Segunda-feira, 11 de abril de 2022 - 11h09
Entrevista com Francisco
Santos Lima, o “Chicão Santos”, membro da Academia Rondoniense de Letras,
Ciências e Artes - ARL, onde ocupa a cadeira nº 19, cujo patrono é Sérgio Pedro
Corrêa de Brito. A trajetória da vida do Chicão pelas artes cênicas é tão vasta,
tão rica de fatos e realizações, que só escrevendo um livro seria possível
relatar todas as respostas possíveis. Costumo dizer que Chicão, culturalmente,
é o capixaba que deu certo, em Rondônia.
1. ARL –
E o palhaço, quem é?
É um dos inúmeros personagens
que surgiram na vida de um menino, que brincava com bonecos e queria se
comunicar por meio do teatro e entender o mundo e as grandes transformações. Um
menino que evoluiu muito após conhecer os jogos, as técnicas e os métodos do
teatro de Augusto Boal. Um menino apaixonado pelo teatro de rua, pela
capacitação de artistas e pela apresentação de espetáculos públicos para todas
as idades.
2. ARL –
De onde vem e quando começou esta sua identificação com o teatro?
Do
processo histórico e da luta pela difusão de um teatro popular. Minha primeira
experiência com o espetáculo foi numa comunidade rural, na linha 14, em Cacoal,
onde por detrás de uma empanada apresentei uma das cenas que falava de temas
cotidianos da comunidade, temas que eram trabalhados nos “laboratórios” que
antecediam as apresentações. Tudo começou nos idos de 1978 nas
comunidades de base de Cacoal. Tudo era novo para um jovem secundarista,
empregado no comércio, que deixou a zona rural e se instalou por definitivo no
âmbito do “burgo”, passando a se confundir com a cidade. Já transitei por todos
os caminhos do teatro, em várias cidades: diretor teatral, palhaço, ator,
diretor e fundador do grupo “O
Imaginário”, agitador cultural e desenvolvedor de importantes projetos
para a cultura rondoniense. Por um tempo morei em Brasília, onde construí
várias amizades e aprendi as técnicas do teatro relâmpago: cenas rápidas,
apresentadas em várias localidades, inclusive no interior dos ônibus, com temas
que provocavam a estrutura do poder. Quando retornei à Cacoal trouxe uma enorme
bagagem cultural/teatral e muita experiência, que me ajudaram a iniciar a vida
artística em Porto Velho.
3. ARL –
Então quer dizer que Cacoal foi muito importante na sua trajetória artística?
Fui um dos membros fundadores do Grupo Teatral
Asas, que fez história em Cacoal de 1983 a 1985, foram três anos de plenas
atividades, montando espetáculos de autores nacionais, como Maria Clara Machado
e fazendo um processo de formação de atores/artistas com a mistura de grandes
diretores do teatro brasileiro. Participamos ativamente da fundação da
Federação de Teatro Amador do Estado de Rondônia e de seus eventos, como
Congresso Estadual de Teatro e Festival Madeira Mamoré, inclusive organizamos o
III Congresso Estadual de Teatro Amador. Participamos neste mesmo período do
Congresso Brasileiro de Teatro e do Festival Brasileiro de Teatro Amador que
aconteceram na cidade de Ouro Preto - Minas Gerais. Na formação especifica nós
tínhamos várias frentes, atuando na formação interna e externa, nos bairros e
escolas da rede municipal de ensino de Cacoal. O Grupo Asas era uma potência na
organização de grandes eventos e na formação de jovens artistas.
4. E o
teatro de rua em Porto Velho, como e quando começou?
O teatro de rua em Porto Velho sofreu
fortes influências do Ator Jango Rodrigues, nos anos 80 e se popularizou a
partir de 2007, com a realização do Festival Amazônia Encena na Rua. O Festival Amazônia Encena na Rua, nas edições
anteriores, teve um alcance de mais de 10 milhões de pessoas nas redes sociais
e nas mídias. Um público de mais 400 mil espectadores já assistiu aos
espetáculos e atividades da programação, durantes esses 12 anos de Festival,
constituindo em uma importante política pública de formação de plateia, acesso
e promoção das pessoas às artes integradas da Amazônia e do Brasil (Teatro,
Circo e Dança). Em junho deste ano o Festival ganha uma edição especial em
Belém do Pará, onde reunirá 20 espetáculos/grupos, capacitação e o IV Seminário
Amazônico de Teatro de Rua. Além das ações em Belém será realizada uma
itinerância ao interior do Pará, em três cidades: Marabá, Xinguara e
Parauapebas, com 5 espetáculos, com dois grupos: Tocantins e Rio de Janeiro.
5. ARL -
Falta incentivo ao Teatro ou você está satisfeito com os financiamentos
conseguidos? Você foi homenageado recentemente no RJ, que prêmio foi este?
Sim. Mesmo com a implantação
dos Sistemas de Cultura, ainda o fomento às artes padece de apoio e leis
específicas para a garantia de ações permanentes. Tenho sido um defensor do
teatro amazônico e isso me qualificou para receber uma homenagem do CBTIJ que é
uma referência do Teatro para a infância e juventude no Brasil. Recebi com
muito orgulho esse prêmio. Só tenho a agradecer o reconhecimento.
6. ARL –
Com certeza você é o maior incentivador das atividades teatrais em Rondônia,
inclusive ultrapassando as fronteiras do estado, com “O Imaginário”.
Gostaríamos que você fizesse um balanço sucinto dessas suas andanças.
Foi
em MONTE NEGRO que comecei a refletir sobre a criação de um coletivo que
tivesse uma pegada das políticas públicas e que pudesse pensar além da casinha.
Daí surgiu o nome O IMAGINÁRIO e em parceria com o Claudio Vrena fundamos o
coletivo e começamos a pensar o teatro, o público e a cidade. Um teatro que
pudesse ser insurgente, transformador e que motivasse as pessoas para o acesso
e o gosto pela arte teatral. Iniciamos uma busca por apoiadores, em diversas
instâncias, para conseguirmos recursos para o trabalho formativo e o de
montagem de espetáculos que dialogassem nesses lugares. Em 2005, fundamos o
coletivo e fomos direto para o Festival de Teatro do Acre, com uma intervenção,
que depois transformou-se numa performance.
Em
2010, O Imaginário circulou em 22 cidades e capitais, pelo Palco Giratório do
SESC Nacional e representamos o Brasil na Mostra Latino-americana de teatro de
grupos, com o tema a mulher na cena, com um espetáculo que falava de nossa
história, que dava voz as mulheres que ajudaram na construção da cidade e na
ocupação da região. Foi a primeira experiência numa “tournée” nacional e que
ganhamos a cena nacional. Aprovada no Projeto Palco Giratório 2010, Filhas da
Mata circulou o Brasil mostrando um pouco da vida das mulheres no início da
colonização rondoniense. Com uma programação múltipla, diversos espetáculos
circulam pelas capitais e cidades do interior do Brasil, viabilizando a troca
de experiências entre grupos de teatro de todo o Brasil. O nosso cronograma
constava de 22 apresentações, 10 cursos/oficinas, 22 pensamentos giratórios, 11
festivais de teatro, no período de março a novembro de 2010.
7. ARL –
Você tem alguma sugestão, para que a Academia se integre mais à sociedade?
A ARL já tem um papel
importante na sociedade que é o de divulgar o conhecimento e a sabedoria.
Quando voltarmos ao presencial acho importante que a ARL possa realizar seus
conclaves e seus saraus como uma demonstração de visibilidade da sabedoria,
especialmente nesses tempos tão difíceis, onde o ódio e a ignorância estão sendo
muito propagados.
8. ARL –
Na área do teatro, em Rondônia, existem alguns sonhos a serem realizados ou são
sonhos impossíveis, sonhos para serem apenas sonhados?
Nestes últimos anos tivemos
vários avanços no campo da popularização, da construção de equipamentos
culturais (espaços cênicos e teatros), mas fundamentalmente precisamos de mais
estimulo para jovens, especialmente estudantes das redes públicas. Acho que o
maior sonho é criar um programa nas redes de ensino para oferecer aos jovens
acesso às artes com qualidade, seja nas cênicas, na música e nas artes visuais.
9. ARL –
Você é tão apaixonado pelas artes cênicas ou performativas, que construiu ao
lado da sua casa um pequeno teatro – TAPIRI - usado também para outras
atividades culturais regionais.
O TAPIRI é um teatro assim como um espaço de
trocas e intercâmbios. Juntei todas as minhas economias (as mais diversas
possíveis), fiz financiamentos para comprar um terreno e dediquei muito
trabalho braçal, para construir um espaço que pudesse dinamizar a formação, a
criação e o desenvolvimento da tecnologia teatral. O Espaço Tapiri ganhou o
prêmio de gestão da economia criativa - MODELOS DE GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS E
NEGÓCIOS CRIATIVOS, do então Ministério da Cultura. Foi selecionado por 4
edições consecutivas no Prêmio Funarte de Fomento ao Teatro para a manutenção
de atividades artísticas e culturais, o que proporcionou a formação de mais de
5 mil jovens, nas áreas de teatro, circo, dança, literatura, artes visuais,
entres outros. O Tapiri é constituído por vários espaços: biblioteca física
especializada, com inúmeros títulos de teatro e outras linguagens, Teatro para
100 lugares, equipado com luz e som profissional, palco e espaço multiuso.
10.
ARL – Começamos esta
entrevista perguntando “quem é o palhaço” e agora queremos saber: E o palhaço o
que é?
O palhaço é o personagem mais
antigo das artes circenses, surgiu, a princípio, de acordo com algumas
correntes, como o “bobo da corte”, que de bobo não tinha nada. Era um tipo de
“ouvidor” dos impérios e reinados de todos os tempos. Era o conselheiro mais
íntimo dos mandatários e ouvia todas as estratégias e planos. O palhaço
trabalha o jogo, o erro e as improvisações. Ser palhaço é estar em risco
permanente... a vida também é um risco. O palhaço é o personagem mais
importante do circo e é um ser mágico. Viva o palhaço “JOAQUIM”, viva o circo e
viva a arte. Quem conhece um sorriso verdadeiro sabe o valor do palhaço.
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