Segunda-feira, 27 de novembro de 2017 - 16h41
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Em Belém
Em plena febre de tensão e interesse causada pelo terrorismo, a Amazônia voltou a ser incluída na agenda da Europa, em encontros realizados em Bonn, na Alemanha, e Londres, na Inglaterra, na semana passada. Dos debates participou o mundo oficial, representado pelo ministro do Meio Ambiente do Brasil, Sarney Filho, os governadores dos Estados da Amazônia Legal e até tradicionais lideranças indígenas, como Raoni, com seu toque de exotismo que tanto mexe com a consciense mauvaise dos europeus.
Os debates trataram dos temas ecológicos de sempre, mas também se estenderam pela sua relação com a economia de baixo carbono na região amazônica e a necessidade de o crescimento respeitar as culturas regionais. Ambas as perspectivas se mostram atraentes o suficiente para fazer o isolacionista Reino Unido aderir à Alemanha e à Noruega na luta pela preservação da Amazônia.
O Brasil repetiu seu compromisso, firmado no acordo de Paris, de impor desmatamento zero na região até 2030, recebendo o eco dos Estados, uníssonos quando se trata de bater à porta do euro (como do dólar). Com isso, os entendimentos visaram a cooperação internacional, o financiamento da proteção florestal e a contribuição dos fundos internacionais e das entidades privadas para incrementar a conservação do bioma amazônico. Tudo isso sustentado pelo anúncio de que o desmatamento diminuiu no ano passado.
Como uma estatística escolhida a dedo sempre ajuda a sustentar uma tese, por mais temerária que seja, o governador do Pará, Simão Jatene, comunicou, aos mais de 100 especialistas que o ouviam na capital inglesa, que a área desmatada no Estado que comanda há mais de 11 anos diminuiu de 8,8 mil quilômetros quadrados em 2004 para 2,4 mil km² em 2016. “Assim, a média anual de desmatamento no estado caiu mais de 70% em 13 anos”.
É verdade. Mas uma verdadeira compreensão da situação exigiria de Jatene que se referisse ao acumulado de desmatamento em 2004, às taxas anuais concretas até 2015 e à expectativa de crescimento em 2017, colocando a estatística de volta à tendência de crescimento. Ziguezague de muitos anos que torna a meta de desmatamento zero inverossímil. Mas, como sempre, repetida a cada novo ano de frustração sob o compromisso de que, desta vez, chegaremos lá.
A agressão às áreas protegidas da Amazônia é de tal envergadura, desafiando o acompanhamento em tempo real por satélites e a ação mais dura da fiscalização, que a atitude do governo parece ser a remediação ou a compensação pelos danos.
O Pará, o que mais áreas desmatadas apresenta e o segundo em proporção relativamente ao seu tamanho (de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, do tamanho da Colômbia), tem sido também o que mais abre florestas a concessões privadas, sem estrutura de gestão à altura do desafio.
O resultado é o mesmo: entre subidas e descidas, o rumo do desmatamento segue à distância da meta da proteção total às florestas. Pelo motivo simples de que é mais barato derrubar mata do que preservá-la e é muito mais caro recuperar o que foi degradado.
Não surpreende, diante dessa sanha irracional e caótica, que o Pará vá às capitais europeias pedir dinheiro para salvar a natureza tendo o município com o maior rebanho bovino, São Félix do Xingu, que, um dia, teve vocação florestal.
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