Segunda-feira, 25 de abril de 2022 - 12h59
Esta
semana a Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes – ARL tem o prazer de
entrevistar a artista plástica Maria das Graças Pereira de Miranda Lopes ou
simplesmente Maria Miranda, a mineirinha que empresta seu talento às artes
visuais e ocupa a cadeira nº 24 da ARL, cujo patrono é Afonso Ligório de Souza.
1. ARL – Para
iniciar, gostaríamos que você narrasse em rápidas pinceladas a sua trajetória até
chegar a este nosso querido e seguro porto, tornando-se pioneira no ensino das
artes visuais.
MM - Sou a primogênita de 7 irmãos de uma cidade interiorana de
Minas Gerais, onde a cultura é componente obrigatório. Muito cedo, antes de completar 10 anos de
idade, fui estudar interna em Belo Horizonte, capital. Foram onze anos de
estudo formal, época em que entrei em contato com a Arte. Tive acesso ao mundo
das artes plásticas; conheci várias obras de arte, pinturas, esculturas, obras
clássicas do ocidente, bem como obras de arte de outras culturas como a
oriental, a africana e a islâmica. Logo me identifiquei em qual área queria
atuar. A partir desta época me especializei em Arte/educação para crianças. No Colégio
Sta. Marcelina lecionei o Mobral para um público diversificado. Foi uma
experiencia de aprendizado gratificante. Quando constitui família viemos para o
Território Federal de Rondônia. Aqui coloquei em prática meu aprendizado
em Arte/educação para alfabetizar meus filhos e alguns amigos.
2. ARL – Você estudou
artes plásticas ou o seu talento nasceu com você? Ou seja, você explora a simplificação formal, como por exemplo,
no uso da perspectiva e das temáticas populares?
MM
- Estudei
e estudo até os dias atuais. Nasci com uma habilidade, com um dom, porém
procuro valorizar o empírico com mais conhecimento técnico e formativo,
buscando sempre me atualizar. Fiz faculdade de Belas Artes, pós graduação e
mestrado, na cidade de Uberaba., mas sempre voltava a Ariquemes e Porto Velho,
para exposições e trabalhos artísticos.
3. ARL - Você se considera uma artista naif, adepta da arte naif? Qual a
influência dos artistas modernistas no seu trabalho, excepcionalmente Tarsila
do Amaral?
MM
- Sou
adepta de vários estilos. O estilo naif,
por ser uma corrente artística que não se prende à formalidade técnica, por
ser espontâneo, original, é uma pintura de fácil entendimento para
"leitura de mundo", tanto para crianças, quanto para adultos Quanto
ao meu trabalho, na escola, com Tarsila do Amaral, artista brasileira,
modernista, pedagogicamente, considero sua arte, as cores, as formas, ideais como exemplo de pertencimento
(valoriza as regiões brasileiras), sentimento que é primordial para ilustrar
aulas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental.
4. ARL – A gente sabe
que você é mestra na arte de usar as aquarelas, esta é a sua técnica preferida?
MM – Sim gosto muito de trabalhar com aquarelas. Posso
dizer que é a minha técnica preferida: a tinta é a base d’água, não é tóxica e
é de fácil manuseio para se trabalhar, principalmente com crianças.
5. ARL – Além de ter
lecionado em escolas públicas e de ter contribuído na formação de outros
professores, no seu ateliê, você dá aulas pra todas as idades, inclusive para
excepcionais, presidiários, idosos e bebês, o que faz de você uma referência no
ensino das artes, como é trabalhar com tantas diferenças, qual o segredo?
MM – Não há segredo, quando
você faz as coisas com amor! Se quiser pode dizer que o segredo é o amor. Eu
ponho amor em tudo que faço. Para mim, cada indivíduo é único. Ao ensinar
existe uma troca, uma simbiose. Eu ensino e aprendo com cada pessoa. Ademais sabe-se
que uma sociedade não se desenvolve sem cultura, a cultura abre portas,
funciona como orientação ética, simultaneamente é ferramenta para formação de
senso crítico, oportunizando ao indivíduo a percepção do certo e do errado.
6. ARL – A crítica fala
muito do ecletismo nas artes visuais, você é eclética?
MM – Eu me considero eclética.
Já dei aulas de introdução ao desenho, já trabalhei com pintura a óleo,
acrílica, aquarela, já fiz pirogravura no couro, eu mesclo técnicas, estilos. Dependendo
do contexto da época, minha pintura vai do barroco ao contemporâneo. Já decorei
escolas de samba, boutiques, enfim mais eclética do que isso, impossível.
7. ARL – A gente sabe
que você fez parte de um projeto de alfabetização através das artes, como foi
esse processo?
MM - Trabalhar arte na educação/escola
é um estímulo para o desenvolvimento da criatividade, auto confiança,
criticidade, compreensão do novo, consequentemente ampliação do conhecimento. O
projeto que participei foi concluído com sucesso, principalmente na relação da
arte/educação com outras matérias intrínsecas do currículo. As práticas
pedagógicas foram aplicadas independentes de alguns contratempos. Foi
gratificante perceber que muitas crianças conseguiram entender e apreender o
conteúdo.
8. ARL – Nas
dependências da SEMED, uma tela de sua autoria, cujo tema é o sentido do
carnaval, faz muito sucesso. Na sua idade, como você faz para conciliar
inspiração com transpiração?
A Antropologia, ciência que
estuda o comportamento humano, vale-se da arte, de suas pinturas para que as
pessoas entendam uma época histórica. Baseada nesta ideia, escolhi, para contar
a origem do Carnaval, um grupo de pessoas, um trio: Arlequim, Colombina e
Pierrot, personagens clássicas de uma comédia italiana do século XVI. A partir da inspiração, da pesquisa, parti
para o ato do fazer artístico, a transpiração. Neste contexto a idade não prevalece,
mas sim a elaboração, o prazer em construir algo para ilustrar, com poucas
imagens, o símbolo do tema da maior festa brasileira, o "Carnaval”.
9. ARL – É possível
viver apenas de arte?
MM - No Brasil, viver de arte
é arriscado. Porém, como todas as profissões, ter ou não sucesso depende de
fatores variados. Conciliando ensinar como profissão e pintar como segunda
profissão, acredito que é possível viver só de arte, ou seja, um ateliê para
ensinar, em parceria com o estado e o município, e outro para divulgar e vender
a sua produção artística.
10. ARL – Além de artista plástica você é exímia
cozinheira, aplaudida por todos os seus colegas, como você concilia as artes
visuais com a arte de cozinhar?
MM – Cozinhar é uma atividade
criativa, que envolve emoções, percepções, sua elaboração mexe com os cinco
sentidos. E a maior "pitada" é o amor. O sucesso, em qualquer atividade,
depende da pitada de amor que você coloca no fazer. Na cozinha, então, é
fundamental você conciliar prazer com sabor. Você não imagina como me sinto
feliz, quando vejo a cara de satisfação de uma pessoa, ao saborear uma comida
produzida por mim, ainda que seja um familiar. A língua, ao desvendar as
nuances do sabor, é a porta de entrada do coração, modificando o semblante.
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