Quinta-feira, 24 de junho de 2010 - 12h56
Eliezer, o homenageado pelos industriais do Pará, só é conhecido em restritos círculos do poder. O grande público o ignora /CORNWALLTUBE |
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Editor do Jornal Pessoal
BELÉM, Pará – Se fosse selecionar através de consulta popular nomes para receberem a Medalha do Mérito Industrial Simão Bitar, a mais importante que concede, a Federação das Indústrias do Pará jamais chegaria a Eliezer Batista. Mas foi ele o escolhido para a honraria, conferida em solenidade realizada no dia 20 de maio, em Belém. O homenageado só é conhecido em restritos círculos do poder. O grande público o ignora. Raros poderiam dizer que esse geólogo mineiro, em plena atividade aos 86 anos, é um dos principais personagens da história contemporânea da Amazônia, em particular do Pará.
É sintomático que o pai de Eike Batista, um dos poucos bilionários brasileiros, tão famoso por esse título quanto por ter sido marido de Luma de Oliveira, já tenha estado muito mais vezes em Tóquio do que na capital paraense. Eliezer, aliás, é o não residente no país que mais vezes visitou o Japão. Diz-se que lá esteve por mais de uma centena e meia de vezes, Fala fluentemente o japonês – e pelo menos seis outras línguas.
Dentre suas façanhas, cantadas em prosa e verso, está a de ter viabilizado a melhor mina de ferro do mundo, a de Carajás. Parecia que, 10 anos depois de ter sido descoberta, em 1967, a mineração estava ferida de morte. A americana United States Steel, a maior de todas as siderúrgicas, decidiu em 1977 se retirar do empreendimento, que fora só seu até 1969, quando os militares impuseram a sua associação à então estatal Companhia Vale do Rio Doce.
Olhava para Ásia
Carajás foi concebido para o mercado americano, onde a penetração brasileira era mínima. A garantia do negócio era dada pela USS. Com sua saída da sociedade, Carajás parecia condenado a permanecer em banho-maria até que a gigante do aço se decidisse a voltar. Era o que a Steel também pensava. Mas Eliezer Batista não partilhava essa convicção. Para ele, a viabilidade estava do outro lado do mundo, na Ásia.
Nessa época, uma operação dessas equivalia à travessia dos Alpes pelas tropas do cartaginês Aníbal Barca, que surpreendeu o poderio romano surgindo na sua retaguarda. Como Aníbal, o maior dos talentos de Eliezer se revelaria por uma concepção mais ampla de logística. Não só identificando o mercado potencial para seus produtos como minimizando os custos de transporte para que o preço fosse competitivo.
Cavalo de tróia
Foi assim que o minério de ferro de Carajás foi escoado para um porto de grande calado na baía de São Luís do Maranhão, embarcado em grandes navios graneleiros (inclusive os da Docenave, subsidiária da CVRD) e chegou ao Japão mais barato (também em função do seu elevado teor de hematita pura) do que o concorrente australiano, que está a um terço da distância. Hoje, 80% do minério que sai de Carajás segue para a Ásia, sem competidor à altura. Uma realização com a marca de Eliezer Batista, visionário na prancheta, pragmático na realização.
Então ele é justo merecedor da medalha da Fiepa, reservada àqueles que se destacaram “por relevantes serviços prestados ao Estado do Pará, tornando-se alvo da admiração e gratidão do povo paraense”? Por certa ótica, sem dúvida. O cidadão mineiro preenche melhor essas exigências do que muito paraense já homenageado pela entidade corporativa da indústria estadual. Mas se os considerandos forem levados ao pé da letra, a concessão se torna francamente questionável. Carajás, como obra de engenharia, é um monumento.
Como instrumento a serviço do desenvolvimento do Estado ou da região, é um autêntico cavalo de Tróia. Negócio maravilhoso para japoneses e chineses, os que mais ganham. Só residualmente favorável aos nativos, que ganham, é verdade, mas saem perdendo na relação entre o que ganham e o que perdem.
Ficam em prejuízo ainda maior quando a relação é entre o que ganham e o que poderiam ganhar se a inquestionável genialidade de Eliezer Batista tivesse uma marca mais nossa do que dos compradores dos nossos produtos. Se não tivesse um travo colonial.
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