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Lúcio Flávio Pinto

Hospital de Marabá: uma história obscura


Hospital de Marabá: uma história obscura - Gente de Opinião
Marlon bamburrou, ficou milionário, virou fazendeiro e praticou crimes bárbaros /ANDRÉ DUSEK


 


LÚCIO FLÁVIO PINTO
Editor do Jornal Pessoal

A foto do ex-mecânico Marlon Lopes Pidde circulou pelo mundo todo no início da década de 1980 do século passado. Ele foi o garimpeiro de mais sorte em Serra Pelada, o maior garimpo de todos os tempos, no sul do Pará. Uns disse que na sua “cava” extraiu quatro toneladas de ouro. Outros garantem que foi o dobro. De qualquer maneira, Marlon “bamburrou” como ninguém. Ficou milionário. Comprou terras em Marabá e virou fazendeiro.

Um dia lhe disseram que cinco homens tinham invadido sua fazenda, a Princesa. Marlon reuniu três pistoleiros, o irmão e mais duas pessoas, montou uma cilada para os agricultores, dizendo-lhes que uma juíza estava na sede da propriedade para fazerem acordo, prendeu todos, torturou-os, queimou-os, amarrou uns aos outros e a pedras pesadas, e os atirou no rio Parauapebas. Era para dar sumiço nos corpos. Mas eles boiaram, a matança foi descoberta e Marlon, com ordem de prisão decretada um mês depois do crime, em outubro de 1985, permaneceu como foragido da justiça durante 2l anos, apesar do escândalo que a chacina provocou internacionalmente. De garimpeiro sortudo ele virara criminoso cruel.

A Polícia Federal finalmente o prendeu em 2006, em São Paulo, onde ele tinha uma farmácia. Desde então seus advogados têm tentado, sem sucesso, soltá-lo das grades, presentemente na penitenciária de Americano, na área metropolitana de Belém. A justiça tem rejeitado todos os pedidos de habeas corpus que foram formulados em favor do assassino.

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Localização do município de Marabá, no mapa do Estado do Pará

Indenização milionária

Mas se ele é réu na área criminal, é autor no foro cível. Foi beneficiado por uma decisão da juíza Maria Aldecy de Souza Pissolati, titular da vara da Fazenda Pública de Marabá. Ela condenou o Hospital Celina Gonçalves a pagar a Marlon Lopes Pidde quase R$ 3,5 milhões como indenização por sua participação na sociedade controladora do hospital, por perdas e danos, e dividendos ou lucros adquiridos. Com os honorários, arbitrados pelo máximo, em 20% mais as custas processuais, o valor final deve ficar em R$ 4 milhões.

Marlon Pidde propôs em 2005 a ação de cobrança cumulada com perdas e danos contra o Hospital Celina Gonçalves S/A e o Estado, na condição de litisconsórcio passivo, ao se declarar informado de que o hospital fora objeto de desapropriação por utilidade pública. Alegou que desde 1983 era sócio fundador da empresa. Teria direito a 5,88% do valor da desapropriação, de R$ 13.708.387,54, pagos pelo governo do Estado, na administração do tucano Simão Jatene, dinheiro que não recebeu.

Dúvida e controvérsia

Demétrius Ribeiro, controlador da sociedade, contou outra história. Disse que realmente as ações foram oferecidas a Pidde e a venda chegou a ser formalizada. Não foi consumada, porém, porque o comprador não pagou pela participação. Garantiu que o ex-garimpeiro ainda tentou registrar o contrato, mas não conseguiu por não ter um recibo do pagamento pelas ações.

Examinando a perícia feita nas contas da D. N. Participações, de Demétrio, principal beneficiária pela transferência do dinheiro pago pelo Estado, a juíza Aldecy Pissolatti atestou que o patrimônio da sociedade foi dissipado sem a necessária prestação de contas. Embora a empresa desapropriada continue a existir, seu patrimônio “hoje é quase zero”. Só com a Receita Federal, a instituição teria um débito de R$ 5,7 milhões.

Não só a situação societária é duvidosa e controversa. Também a desapropriação. Era evidente que o hospital estava praticamente paralisado, sem estrutura para prestar serviços de saúde. Numa única coisa ele estava ativo: na publicidade.

Ela foi desencadeada alguns meses antes da desapropriação, para dar uma idéia de grandeza do hospital, que era fictícia. E ocultar suas complicações, que agora emergem. Talvez para propiciar não apenas os esclarecimentos financeiros e alertar sobre a presença de um criminoso sanguinário, mas também a própria transação.


 

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