Segunda-feira, 27 de junho de 2022 - 10h11
Entrevista com o jornalista
goiano Marco Aurélio do Nascimento Anconi, membro da Associação da Imprensa de
Rondônia, ex-editor de Comunicação Interna do Decom, órgão responsável pela
comunicação governamental em Rondônia, criador do Brasão de Armas do Estado de Rondônia, ocupante da cadeira 33 da Academia Rondoniense de Letras
Ciências e Artes – ARL, cujo patrono é Bolívar Marcelino.
1. ARL –
De Goiânia para Rondônia, como se deu esta travessia?
Marco – Em
1980, em Goiânia, tínhamos uma equipe de demonstração de paraquedismo e fomos
convidados pela equipe do Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, paraquedista
militar, então governador do Território Federal de Rondônia, para participarmos
da inauguração do Parque dos Tanques.
Como
eu era diretor de criação e de arte de uma grande agência de propaganda (Type
House) e sempre que viajava levava meu portfólio, pois ainda não havia meios
eletrônicos nem computadores pessoais, era tudo feito à mão e, no máximo, com
fotografias e filmagens analógicas.
Após o
salto um dos diretores (Reginaldo Vasconcelos) da Secretaria de Estado de
Planejamento e Coordenação Geral (Seplan) ao ver meus trabalhos publicitários
pediu que eu ficasse até segunda-feira para os mostrar ao secretário da Seplan,
José Renato da Frota Uchôa. Concordei e fomos até o braço direito do governador
que, ao ver página por página me perguntou o que eu queria para me mudar para
Porto Velho e ajudar na transição de Rondônia de território para estado.
A
resposta foi: Nada, não tinha interesse em vir para cá, pois estava no auge da
minha carreira profissional em uma capital em franco crescimento. Ele não se
deu por vencido e insistiu... Ponderei e disse: Então quero o máximo! Eu tinha
um salário excelente na Type House em Goiânia, mas a proposta do governo
federal para me trazer foi dez vezes o que ganhava lá. Tive que aceitar, mas
ainda solicitei que minha esposa, recém-formada em direito, fosse transposta
para cá. José Renato aceitou e viemos ajudar a consolidar o novo estado de
Rondônia. Bebi água do Madeira e estou aqui até hoje.
2. ARL – Quem
é Marco Aurélio do Nascimento Anconi?
Marco - Profissionalmente
sempre aprendi tudo muito rapidamente, como se já soubesse de antemão. Sou um
perfeccionista e detalhista; não aceito nada pelas metades. Durante cinco anos
trabalhei como editor jornalístico e de arte nas afiliadas da rede Globo em
Goiânia e Maceió, o que fortaleceu meu poder de síntese. Textos curtos e
concisos; pinceladas seguras e precisas. Exerço varias especialidades como:
desenho, pintura, fotografia, filmagem, marketing, publicidade, indústria
gráfica, informática dentre outras.
Pessoalmente
sou um sonhador e espiritualista convicto. Intimista por natureza (medito com
frequência); sou “bem família”; gosto de música clássica, mas também de todos
os tipos de arte, desde as antigas quanto as recentes. Uma bela poesia; uma
tela harmoniosa e bela; um desenho digital de qualidade, enfim, tudo que contém
traços da alma.
3. ARL − O
que o motivou a criar o Brasão de Armas do Estado de Rondônia? Você venceu um concurso?
Marco – Participei do concurso,
apresentando meu trabalho, mas não fui incluído entre os finalistas. Quando
finalizado o concurso, as artes selecionadas me foram enviadas para adequações
sob a ótica da heráldica, ciência das medalhas e brasões, da qual eu era um dos
poucos especialistas. Nenhum tinha sequer possibilidade de aproveitamento.
Quando o secretário José Renato viu meu brasão em comparação com os demais, me
disse: “Vamos falar com o Coronel Teixeira”. O Teixeirão perguntou: “Porque
você não ganhou o concurso?” e, ato contínuo, ordenou que eu fizesse a
descrição heráldica e pediu ao secretário, José Renato, para mandar publicar e
adotar como o Brasão Oficial de Rondônia.
4. ARL – Faça
a descrição heráldica do brasão.
Marco – O primeiro elemento é a espada do Marechal de Campo Cândido Mariano da Silva Rondon,
que dá nome ao Território Federal e depois ao Estado da República Federativa do Brasil; à
direita, um ramo de cacau representa a cultura agrícola nativa; à esquerda, um
ramo de café representa
a cultura agrícola trazida pelos imigrantes. Os trilhos em forma de “U”
representam a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. O
escudo formado pelo quadrado central azul com os quatro cantos em formato de
losango, contornado por linhas em vermelho (sangue dos combatentes) e prata
(armas), representa o formato das muralhas do Real Forte Príncipe da Beira,
fortaleza construída pelo reino de Portugal entre 1776 e 1783, às margens
do rio Guaporé, fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Em seu
interior, uma estrela branca que emite uma cauda nas cores amarela e verde,
representa a marca do então Governador Jorge Teixeira de Oliveira, que conduziu
a transformação do Território Federal em Estado da União. O número 1943 à esquerda
representa o ano da criação do Território Federal do Guaporé e
o número 1981,
à direita, o ano em que o Estado de Rondônia foi emancipado.
6. ARL –
Quais cargos governamentais você já ocupou, ao longo da sua vida de funcionário
público?
Marco – De 1980 a 1988 - Diretor da
Divisão de Promoção e Divulgação da Seplan (que englobava propaganda,
marketing, produção publicitária e hotelaria); Secretário Municipal de Cultura,
Esportes e Turismo em Pimenta Bueno (à disposição pelo governo de Rondônia);
Diretor de Marketing e Propaganda do Banco do Estado de Rondônia (Beron)
criando e produzindo várias campanhas, dentre elas o lançamento (televisão,
rádio e impressos) da Poupança Beron (à disposição pelo governo de Rondônia); Redator
do Departamento de Comunicação do Hospital de Base Ary Pinheiro (à disposição
pelo governo de Rondônia).
Nos finais de semana, com o apoio do Coronel
Teixeira, implantei o curso de paraquedismo no aeroclube de Porto Velho,
treinei e lancei mais de cem alunos.
Ao sair do governo em 1989, por ser programador
de computadores de grande porte (linguagem COBOL ANS para supercomputadores IBM
/360), montei a primeira revenda de microcomputadores de Rondônia, a MS
Informática (Cobra Computadores) e depois a Hiperdata (Microtec). Além de
vender os equipamentos também capacitava os operadores e programadores. Fui
pioneiro também na computação gráfica. Montei a primeira redação jornalística
informatizada, Última Hora de Rondônia, que perdurou por poucos meses, mas
serviu de base para as demais redações.
Trabalhei com computação gráfica por muitos
anos, sendo responsável pela criação de logomarcas, campanhas publicitárias e
programação visual de empresas.
Algumas outras empresas de que participei:
Amppla publicidade ((diretor de arte); Provendas reprografia (diretor de arte);
CTP (Computer To Plate – fornecedor de chapas gráficas para impressão profissional
CMYK).
7. ARL –
O que significa a ARL na sua vida profissional?
Marco - Uma surpresa. Aliás, do
confrade Júlio Olivar, espero sempre maravilhas. Vivi em meio a intelectuais e
artistas, mas fazer parte da Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes
(ARL), repito, foi uma gratíssima surpresa. O convívio com tantas mentes
brilhantes tem renovado meu amor pela cultura e o saber.
Outra grata surpresa foi ser, recentemente,
agraciado com o título de Cidadão Honorário de Porto Velho, capital que me
acolheu com tanto carinho e desprendimento. Gratidão eterna aos vereadores, em
especial ao edil Alex Palitot.
8. ARL – Enquanto
membro da Secom você publicou vários textos relacionados ao progresso da
pecuária, da agricultura e da piscicultura, em Rondônia. Relacione em poucas
linhas os destaques de Rondônia, nas áreas referidas, no cenário nacional e
internacional.
Marco – De 2012 a 2018 retornei à
Secom do governo e fui locado na Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri). Durante
seis anos tive o privilégio de cobrir a evolução da pecuária, em especial a
leiteira que hoje já é uma realidade industrial; a agricultura que era baseada
apenas na cafeicultura, na cacaicultura e na subsistência passou a contar com
grande apoio governamental que atraiu e fixou grandes produtores de soja,
milho, grãos diversos, leguminosas e frutas, fortalecendo a diversificação
agrícola. Fazemos sucesso em todas as feiras agropecuárias em que participamos.
A Rondônia Rural Show, iniciativa governamental de sucesso, nos inseriu no
calendário agropecuário do Brasil e de grande parte do mundo.
9. ARL - É
possível produzir mais alimentos sem derrubar a floresta?
Marco – Um fator pouco conhecido é
a qualidade do solo e a capacidade dos nossos agricultores. Desde 2014, com a
crescente aplicação de tecnologias, Rondônia vem dobrando sua produção sem ter
que derrubar uma árvore sequer. Além disso o replantio e a legislação
draconiana de somente permitir o uso de vinte por cento (20%) do solo amazônico
para a agropecuária garante a nossa cobertura florestal.
Rondônia é um estado eminentemente agrícola,
mas também desponta como o maior produtor nacional de peixe nativo em
cativeiro. Em especial o tambaqui e o pirarucu são amplamente criados em
lâminas d’água espalhadas principalmente pelo vale do Jamari, mas já
disseminado por todo o território de Rondônia.
10.
ARL – O Estado de Rondônia, desde a sua
criação, vem crescendo a passos largos, é possível melhorar?
Marco – Sempre é possível e
desejável a otimização dos processos de desenvolvimento. Rondônia é exemplo
cabal de produtividade e conservação. Temos em nosso território três biomas
distintos (cerrado, pantanal e mata amazônica), que nos permitem, a cada dia, diversificar
e crescer sem destruir. Outro aspecto pouco lembrado é a nossa vocação para o
turismo, pois temos belezas naturais que rivalizam com cartões postais de
vários lugares do mundo.
Uma preocupação, não só de Rondônia, é a banalização
do ensino básico, profissionalizante e superior. Cabe a cada um de nós fazer
retornar a seriedade e a qualidade às salas de aula. O futuro agradece!
Com o passar dos anos venho esquecendo
muita coisa. Agradeço esta oportunidade por me permitir fazer uma viagem ao
passado e resgatar acontecimentos esquecidos. Gratidão ao confrade presidente-ARL.
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