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O palhaço é ladrão de muié?


O palhaço é ladrão de muié? - Gente de Opinião

Entrevista com Francisco Santos Lima, o “Chicão Santos”, membro da Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes - ARL, onde ocupa a cadeira nº 19, cujo patrono é Sérgio Pedro Corrêa de Brito. A trajetória da vida do Chicão pelas artes cênicas é tão vasta, tão rica de fatos e realizações, que só escrevendo um livro seria possível relatar todas as respostas possíveis. Costumo dizer que Chicão, culturalmente, é o capixaba que deu certo, em Rondônia.

1.  ARL – E o palhaço, quem é?

É um dos inúmeros personagens que surgiram na vida de um menino, que brincava com bonecos e queria se comunicar por meio do teatro e entender o mundo e as grandes transformações. Um menino que evoluiu muito após conhecer os jogos, as técnicas e os métodos do teatro de Augusto Boal. Um menino apaixonado pelo teatro de rua, pela capacitação de artistas e pela apresentação de espetáculos públicos para todas as idades.

2.  ARL – De onde vem e quando começou esta sua identificação com o teatro?

Do processo histórico e da luta pela difusão de um teatro popular. Minha primeira experiência com o espetáculo foi numa comunidade rural, na linha 14, em Cacoal, onde por detrás de uma empanada apresentei uma das cenas que falava de temas cotidianos da comunidade, temas que eram trabalhados nos “laboratórios” que antecediam as apresentações. Tudo começou nos idos de 1978 nas comunidades de base de Cacoal. Tudo era novo para um jovem secundarista, empregado no comércio, que deixou a zona rural e se instalou por definitivo no âmbito do “burgo”, passando a se confundir com a cidade. Já transitei por todos os caminhos do teatro, em várias cidades: diretor teatral, palhaço, ator, diretor e fundador do grupo “O Imaginário”, agitador cultural e desenvolvedor de importantes projetos para a cultura rondoniense. Por um tempo morei em Brasília, onde construí várias amizades e aprendi as técnicas do teatro relâmpago: cenas rápidas, apresentadas em várias localidades, inclusive no interior dos ônibus, com temas que provocavam a estrutura do poder. Quando retornei à Cacoal trouxe uma enorme bagagem cultural/teatral e muita experiência, que me ajudaram a iniciar a vida artística em Porto Velho.

3.  ARL – Então quer dizer que Cacoal foi muito importante na sua trajetória artística?

Fui um dos membros fundadores do Grupo Teatral Asas, que fez história em Cacoal de 1983 a 1985, foram três anos de plenas atividades, montando espetáculos de autores nacionais, como Maria Clara Machado e fazendo um processo de formação de atores/artistas com a mistura de grandes diretores do teatro brasileiro. Participamos ativamente da fundação da Federação de Teatro Amador do Estado de Rondônia e de seus eventos, como Congresso Estadual de Teatro e Festival Madeira Mamoré, inclusive organizamos o III Congresso Estadual de Teatro Amador. Participamos neste mesmo período do Congresso Brasileiro de Teatro e do Festival Brasileiro de Teatro Amador que aconteceram na cidade de Ouro Preto - Minas Gerais. Na formação especifica nós tínhamos várias frentes, atuando na formação interna e externa, nos bairros e escolas da rede municipal de ensino de Cacoal. O Grupo Asas era uma potência na organização de grandes eventos e na formação de jovens artistas.

 

4.  E o teatro de rua em Porto Velho, como e quando começou?

O teatro de rua em Porto Velho sofreu fortes influências do Ator Jango Rodrigues, nos anos 80 e se popularizou a partir de 2007, com a realização do Festival Amazônia Encena na Rua. O Festival Amazônia Encena na Rua, nas edições anteriores, teve um alcance de mais de 10 milhões de pessoas nas redes sociais e nas mídias. Um público de mais 400 mil espectadores já assistiu aos espetáculos e atividades da programação, durantes esses 12 anos de Festival, constituindo em uma importante política pública de formação de plateia, acesso e promoção das pessoas às artes integradas da Amazônia e do Brasil (Teatro, Circo e Dança). Em junho deste ano o Festival ganha uma edição especial em Belém do Pará, onde reunirá 20 espetáculos/grupos, capacitação e o IV Seminário Amazônico de Teatro de Rua. Além das ações em Belém será realizada uma itinerância ao interior do Pará, em três cidades: Marabá, Xinguara e Parauapebas, com 5 espetáculos, com dois grupos: Tocantins e Rio de Janeiro.

5.  ARL - Falta incentivo ao Teatro ou você está satisfeito com os financiamentos conseguidos? Você foi homenageado recentemente no RJ, que prêmio foi este?

Sim. Mesmo com a implantação dos Sistemas de Cultura, ainda o fomento às artes padece de apoio e leis específicas para a garantia de ações permanentes. Tenho sido um defensor do teatro amazônico e isso me qualificou para receber uma homenagem do CBTIJ que é uma referência do Teatro para a infância e juventude no Brasil. Recebi com muito orgulho esse prêmio. Só tenho a agradecer o reconhecimento.

6.  ARL – Com certeza você é o maior incentivador das atividades teatrais em Rondônia, inclusive ultrapassando as fronteiras do estado, com “O Imaginário”. Gostaríamos que você fizesse um balanço sucinto dessas suas andanças.

Foi em MONTE NEGRO que comecei a refletir sobre a criação de um coletivo que tivesse uma pegada das políticas públicas e que pudesse pensar além da casinha. Daí surgiu o nome O IMAGINÁRIO e em parceria com o Claudio Vrena fundamos o coletivo e começamos a pensar o teatro, o público e a cidade. Um teatro que pudesse ser insurgente, transformador e que motivasse as pessoas para o acesso e o gosto pela arte teatral. Iniciamos uma busca por apoiadores, em diversas instâncias, para conseguirmos recursos para o trabalho formativo e o de montagem de espetáculos que dialogassem nesses lugares. Em 2005, fundamos o coletivo e fomos direto para o Festival de Teatro do Acre, com uma intervenção, que depois transformou-se numa performance.

Em 2010, O Imaginário circulou em 22 cidades e capitais, pelo Palco Giratório do SESC Nacional e representamos o Brasil na Mostra Latino-americana de teatro de grupos, com o tema a mulher na cena, com um espetáculo que falava de nossa história, que dava voz as mulheres que ajudaram na construção da cidade e na ocupação da região. Foi a primeira experiência numa “tournée” nacional e que ganhamos a cena nacional. Aprovada no Projeto Palco Giratório 2010, Filhas da Mata circulou o Brasil mostrando um pouco da vida das mulheres no início da colonização rondoniense. Com uma programação múltipla, diversos espetáculos circulam pelas capitais e cidades do interior do Brasil, viabilizando a troca de experiências entre grupos de teatro de todo o Brasil. O nosso cronograma constava de 22 apresentações, 10 cursos/oficinas, 22 pensamentos giratórios, 11 festivais de teatro, no período de março a novembro de 2010.

7.  ARL – Você tem alguma sugestão, para que a Academia se integre mais à sociedade?

A ARL já tem um papel importante na sociedade que é o de divulgar o conhecimento e a sabedoria. Quando voltarmos ao presencial acho importante que a ARL possa realizar seus conclaves e seus saraus como uma demonstração de visibilidade da sabedoria, especialmente nesses tempos tão difíceis, onde o ódio e a ignorância estão sendo muito propagados.

8.  ARL – Na área do teatro, em Rondônia, existem alguns sonhos a serem realizados ou são sonhos impossíveis, sonhos para serem apenas sonhados?

Nestes últimos anos tivemos vários avanços no campo da popularização, da construção de equipamentos culturais (espaços cênicos e teatros), mas fundamentalmente precisamos de mais estimulo para jovens, especialmente estudantes das redes públicas. Acho que o maior sonho é criar um programa nas redes de ensino para oferecer aos jovens acesso às artes com qualidade, seja nas cênicas, na música e nas artes visuais.

9.  ARL – Você é tão apaixonado pelas artes cênicas ou performativas, que construiu ao lado da sua casa um pequeno teatro – TAPIRI - usado também para outras atividades culturais regionais.

O TAPIRI é um teatro assim como um espaço de trocas e intercâmbios. Juntei todas as minhas economias (as mais diversas possíveis), fiz financiamentos para comprar um terreno e dediquei muito trabalho braçal, para construir um espaço que pudesse dinamizar a formação, a criação e o desenvolvimento da tecnologia teatral. O Espaço Tapiri ganhou o prêmio de gestão da economia criativa - MODELOS DE GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS E NEGÓCIOS CRIATIVOS, do então Ministério da Cultura. Foi selecionado por 4 edições consecutivas no Prêmio Funarte de Fomento ao Teatro para a manutenção de atividades artísticas e culturais, o que proporcionou a formação de mais de 5 mil jovens, nas áreas de teatro, circo, dança, literatura, artes visuais, entres outros. O Tapiri é constituído por vários espaços: biblioteca física especializada, com inúmeros títulos de teatro e outras linguagens, Teatro para 100 lugares, equipado com luz e som profissional, palco e espaço multiuso.

 

10.               ARLComeçamos esta entrevista perguntando “quem é o palhaço” e agora queremos saber: E o palhaço o que é?

O palhaço é o personagem mais antigo das artes circenses, surgiu, a princípio, de acordo com algumas correntes, como o “bobo da corte”, que de bobo não tinha nada. Era um tipo de “ouvidor” dos impérios e reinados de todos os tempos. Era o conselheiro mais íntimo dos mandatários e ouvia todas as estratégias e planos. O palhaço trabalha o jogo, o erro e as improvisações. Ser palhaço é estar em risco permanente... a vida também é um risco. O palhaço é o personagem mais importante do circo e é um ser mágico. Viva o palhaço “JOAQUIM”, viva o circo e viva a arte. Quem conhece um sorriso verdadeiro sabe o valor do palhaço.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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