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As artes plásticas na alfabetização


Miranda Lopes  - Gente de Opinião
Miranda Lopes

Esta semana a Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes – ARL tem o prazer de entrevistar a artista plástica Maria das Graças Pereira de Miranda Lopes ou simplesmente Maria Miranda, a mineirinha que empresta seu talento às artes visuais e ocupa a cadeira nº 24 da ARL, cujo patrono é Afonso Ligório de Souza.

 

1.    ARL – Para iniciar, gostaríamos que você narrasse em rápidas pinceladas a sua trajetória até chegar a este nosso querido e seguro porto, tornando-se pioneira no ensino das artes visuais.

MM - Sou a primogênita de 7 irmãos de uma cidade interiorana de Minas Gerais, onde a cultura é componente obrigatório.  Muito cedo, antes de completar 10 anos de idade, fui estudar interna em Belo Horizonte, capital. Foram onze anos de estudo formal, época em que entrei em contato com a Arte. Tive acesso ao mundo das artes plásticas; conheci várias obras de arte, pinturas, esculturas, obras clássicas do ocidente, bem como obras de arte de outras culturas como a oriental, a africana e a islâmica. Logo me identifiquei em qual área queria atuar. A partir desta época me especializei em Arte/educação para crianças. No Colégio Sta. Marcelina lecionei o Mobral para um público diversificado. Foi uma experiencia de aprendizado gratificante. Quando constitui família viemos para o Território Federal de Rondônia. Aqui coloquei em prática meu aprendizado em Arte/educação para alfabetizar meus filhos e alguns amigos.

2. ARL – Você estudou artes plásticas ou o seu talento nasceu com você? Ou seja, você explora a simplificação formal, como por exemplo, no uso da perspectiva e das temáticas populares?

MM - Estudei e estudo até os dias atuais. Nasci com uma habilidade, com um dom, porém procuro valorizar o empírico com mais conhecimento técnico e formativo, buscando sempre me atualizar. Fiz faculdade de Belas Artes, pós graduação e mestrado, na cidade de Uberaba., mas sempre voltava a Ariquemes e Porto Velho, para exposições e trabalhos artísticos.

3. ARL - Você se considera uma artista naif, adepta da arte naif? Qual a influência dos artistas modernistas no seu trabalho, excepcionalmente Tarsila do Amaral? 

MM - Sou adepta de vários estilos. O  estilo naif, por ser uma corrente artística que não se prende à formalidade técnica, por ser  espontâneo, original,  é uma pintura de fácil entendimento para "leitura de mundo", tanto para crianças, quanto para adultos  Quanto  ao meu trabalho, na escola, com Tarsila do Amaral, artista brasileira, modernista, pedagogicamente, considero sua arte, as cores, as formas,  ideais como exemplo de pertencimento (valoriza as regiões brasileiras), sentimento que é primordial para ilustrar aulas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental.

4. ARL – A gente sabe que você é mestra na arte de usar as aquarelas, esta é a sua técnica preferida?

MM – Sim gosto muito de trabalhar com aquarelas. Posso dizer que é a minha técnica preferida: a tinta é a base d’água, não é tóxica e é de fácil manuseio para se trabalhar, principalmente com crianças.

5. ARL – Além de ter lecionado em escolas públicas e de ter contribuído na formação de outros professores, no seu ateliê, você dá aulas pra todas as idades, inclusive para excepcionais, presidiários, idosos e bebês, o que faz de você uma referência no ensino das artes, como é trabalhar com tantas diferenças, qual o segredo?

MM – Não há segredo, quando você faz as coisas com amor! Se quiser pode dizer que o segredo é o amor. Eu ponho amor em tudo que faço. Para mim, cada indivíduo é único. Ao ensinar existe uma troca, uma simbiose. Eu ensino e aprendo com cada pessoa. Ademais sabe-se que uma sociedade não se desenvolve sem cultura, a cultura abre portas, funciona como orientação ética, simultaneamente é ferramenta para formação de senso crítico, oportunizando ao indivíduo a percepção do certo e do errado.

6. ARL – A crítica fala muito do ecletismo nas artes visuais, você é eclética?

MM – Eu me considero eclética. Já dei aulas de introdução ao desenho, já trabalhei com pintura a óleo, acrílica, aquarela, já fiz pirogravura no couro, eu mesclo técnicas, estilos. Dependendo do contexto da época, minha pintura vai do barroco ao contemporâneo. Já decorei escolas de samba, boutiques, enfim mais eclética do que isso, impossível.

7. ARL – A gente sabe que você fez parte de um projeto de alfabetização através das artes, como foi esse processo?

MM - Trabalhar arte na educação/escola é um estímulo para o desenvolvimento da criatividade, auto confiança, criticidade, compreensão do novo, consequentemente ampliação do conhecimento. O projeto que participei foi concluído com sucesso, principalmente na relação da arte/educação com outras matérias intrínsecas do currículo. As práticas pedagógicas foram aplicadas independentes de alguns contratempos. Foi gratificante perceber que muitas crianças conseguiram entender e apreender o conteúdo.

8. ARL – Nas dependências da SEMED, uma tela de sua autoria, cujo tema é o sentido do carnaval, faz muito sucesso. Na sua idade, como você faz para conciliar inspiração com transpiração?  

A Antropologia, ciência que estuda o comportamento humano, vale-se da arte, de suas pinturas para que as pessoas entendam uma época histórica. Baseada nesta ideia, escolhi, para contar a origem do Carnaval, um grupo de pessoas, um trio: Arlequim, Colombina e Pierrot, personagens clássicas de uma comédia italiana do século XVI.  A partir da inspiração, da pesquisa, parti para o ato do fazer artístico, a transpiração. Neste contexto a idade não prevalece, mas sim a elaboração, o prazer em construir algo para ilustrar, com poucas imagens, o símbolo do tema da maior festa brasileira, o "Carnaval”. 

9. ARL – É possível viver apenas de arte?

MM - No Brasil, viver de arte é arriscado. Porém, como todas as profissões, ter ou não sucesso depende de fatores variados. Conciliando ensinar como profissão e pintar como segunda profissão, acredito que é possível viver só de arte, ou seja, um ateliê para ensinar, em parceria com o estado e o município, e outro para divulgar e vender a sua produção artística.

10.  ARL – Além de artista plástica você é exímia cozinheira, aplaudida por todos os seus colegas, como você concilia as artes visuais com a arte de cozinhar?

MM – Cozinhar é uma atividade criativa, que envolve emoções, percepções, sua elaboração mexe com os cinco sentidos. E a maior "pitada" é o amor. O sucesso, em qualquer atividade, depende da pitada de amor que você coloca no fazer. Na cozinha, então, é fundamental você conciliar prazer com sabor. Você não imagina como me sinto feliz, quando vejo a cara de satisfação de uma pessoa, ao saborear uma comida produzida por mim, ainda que seja um familiar. A língua, ao desvendar as nuances do sabor, é a porta de entrada do coração, modificando o semblante.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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