Quarta-feira, 13 de agosto de 2014 - 05h01
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Editor do Jornal Pessoal
De Belém (PA)
Sair das ditaduras é quase tão difícil quanto entrar nelas – e traumático. Principalmente para a imprensa, a primeira a ser amordaçada pelos tiranos que chegam ao poder, alérgicos à liberdade. O interregno entre o fim do Estado Novo, em 1945 (a mais duradoura ditadura personalizada – em Getúlio Vargas – do país, por 15 anos), e o início da mais longa das muitas ditaduras que assolaram a frágil e sempre noviça república brasileira, em 1964, o Brasil viu surgir a mais brilhante geração de jornalistas de todos os tempos. Não por acaso: foi o período de mais extensa democracia até então, que sobreviveu ao longo de quase 19 anos.
Nunca houve tantos jornalistas brilhantes nas redações. O que não faltavam eram redações. Eram muitos os jornais, revistas e outras formas de publicações, diárias ou de qualquer outra periodicidade. Tantos abrigos atraíam não só os profissionais da notícia; sem qualquer restrição, escritores e outros intelectuais afluíam para a imprensa periódica, o que explica a qualidade dos textos e a popularidade de um gênero mais refinado, como a crônica.
Com a repressão à liberdade de expressão a partir de 1964, com ênfase muito mais selvagem depois da edição do nefando AI-5, em 1968, os jornalistas tiveram que buscar alternativas para se comunicar com o público, sem se transformar em porta-vozes – voluntários ou não – de um regime policial, que cultivava a censura como razão de Estado.
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