Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Lúcio Flávio Pinto

Amazônia para europeus - Por Lúcio Flávio Pinto


 Amazônia para europeus - Por Lúcio Flávio Pinto - Gente de Opinião

LÚCIO FLÁVIO PINTO
Em Belém

Em plena febre de tensão e interesse causada pelo terrorismo, a Amazônia voltou a ser incluída na agenda da Europa, em encontros realizados em Bonn, na Alemanha, e Londres, na Inglaterra, na semana passada. Dos debates participou o mundo oficial, representado pelo ministro do Meio Ambiente do Brasil, Sarney Filho, os governadores dos Estados da Amazônia Legal e até tradicionais lideranças indígenas, como Raoni, com seu toque de exotismo que tanto mexe com a consciense mauvaise dos europeus.

Os debates trataram dos temas ecológicos de sempre, mas também se estenderam pela sua relação com a economia de baixo carbono na região amazônica e a necessidade de o crescimento respeitar as culturas regionais. Ambas as perspectivas se mostram atraentes o suficiente para fazer o isolacionista Reino Unido aderir à Alemanha e à Noruega na luta pela preservação da Amazônia.

O Brasil repetiu seu compromisso, firmado no acordo de Paris, de impor desmatamento zero na região até 2030, recebendo o eco dos Estados, uníssonos quando se trata de bater à porta do euro (como do dólar). Com isso, os entendimentos visaram a cooperação internacional, o financiamento da proteção florestal e a contribuição dos fundos internacionais e das entidades privadas para incrementar a conservação do bioma amazônico. Tudo isso sustentado pelo anúncio de que o desmatamento diminuiu no ano passado.

Como uma estatística escolhida a dedo sempre ajuda a sustentar uma tese, por mais temerária que seja, o governador do Pará, Simão Jatene, comunicou, aos mais de 100 especialistas que o ouviam na capital inglesa, que a área desmatada no Estado que comanda há mais de 11 anos diminuiu de 8,8 mil quilômetros quadrados em 2004 para 2,4 mil km² em 2016. “Assim, a média anual de desmatamento no estado caiu mais de 70% em 13 anos”.

É verdade. Mas uma verdadeira compreensão da situação exigiria de Jatene que se referisse ao acumulado de desmatamento em 2004, às taxas anuais concretas até 2015 e à expectativa de crescimento em 2017, colocando a estatística de volta à tendência de crescimento. Ziguezague de muitos anos que torna a meta de desmatamento zero inverossímil. Mas, como sempre, repetida a cada novo ano de frustração sob o compromisso de que, desta vez, chegaremos lá.

A agressão às áreas protegidas da Amazônia é de tal envergadura, desafiando o acompanhamento em tempo real por satélites e a ação mais dura da fiscalização, que a atitude do governo parece ser a remediação ou a compensação pelos danos.

O Pará, o que mais áreas desmatadas apresenta e o segundo em proporção relativamente ao seu tamanho (de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, do tamanho da Colômbia), tem sido também o que mais abre florestas a concessões privadas, sem estrutura de gestão à altura do desafio.

O resultado é o mesmo: entre subidas e descidas, o rumo do desmatamento segue à distância da meta da proteção total às florestas. Pelo motivo simples de que é mais barato derrubar mata do que preservá-la e é muito mais caro recuperar o que foi degradado.

Não surpreende, diante dessa sanha irracional e caótica, que o Pará vá às capitais europeias pedir dinheiro para salvar a natureza tendo o município com o maior rebanho bovino, São Félix do Xingu, que, um dia, teve vocação florestal.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Albrás é a maior consumidora de energia elétrica do País

Albrás é a maior consumidora de energia elétrica do País

A Albras, a fábrica de alumínio da multinacional norueguesa Norsk Hydro, instalada em Barcarena, é a maior consumidora de energia do Brasil. Sua carga

O enclave de Ludwig na Amazônia no tempo da ditadura

O enclave de Ludwig na Amazônia no tempo da ditadura

Lendo o seu artigo Carajás:  enclave no Pará, me veio em mente uma experiência que fiz com a Jari, quando trabalhava como economista, no fim dos anos

Por que não proteger as castanheiras?

Por que não proteger as castanheiras?

A PA-230, rodovia estadual paraense que liga os municípios de Uruará, na Transamazônica, a Santarém, situada no local de convergência do rio Tapajós c

Amazônia na pauta do mundo

Amazônia na pauta do mundo

Publico a seguir a entrevista que Edyr Augusto Proença (foto) concedeu à revista digital Amazônia Latitude, iniciando uma série de entrevistas com esc

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)