Sexta-feira, 25 de maio de 2018 - 12h13
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Editor do Jornal Pessoal
Belém
Quem só foi dormir ontem, depois de acompanhar a celebração festiva de um acordo de 12 pontos entre o governo e os representantes dos caminhoneiros, deve ter tido sonhos utópicos. Viu um governo sutilmente competente, com canais de comunicação com a massa, capacidade para recrutar seus líderes e colocá-los numa mesa de negociação com final feliz. Ao acordar hoje e ler as manchetes dos jornais, o cidadão crédulo deve ter pensado: não, não foi um sonho. Ainda podemos ser felizes.
Alguma coisa estava errada, porém, no próprio ato de oficialização do acerto. Foi quando o ministro Eliseu Padilha, na cabeceira da mesa, no Palácio do Planalto, em Brasília, utilizado pelo governo para fazer o anúncio do restabelecimento da paz num Brasil arrasado por uma única categoria profissional, chamou pessoas, que estavam no fundo do salão, para se ombrearem às autoridades.
Não vi ninguém com um perfil que coubesse no que se esperava ver. Cidadãos bem trajados, todos de paletó e gravata, com aparência saudável, foram se juntando aos integrantes do apparatchick de Temer (em tertúlia festiva por Minas Gerais), agora de pé, para abrir espaço para tantos protagonistas. Aplausos e sorrisos largos na plateia.
Em entrevista dada em outro local, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, com seu imutável ar solene, de quem respira fazendo história, prometeu que o governo investigaria para verificar a denúncia de que os donos de empresas de transporte rodoviário estavam por trás da paralisação dos motoristas. Nesse caso, era locaute. E patrão não pode fazer greve, é ilegal. É ato político verdadeiramente subversivo.
Talvez sua excelência não se tenha dado ao trabalho de observar os aclamados líderes do movimento, chamados a abrilhantar o anúncio de paz. Maior pinta de patrão não poderia haver. Tão certa que, neste momento em que escrevo, a paralisação prossegue, muitos caminhoneiros alegam não haver recebido qualquer informação sobre o acordo e, mais uma vez, Brasília, péssimo compromisso de campanha eleitoral em Goiás de Juscelino Kubitschek, confirma a sua condição de ilha da fantasia, corpo anômalo desligado do organismo territorial brasileiro.
A contradição entre a verdade produzida em Brasília e a realidade de um Brasil dilacerado pode imediatamente fomentar teorias conspiratórias, certas ou erradas, falsas ou verdadeiras - tudo isso alimentado por uma inacreditável falta de informações consistentes na agenda nacional e uma vergonhosa desonestidade intelectual na elite.
Os caminhoneiros foram usados pelos patrões para dilatar sua taxa de lucro. Forçam a redução dos custos sem a equivalente diminuição do preço ao consumidor. Impõem a volta de subsídios ao setor sem qualquer reciprocidade. O contribuinte que arque com a conta;
Os caminhoneiros podem estar a serviço de planos ainda mais sinistros. Na melhor das hipóteses, serviriam de inocentes úteis para o imperialismo americano, minando a saúde da Petrobrás e ampliando ainda mais os flancos da estatal para a penetração das suas competidoras estrangeiras, tanto no fornecimento de combustíveis no mercado interno, fazendo encolher a capacidade de refino da Petrobrás, quanto na importação de petróleo cru do Brasil. Beneficiado no exterior, possibilitaria a essas multinacionais produzir derivados mais baratos do que no próprio Brasil.
Enunciados lógicos, argumentos convincentes, mas pouca ou nenhuma demonstração dos enunciados. Mesmo que haja verdade nessas interpretações (e há, de fato), ela não esgota a questão e, às vezes, esconde alguns dos seus elementos essenciais. Tudo porque um governo que precisa de engenho e arte para se manter até o fim do tempo que ainda lhe resta de mandato, não tem credibilidade, perdeu a legitimidade e ficou sem a força que um momento tão delicado, como o atual, exige.
A justiça já expediu decisões, a lei ampara a iniciativa, e o congelamento do Brasil, que está sofrendo um pesado prejuízo (não calculado até agora - e espera-se que o presidente da Câmara dos Deputados não se atreva a qualquer outro exercício aritmético), rompeu o limite do razoável.
Alguns dos danos materiais são irremediáveis. A lesão moral, às vésperas de uma eleição geral, é profunda, grave e lamentável. O Brasil volta a não acreditar em si. O espectro do subsídio estatal e a prática de preços irresponsavelmente administrados, dois eixos no rumo ao desastre seguido pelos governos petistas, está de volta - agora ou na eleição de outubro.
O governo, se governo ainda fosse, já devia ter recorrido à força legal, na justa medida da ofensa à lei, para desobstruir as estradas, com o emprego de força enérgica, se necessária, para que o país não continue a patinar no vazio, com um destino certo: a queda. Mas o governo acredita nas suas fantasias, um mal quando acontece com os indivíduos, uma tragédia quando atinge um país.
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