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Lúcio Flávio Pinto

Lula e Maluf - Por Lúcio Flávio Pinto



Lula se tornou o político mais importante da VI República no Brasil, iniciada com a redemocratização de 1985, cinco anos depois da criação do PT. É um dos raros brasileiros que chegou ao poder máximo tendo a mais humilde origem, o único sindicalista a conquistar a presidência do país, o político de maior persistência na busca por essa posição, com uma determinação amparada no seu carisma e no fascínio que sua biografia exerce.

Todas essas condições lhe reservariam um lugar de destaque na história nacional, a despeio dos erros que cometeu na gestão de oito anos à frente do governo federal.

O mensalão começou a manchar a sua imagem, abrindo uma fenda para vê-lo por detrás das conquistas que fez. A Lava-Jato escancarou o outro lado da sua personalidade e das motivações dos seus atos.

Se a investigação da corrupção de Lula e em torno dele se consolidar, resistindo aos questionamentos de ser apenas uma conspiração contra o grande líder popular, seu legado estará comprometido. Em pouco tempo, a revisão historiográfica poderá despejá-lo do pedestal, no qual ainda resiste ao desgaste causado pelas revelações sobre o lado negro do exercício do poder.

Lula não luta apenas para poder se candidatar de novo à presidência no próximo ano, pela sexta vez (quantos têm esse item no seu currículo em todo mundo?). Luta para proteger sua biografia da ameaça de vê-la corroída pela nova imagem, de propineiro. Se ela se consolidar como a última impressão, será a que ficará no desdobramento do tempo.

Este é o drama no qual Lula se debate. Mas há uma dimensão da sua personalidade que mais enodoa a sua imagem, independentemente de qualquer análise de mérito sobre ele: a prática constante de abandonar os companheiros, amigos e parentes quando eles lhe causam algum prejuízo ou ameaçam causa-lo.

É o líder que deixa no relento os liderados, mesmo quando os erros que eventualmente eles cometeram resultaram de uma ordem do comandante. A carreira de Lula é uma sucessão de traições e covardias, por ele mesmo justificadas pela auto-definição de contradição ambulante. Nunca assume os erros. Ao primeiro sinal de alerta, trata de encontrar bodes expiatórios. Fez isso com a própria esposa.

A mais recente dessas manobras deu-se quando, mal Maluf estava sendo preso, Lula já renegava tudo que pudesse ligá-lo ao político caído em maior desgraça. O elo material era uma foto que tirou, sorridente e feliz, abraçando Maluf na mansão dele, numa das áreas mais nobres da cidade de São Paulo, apenas cinco anos atrás.

Na entrevista coletiva que concedeu aos jornalistas, no dia 20, Lula procurou a proteção de sempre desfigurando a realidade, numa reconstituição de tal falsidade que ele se contradisse imediatamente. Primeiro, garantiu que só foi ao encontro para ajudar a dar mais votos para o candidato do PT à prefeitura paulistana, sacramentando a aliança com o PP de Maluf. Depois, admitiu o contrário: que a sua presença, acentuada pelo fato de estar convalescendo de uma cirurgia de câncer, não era necessária. Por isso, se arrependeu de ter permitido a cena.

Como foi Ricardo Galhardo quem primeiro registrou essa contradição, no mesmo dia do seu cometimento, reproduzo o seu texto, publicado em O Estado de S. Paulo e citada pelo leitor José Silva, em comentário neste blog.

No dia em que o deputado Paulo Maluf (PP-SP) foi preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “nunca se perdoou” por ter aceitado posar para uma foto com o adversário histórico durante a campanha para a eleição municipal de 2012.

Naquele ano, Lula ainda estava em tratamento contra um câncer na laringe e dificilmente fazia aparições públicas. O PT negociou uma aliança com o PP mas além de participação no futuro governo petista, Maluf exigiu uma foto com Lula para selar o acordo.

Na manhã do dia 18 de junho Lula e Maluf, que durante décadas protagonizaram uma dura disputa política em lados opostos, surpreenderam o mundo político aparecerem nos jardins da casa do deputado, no sofisticado bairro do Jardim América, entre abraços e sorrisos na frente de um batalhão de fotógrafos.

A imagem foi o estopim para quer a deputada Luíza Erundina (PSOL-SP), então candidata a vice de Haddad, desembarcasse da campanha do petista causando uma crise para o PT.

Nesta quarta-feira, durante café da manhã com jornalistas na sede do Instituto Lula, em São Paulo, o ex-presidente falou espontaneamente sobre o assunto.

“Quando o Haddad era candidato eu estava com câncer, estava inchado, e foram me tirar da minha casa para eu tirar uma foto com o Maluf. Eu achava que era necessário sobretudo porque o Haddad ia ter dois minutos a mais na TV e quando a gente não é muito conhecido o tempo na TV ajuda pra caramba. Mas eu nunca me perdoei por aquela foto porque eu achava que não precisava”, disse Lula.

O ex-presidente foi condenado a nove anos e meio de cadeia pelo juiz Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá e caso a condenação se confirme em segunda instância também pode ser obrigado a cumprir pena em regime fechado.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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