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Entrevista exclusiva com o professor Célio Leandro


Professor Célio Leandro da Silva - Gente de Opinião
Professor Célio Leandro da Silva

Nesta semana a atual diretoria da Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes - ARL entrevista o professor Célio Leandro da Silva, paraense de Uruará, historiador, mestre, doutorando, ex-diretor da Biblioteca Municipal Francisco Meireles, atual diretor da EEEFM Major Guapindaia e membro efetivo da ARL, onde ocupa a cadeira 23, cujo patrono é José Pontes Pinto. Porto Velho, março de 2022.

1.   ARL − Quem é Célio Leandro da Silva? Responda como se estivesse diante do espelho, enxergando a parte do seu corpo que abriga o coração, seus sentimentos e emoções.

Célio Leandro é um típico caboclo do interior, nascido às margens da rodovia Transamazônica, último de doze filhos. Aos 13 anos chegou nas terras de Rondon como mais um, em busca do “Eldorado”. Acolhido por família pioneira, foi açougueiro, lavador de carro, feirante, vendedor de jornal (onde conheci os caminhos da leitura). Apaixonado por nossa História, busquei (e ainda busco) conhece-la e acima de tudo, vivenciar ... Graduação, especialização, mestrado e doutorado na área de História Regional, contudo, minha maior aprendizagem sempre foi na “conversa”, tenho o privilégio de experienciar nossa história com grandes ícones, foram tardes com Esron de Menezes, dividi palestras com Anísio Gorayeb, frequentei a casa de Eunice Bueno, fui aluno de Mário Sávio (quanta sapiência e inspiração); mas também tive a honra de aprender com personagens não tão conhecidos, como seu Raimundo, o construtor de dormentes, seu Antônio açougueiro, dona Graça da banca de revista e tantos outros que por minha vida passaram e deixaram marcas de suas vivências.

     Sou um apaixonado (agora mais que nunca), creio que a paixão é a grande energia que move o mundo. Paixão pelo conhecimento, pelo desafio, pelo trabalho, pela família ... Paixão pela busca, por uma coleção, por mais uma manhã, paixão por um novo amor, enfim, PAIXÃO.

2. ARL − Quantos e quais livros você já escreveu e publicou?

Terra Sem História – Identidade e História na Amazônia de Euclides da Cunha, publicado pela PUC/RS faço uma análise acerca dos escritos euclidianos sobre a vivência dos seringueiros na Amazônia;

O Ritual de Judas na Amazônia, publicado pela Temática Editora. Nesta obra mergulho na pureza da religiosidade dos ribeirinhos em torno do personagem e ritual de “malhar o Judas”;

Encontro de Gigantes: Euclides da Cunha e Plácido de Castro na Amazônia, Imediata Editora. Um encontro inusitado, dois grandes líderes passam 7 dias em uma viagem pela Amazônia, o resultado: Histórias de muita luta e trabalho;

História Rondoniana: História de Rondônia em uma Perspectiva Didática. Temática Editora. História da ocupação do oeste amazônico numa versão didática com indicação de leitura e questões voltadas para a compreensão de cada fase de ocupação.

Jorge Teixeira – 100 anos de História. Editora Imediata. Revista alusiva ao centenário de Jorge Teixeira de Oliveira, o construtor de Rondônia. Conta com artigos de personalidades que conviveram e/ou pesquisaram sobre este grande personagem de nossa História.

3.   ARL − Nós temos em Rondônia vários historiadores, na sua opinião, por que o Governo do Estado, através da Seduc, nunca se preocupou em patrocinar livros de historiadores regionais, que seriam posteriormente adotados nas escolas?

O sistema púbico é muito complexo, temos excelentes obras, não somente o campo da história, que poderia está contribuindo para a aprendizagem/educação de nossos jovens. Infelizmente uma série de “amarras” burocráticas dificultam a aquisição, falo por experiência, não depende de “querer” e sim de mudança estrutural/legal. Torço para que possamos encontrar um mecanismo de apoio a divulgação de obras regionais

 

 

 

 

 

4.   ARL – Recentemente, o Governador e a cúpula da Seduc se reuniram no auditório do Major Guapindaia para homenagear a diretoria e professores do MG, pelo sucesso dos alunos desta prestigiada instituição de ensino, nas provas do ENEM, notadamente no quesito redação. O que você fez no pré ENEM, diferente das outras escolas, para alcançar o festejado sucesso?

Conseguimos um conjunto de fatores que favoreceu este resultado, foi um processo que refletiu muito os esforços da equipe. Nossos professores têm uma dedicação ímpar, obedecendo a um projeto da escola, com carga horária e currículo escolar diferenciados. Creio que a presença da família na escola tem feito diferença, embora o período da pandemia não nos permitiu muito, mas fizemos e fazemos questão desta presença. No Major buscamos realizar mutirões, jogos, reuniões ... nossa comunidade participa efetivamente da escola, há um pertencimento. Além disso, recebemos um grande apoio governamental, conseguimos, com esse apoio, estruturar a escola, criar um ambiente favorável à aprendizagem.

É fundamental levarmos à finco o que preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96 (Brasil, 1996), em cujo artigo segundo afirma-se “A Educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Quando cada elemento do processo assumir sua responsabilidade de fato, a educação se faz. É o que buscamos.

 

5.   ARL – Uns elogiam, outros criticam, qual a sua opinião sobre o ensino remoto? Os alunos melhoraram ou pioraram estudando em home office, nestes tempos de pandemia?

Entendo que o modelo de ensino que vivenciamos era o que tínhamos para o momento, devido a situação, professores tiveram que virar youtubers, programadores, técnicos em informática, enfim, funções até então inéditas para a grande maioria. Se a aprendizagem foi comprometida? Diria que foi diferente. O ensino virtual teve que contar, necessariamente, com a família, a pandemia exigiu muitas adaptações em casa, o que também provoca diversas dúvidas. Uma das mais comuns está relacionada ao papel da família nas aulas remotas, pois esse ajuste exige organização da rotina dos moradores, apoio aos filhos em período de aprendizagem e flexibilidade para conciliar os demais afazeres.

O processo de ensino-aprendizagem, por si, já é complexo, e a sua virtualização acarretou novos desafios. Nesse contexto, a união da família é importante para tornar essa experiência mais prazerosa e formadora. Similarmente, a relação com a escola tem um impacto significativo. Uma realidade a pandemia nos trouxe: será impossível uma educação desvinculada das mídias e modelos virtuais vivenciados na pandemia, o processo educativo está vivenciando (infelizmente por força de uma situação pandêmica) uma nova era, negar ou não participar é retrocesso. 

O processo de ensino-aprendizagem, por si, já é complexo, e a sua virtualização acarretou novos desafios. Nesse contexto, a união da família é importante para tornar essa experiência mais prazerosa e formadora. Similarmente, a relação com a escola tem um impacto significativo.

 

6.   ARL − Quais suas ações, enquanto diretor do colégio Major Guapindaia e ex-diretor da Biblioteca Pública Municipal Francisco Meirelles, pela divulgação da literatura regional?

Há uma grande carência em nossa sociedade de atividades voltadas para o estímulo à leitura, em nossa gestão na Biblioteca estimulamos a criação de clubes de leitura, realizamos concursos de contos, poemas e fotografia e implantamos um projeto onde direcionávamos estudantes a vivenciar a biblioteca onde e seus espaços de leitura.

Projetos de estímulo à leitura são louváveis, contudo acredito que a família, mais uma vez, tem um papel primordial no processe. O ambiente familiar e as experiências que a criança vive em seu dia a dia têm grande influência no seu desenvolvimento. Isso é verdade também no que diz respeito à leitura: o hábito de ler em família ajuda no desempenho escolar durante a infância, contribuindo para a aprendizagem ao longo da vida. Segundo a pedagoga Cláudia Onofre, a criança que traz o hábito da leitura de casa é mais participativa, se coloca no lugar do outro, tem uma imaginação fértil e mais facilidade em partilhar objetos, espaço e conhecimento. 

 

7.   ARL − Pelas suas publicações em grupos de WhatsApp, percebe-se que você é um adepto fervoroso da literatura de autoajuda? Você acredita mesmo nesse tipo de literatura ou é apenas porque você sabe que se trata de uma leitura fácil, de baixo custo, que não requer grande esforço mental para a compreensão do texto, ademais são obras muito bem difundidas pela mídia, reforçadas por veículos de comunicação respeitáveis e que propõem soluções simples, nem sempre válidas ou efetivas, para problemas complexos?

Não me vejo como um “adepto de literatura de autoajuda”, o que publico são frutos de reflexos diárias acerca da vida, relações sociais, amadurecimento, e, apesar de pouca idade (rsrsrs) são reflexões de minha vivência. Por si só a leitura é algo que contribui para o aumento do conhecimento, o desenvolvimento pessoal e profissional, além de ampliar o vocabulário e melhorar o repertório cultural, além de tantos fatores que contribuem para o indivíduo que tem o hábito de ler. A leitura é o melhor exercício para estimular o cérebro, e manter a capacidade mental em forma, creio que minha contribuição vem mais por esse viés.

 Estudos confirmam que a nossa mente é associativa e vincula as informações aleatoriamente, seguindo uma lógica que só ela entende. Atribui significados e símbolos a partir de acontecimentos que nos emocionaram em algum momento. Significados esses, que nos impactaram, aterrorizaram e apaixonaram, os traçando de tal modo que para deixarem de funcionar automaticamente, deve ser feito um trabalho de anulação voluntária.

Se uma pessoa acha que um texto reflexivo não serve para nada, mesmo se esbarrando com informações que podem ajuda-la. é possível que ele não tenha nenhum efeito. No entanto, para uma pessoa que realmente acredita nessas informações, sempre haverá bons resultados. Por enquanto, me sinto bem ao publicá-los, sem grandes pretensões) e com o retorno percebido.

 

8.   ARL − Para a professora e psicóloga Eunice Madeira a falta de contato físico entre as pessoas, principalmente neste período de pandemia, nos deixou órfãos da química olho no olho, daí que quem faz a opção pela divulgação ou produção de textos de autoajuda o faz não para o próximo, mas para o seu íntimo, esse universo onde habita a magia da solidão.  Favor comentar. Enfim, você acredita na literatura de autoajuda como terapia?

Reiterando que não considero os textos que publico uma “autoajuda”, sei que a literatura de autoajuda é, na contemporaneidade, um dos gêneros mais consumidos pelos leitores. A autoajuda literária é configurada por um conjunto de obras que tem por objetivo fazer o leitor pensar sobre seus próprios problemas ou aprimorar suas habilidades e, para isso, as narrativas do gênero fornecem variadas alternativas para todo tipo de assunto. Faço reflexões que, certamente demonstram uma busca interna, mas que considero formas de inspiração (os textos publicados). Tenho recebido excelente retorno, comentários de leitores de como os textos os têm ajudado, cobranças nos dias que não consigo publicar, enfim, em última instância, os textos estão estimulando o hábito da leitura, o que já me motiva a continuar.

 

9.   ARL – O que significa a ARL na sua vida? De que forma você poderá contribuir para divulgar a ARL nas escolas públicas?

 

Ser membro efetivo de uma academia de letras por si só, já é motivo de orgulho e reconhecimento pessoal, fazer parte de um seleto grupo nos torna responsável pelo que se propõe esse grupo, ARL significa uma busca pelos caminhos da literatura, participar da Academia me torna responsável pela defesa e divulgação de seus princípios.

Sempre defendi a ideia de que a Academia deve estar onde o leitor estiver, onde ele se encontra e as escolas certamente devem ser o local da Academia. Pretendo, junto com nobres confrades, realizar essa aproximação. Imagino um fim de tarde, numa escola, uma leitura de um conto com William Haverly Martins, acompanhado de uma bela composição clássica com Andréa Figueiredo, poemas do professor Dettoni em meio à exposição de Angella Schilling, são exemplos de inúmeras configurações de eventos possíveis, certamente uma maneira de estímulo e vivência da academia com seu público.

 

10.               ARL – De que forma o professor pode preencher a ânsia característica do aluno do ´século 21, por conhecimento, conselhos, sugestões, caminhos e orientações, concorrendo com o celular, na reflexão filosófica do dia a dia?

 

O ato de ensinar por si só é um desafio e tanto. E lidar com uma grande diversidade de alunos acaba exigindo muitas competências do professor, que tem papel fundamental na preparação deles. Em qualquer época essa é uma atividade desafiadora, mas podemos dizer que as mudanças ocorridas ao longo do tempo aumentaram as exigências para esse tipo de profissional. Afinal, é enorme a responsabilidade de formar pessoas, no mundo de hoje.

Não podemos vislumbrar as chamadas “novas mídias” como um concorrente, é fato. Daí o desafio só aumenta, como contribuir para “preencher a ânsia” e ao mesmo tempo, despertar a criticidade de nossos jovens diante de turbilhões de informações? Aliando-nos e eles. A ideia é buscar, onde o jovem se encontra, mecanismos de atração, de reflexão e de criticidade.

É sem dúvidas uma tarefa nada fácil, de acordo com a Stanford Encyclopedia of Philosophy, a adoção do pensamento crítico como objetivo educacional foi “recomendada com base no respeito à autonomia dos estudantes e na preparação destes para o sucesso na vida e para a cidadania democrática”. Além disso, “demonstrou-se experimentalmente que a intervenção educacional aprimora as habilidades do pensamento crítico, principalmente quando inclui diálogo, instrução ancorada e orientação”.

Esses argumentos, sem dúvida, fazem da escola um bom ambiente para que a criança/adolescente desenvolva as habilidades necessárias ao pensamento crítico, uma vez que está exposta a um sem-número de informações propícias ao fomento de reflexões consistentes. Mais uma vez, o papel do professor-formador ganha notória importância.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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