanto, afirmo que a semente precisa ser
plantada, o acesso ao instrumento precisa ser proporcionado. Os frutos? Uma
hora virão. Preciso citar também que fui aluna dessa Escola Municipal de Música
nos anos de 1992 até 2000, sendo aluna da professora Llítsia Moreno e faço
parte desse Centro de Artes, como docente em piano, de 2011 até os dias atuais.
9. ARL – Quais
são seus sonhos, na música? Rondônia está perdendo sua pianista maior, para o
estado de Goiás?
AA - Meu
sonho é tocar o máximo que puder; tocar com orquestra, fazer muita música de
câmara, viajar por esse mundão de meu Deus com meu piano. Rondônia não me
perdeu não, sempre que puder voltarei pois é o estado que acolheu meus pais e
sou filha dessa terra.
10.
ARL – Nós temos um sonho: seria um sarau de
música clássica, na última sexta feira de cada mês, com traje de gala, no
mínimo passeio completo, no Teatro Estadual Palácio das Artes, em Porto Velho.
O que você acha da ideia?
AA – Espetacular!!!
Porto Velho merece um sarau dessa categoria. Adoraria participar!!! Tomara que
a ARL consiga realizar mais esse sonho.
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