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Lúcio Flávio Pinto

Levar energia elétrica a Roraima ainda é um desafio


Levar energia elétrica a Roraima ainda é um desafio - Gente de Opinião

A Eletronorte vai incorporar à sua concessão federal – para o fornecimento de energia em Roraima – os bens e as instalações da Interligação Elétrica Brasil-Venezuela. A autorização foi dada, ontem, pelo Ministério de Minas e Energia. O ministério deu a autorização à Agência Nacional de Energia Elétrica, que a repassará à subsidiária da Eletrobras na Amazônia.

Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso inaugurou o trecho brasileiro da linha de transmissão de energia (com 230 quilômetros dos 706 quilômetros de extensão total), entre a hidrelétrica de Guri, na Venezuela, uma das maiores do mundo, e Boa Vista, a capital de Roraima,

A Eletronorte foi autorizada a importar da Venezuela 200 megawatts para suprimento à capital e a outros municípios do Estado, que possui mais de 650 mil habitantes. A autorização, por 20 anos venceu em junho do ano passado. Mas a linha já estava inoperante desde março de 2019, quando o governo venezuelano cortou a energia sem dar qualquer explicação ao associado brasileiro na obra.

Como é o único estado ainda não interligado ao sistema elétrico nacional, Roraima voltou a depender de quatro usinas termelétricas instaladas há mais tempo e de uma nova. Quando a linha de Guri para Roraima foi desligada, seu custo mensal era de 62 milhões de reais. Com as usinas térmicas, a despesa passou a ser de R$ 107 milhões, 70% mais cara.

A portaria do ministério determinou que os contratos existentes de importação e de exportação de energia elétrica com o país vizinho deverão ser encerrados no prazo estabelecido pela Aneel e não poderão ser assinados novos contratos dessa natureza. A determinação é apenas formal, já que a Venezuela não fornece energia há três anos.

Uma solução hidrelétrica é defendida pelas lideranças locais há muitos anos. Seria a hidrelétrica Bem Querer, na bacia do rio Branco. Mas para produzir os 1049 megawatts previstos no inventário, seria preciso alagar uma área com 150 quilômetros de comprimento e área com mais de 500 quilômetros quadrados, maior do que o reservatório da hidrelétrica de Belo Monte, 10 vezes mais potente. A região é muito plana, daí o terrível impacto ecológico, além do enorme investimento. Até agora a obra não foi licenciada.

Assim, não há solução de curto prazo ao alcance da Eletronorte para garantir energia mais barata aos 117 mil consumidores de Roraima, com demanda reprimida de 425 megawatts. O custo dos derivados de petróleo é tão alto que só 22% dele são repassados ao mercado local. 78% são custeados pelo consumidor de todo país.

Mas o negócio é suficientemente apetitoso para uma empresa privada audaciosa. Em fevereiro deste ano, a Eneva foi autorizada a iniciar a operação da primeira unidade, de quase 50 megawatts, da termelétrica Jaguatirica II, com capacidade total de 140,8 MW, em Roraima.

Jaguatirica será a maior das agora cinco usinas de energia do antigo território federal. A capacidade da térmica equivale a quase metade da potência de uma única das 23 turbinas da hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, no Pará.

A usina é movida a gás natural, que é extraído do campo de Azulão, no Amazonas, que passou 20 anos, depois de descoberto, sem exploração, só iniciada em setembro do ano passado. Diariamente, centenas de caminhões percorrem a BR-174, paralela à linha de transmissão, para levar esse gás

Em 2011, a empresa Transnorte venceu a licitação para construir uma linha de transmissão na direção contrária, rumo sul (de Boa Vista para Manaus), quase do mesmo comprimento (726 quilômetros) da que foi aberta na direção da Venezuela, obra de R$ 1,1 bilhão (valor da época).

O contrato caducou porque a linha emperrou ao chegar à reserva indígena waimiri-atroari. Ainda não houve acordo para a passagem pelos 123 quilômetros pelo interior da reserva, embora a linha atravesse área já alterada pela rodovia federal.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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