Sexta-feira, 21 de dezembro de 2018 - 11h46
Chico Mendes está sendo lembrado no mundo inteiro
pelos 30 anos do seu assassinato. Ele foi morto aos 44 anos, de emboscada, em
22 de dezembro de 1988, com um único tiro de escopeta, quando saía da sua casa,
na sua cidade natal, em Xapuri, no Acre.
Um ano antes, Chico ganhara o maior dos muitos
prêmios que recebeu, concedido pela ONU, numa solenidade em Nova York. Foi
proclamado o grande defensor da ameaçada floresta amazônica, a maior floresta
tropical do planeta.
Comandava a resistência oposta por dois mil
seringueiros à ocupação das terras nas quais produziam borracha. Os novos donos
derrubavam a mata, incluindo as preciosas seringueiras, para plantar capim e
formar rebanhos. Com a cobertura da política oficial de integração da Amazônia
ao Brasil, em Brasília, e de pistoleiros, na jungle, o sertão que
ia avançando sobre a paisagem natural da Hileia.
Durante os quatro anos em que o líder dos “empates”
esteve sob proteção policial, 50 seringueiros foram assassinados. Dois PMs, que
protegiam Chico Mendes em sua casa. só se movimentaram depois dos tiros,
situação que a vítima já previra. Sua morte foi anunciada diversas vezes.
Não era difícil gostar de Chico Mendes e
idolatrá-lo. Ele era simples, inteligente, corajoso, decidido em sua luta,
idealista, bom pai e chefe de família, completamente harmonizado ao lugar em
que vivia, perseguido, sob risco constante de morte.
Tinha todos os atributos de herói, defensor de uma
causa justa, de forte apelo mundial, inclusive para a idealização de uma
solidariedade universal e capaz de permitir a remissão de pecados históricos da
civilização ocidental, predadora da natureza e das sociedades sujeitas ao seu
domínio e exploração por séculos, sobretudo pelo colonialismo na África e na
Ásia.
Não por acaso, Chico Mendes foi herói internacional
antes de se tornar também emblema nacional. Seus aliados pelo mundo, que lhe
deram essa projeção inédita, não foram capazes, no entanto, de evitar a sua
morte. Talvez essa proteção fosse impossível dentro do Acre ou, mais
precisamente, em Xapuri. Seus inimigos eram seus vizinhos, como o pai e o filho
que tramaram o crime e o executaram. Só se salvaria se saísse dali. Não
conseguiu.
Darly e Darcy também achavam nobre a causa que
defendiam: o direito de desmatar dentro da sua propriedade, ainda que o domínio
não tivesse valor jurídico e a prática levasse a uma devastação ecológica e
humana. O fazendeiro fez várias vezes sua arenga contra o inimigo, que queria a
volta dos seringais, de onde se extraía a melhor borracha do mundo, e a
expulsão das fazendas de gado.
Na apoplexia do ódio, pai e filho ameaçaram
diretamente o líder dos seringueiros. Depois de matá-lo e cumprir a pena de
prisão a que foram sentenciados, de 19 anos, ambos saíram da cadeia convencidos
de que o culpado foi o morto, que provocou sua morte com a ousadia e a teimosia
da defesa da floresta.
Três décadas depois da tragédia, a atenção, o culto e
o louvor dados a Chico Mendes são justos. Mas é uma impropriedade considerá-lo
o herói maior da defesa da floresta amazônica. Suas campanhas não foram além do
Estado do Acre, intensas mesmo na região de Xapuri, onde restavam os maiores
seringais depois de uma venda massiva pelos antigos donos das terras, os
seringalistas.
Dezenas de líderes populares de outros Estados foram
mortos por praticar luta semelhante sem o mesmo destaque, ou nenhum.
O campeão dessas mortes anunciadas é o Pará, que
Chico nunca visitou para se inteirar dos gravíssimos problemas fundiários,
sociais e ambientais. O Acre é muito mais preservado do que os vizinhos Mato
Grosso e Rondônia, ou mesmo o Pará, com o maior desmatamento e a mais sangrenta
violência.
A pecuária continuou a avançar no Acre e as reservas
extrativistas, o ideal da causa sustentada por Chico Mendes, só se mantêm
graças a subsídio estatal. Por isso mesmo, sem condições de se sustentar como
tal por longo prazo em função da concorrência comercial e da pressão de outras
unidades produtivas, apesar de 20 anos seguidos de governo petistas. O
desmatamento da Amazônia como um todo não foi inibido – nem nas áreas já
ocupadas pelas frentes econômicas nem nas novas fronteiras, como o Amazonas, o
maior dos Estados.
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