Sábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Luciana Oliveira

Advogada denuncia caráter policialesco de reunião do Incra com camponeses


Advogada denuncia caráter policialesco de reunião do Incra com camponeses - Gente de Opinião

Teria ocorrido na mais absoluta tranquilidade a reunião entre representantes da Ouvidoria Agrária Nacional, Incra e programa Terra Legal com as lideranças do movimento Liga dos Camponeses Pobres (LCP), no último dia 20, em Porto Velho. É o que foi divulgado na imprensa com matéria distribuída pela assessoria de comunicação do Incra-RO.

Só, que não.

Quem revela o clima de tensão, com abusos e intimidações contra camponeses no dia da reunião é a advogada popular Lenir Correia Coelho.

Segundo o relatório da advogada, era a pauta  “reivindicatória de 18 áreas de acampamentos, inclusive, diversas delas com reintegrações em aberto motivadas pela inércia do INCRA em não terminar os processos administrativos de aquisição/indenização/desapropriação.”

Leia abaixo, na íntegra, o testemunho da advogada que considerou a reunião improdutiva em “função da pressão psicológica promovida pelo INCRA e mais ainda, pela presença ostensiva da polícia na sala de reunião: filmando, fotografando, identificando as pessoas e apontando ostensivamente o armamento de fogo.”

RELATÓRIO DENÚNCIA


“No dia 20 de junho de 2018, a partir das 6 horas da manhã, foi instalado um Estado de Exceção no Estado de Rondônia com o apoio irrestrito do INCRA e Ouvidoria Agrária Nacional, com o escopo de criminalizar a luta pela terra e os camponeses. Com reunião agendada com o INCRA de Rondônia via Ouvidoria Agrária Nacional (ofício enviado e confirmado por email e por telefone), para os dias 20 e 21 de junho de 2018, no INCRA de Porto Velho/RO, com uma pauta reivindicatória de 18 áreas de acampamentos, inclusive, diversas delas com reintegrações em aberto motivadas pela inércia do INCRA em não terminar os processos administrativos de aquisição/indenização/desapropriação. Comissões de camponeses, representando cada acampamento da pauta, compareceram no INCRA para dialogarem sobre a pauta e buscar soluções para as demandas, no que foram criminalmente recebido:

1) Barreiras policiais nas ruas próximas do INCRA impedindo os ônibus de chegarem, o que fizeram com que muitos camponeses tivessem que andar até a entrada do INCRA;

2) INCRA com portão cadeado, o que fez com que os camponeses ficassem expostos ao sol sem acesso à água e banheiro, tendo entre eles, crianças e mulheres grávidas;

3) Visivelmente, dentro do INCRA estava um aparato de policiais militares e federais fortemente armados;

4) Somente as 9 horas, que o Ouvidor Agrário Nacional Substituto Dr. Líbio e Ouvidor Agrário Regional Sr. Erasmo compareceram no portão e foram categóricos em afirmar que só entraria 30 pessoas para a reunião e nisso estava irredutível;

5) Em todo o momento os policiais ficavam apontando as armas para os camponeses que estavam no sol e do lado de fora do INCRA – na rua;

6) Os camponeses fizeram uma assembléia e decidiram participar da reunião, no que concordaram em entrar – duas pessoas por área;

7) Somente as 10:30 horas começou a entrada dos camponeses (os 30 exigidos pelo INCRA) e tiveram que passar por uma situação vexatória e humilhante, tendo alguns desistidos de entrar; pois, foi montada uma mesa do lado de fora do INCRA para assinar lista de presença, com forte aparato policial protegendo essa mesa, os camponeses assinavam lista de presença, a policia conferia seus documentos, anotando todos os dados, depois, esses camponeses eram colocados num verdadeiro “corredor polonês” – mais ou menos cinco policiais de cada lado;

8) Cada camponês e camponesa era fotografado, fizeram revista pessoal em cada um, do lado de fora, com a policia filmando, bem no estilo: “perna aberta, mão na cabeça”, as mulheres eram apalpadas na frente de todos – – inclusive, mesmo me apresentando como advogada e apresentando a carteira da OAB passei por essa revista pessoal e fui fotografada, quando questionei o motivo do procedimento, eles responderam que era mera procedimento e não justificaram o motivo das fotos, vídeos e revistas, sequer apresentaram o responsável pelo comando da operação. Nem em atendimento em presídio tinha passado por tal situação, nem na barreira do Acampamento Enilson Ribeiro fui exposta a revista pessoal; depois disso, fizeram revista das bolsas;

9) Para entrar na reunião tinha que passar por uma escolta policial, após passar pelo corredor de policiais. Essa escolta era até a sala de reunião, com os servidores terceirizados do INCRA acompanhando, fotografando e filmando as pessoas – parecíamos que estávamos indo para a forca;

10) A reunião foi toda filmada e aconteceu com a presença maciça de policiais fortemente armados durante toda a reunião, inclusive, quando foi foi denunciado o Sgto. Eduardo e sua esposa Dra. Rúbia por estarem fazendo georeferenciamento da Fazenda Bom Futuro a polícia militar se somou a polícia federal e ficou monitorando e fotografando as pessoas que estavam fazendo as denuncias. A Comissão Pastoral da Terra – CPT, na pessoa da Agente Petronila, que acompanhou os algozes da entrada, fez contato com várias entidades de Defesa de Direito Humanos, inclusive muita indignada com a situação, se comprometendo a fazer denúncia dos atos atentatórios a dignidade humana; Compareceu no local a Dra. Leiliane, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RO que acompanhou o caso e ficou de relatar os fatos e pedir esclarecimentos sobre a violência praticada. Ela participou da reunião e pode ver a situação em que os camponeses e camponesas foram expostos, pode constatar o excesso policial no local e o trato dado aos pessoas que estavam na reunião.

Os demais camponeses e camponesas que eram convidados da reunião e não puderam entrar, ficaram no parque da cidade, esperando o resultado da reunião. A reunião encerrou as 19:30 horas e não foi produtiva, pois, não havia como avançar na pauta em função da pressão psicológica promovida pelo INCRA e mais ainda, pela presença ostensiva da policia na sala de reunião: filmando, fotografando, identificando as pessoas e apontando ostensivamente o armamento de fogo. O INCRA entregou uma pasta de documentos com os encaminhamentos de cada área e novamente fazendo novamente promessas, sequer pedindo desculpas pela forma agressiva que tratou os camponeses e camponesas, clientes da Reforma Agrária. Esse é o tratamento do INCRA para camponeses e camponesas, numa clara demonstração de que as famigeradas leis da grilagem oriundas da MP759 vão ser cumpridas, com fogo e violência do Estado.

Porto Velho/RO, 22 de junho de 2018.

Lenir Correia Coelho

Advogada Popular

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Veja Mais

Gente de OpiniãoSábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Antônio Cândido lança nesta quinta a 3ª edição do livro “Madeira-Mamoré: o vagão dos esquecidos”

Antônio Cândido lança nesta quinta a 3ª edição do livro “Madeira-Mamoré: o vagão dos esquecidos”

Antônio Cândido da Silva, amante confesso da cidade de Porto Velho, poeta renomado e de talento incontestável, apresenta ao público leitor o resul

Bailarina da Praça é a homenageada do Bloco Pirarucu do Madeira no Carnaval 2025

Bailarina da Praça é a homenageada do Bloco Pirarucu do Madeira no Carnaval 2025

O bloco que exalta tradições e pessoas de elevada importância para a cultura popular da capital será um palco com milhares de foliões para a artista

Ruanda vai taxar igrejas e acusa pastores de enganarem fiéis

Ruanda vai taxar igrejas e acusa pastores de enganarem fiéis

Proliferação de igrejas neopentecostais no país africano levou governo de Paul Kagame a acusar pastores de “espremerem dinheiro” de ruandeses mais pob

Levante feminista realiza encontro nacional para frear violência contra as mulheres

Levante feminista realiza encontro nacional para frear violência contra as mulheres

Luciana Oliveira, de Brasilia – Mais de 130 mulheres vindas de 20 estados do país participaram do evento em Brasília que durou três dias.Foram intensa

Gente de Opinião Sábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)