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Lúcio Flávio Pinto

O fim da juta?



O saco de juta, embalagem característica que dominou os embarques para o exterior de café do Brasil por mais de dois séculos, está chegando ao fim. Empresas do mundo inteiro estão substituindo a saca de 60 quilos, feita com a fibra introduzida no Brasil por imigrantes japoneses, que a plantaram na Amazônia.

No lugar dela, introduziram enormes sacos plásticos, que permitem economia de milhões de dólares por ano, “em um movimento tão bem-sucedido que deve remodelar a indústria cafeeira mundial”, segundo notícia distribuída hoje pela agência inglesa Reuters.

O abandono da tradicional embalagem é gradativo, mas constante, “à medida que comerciantes e cooperativas enfrentam um crescente aumento de custos em meio a preços globais fracos e diante de um aprofundamento da crise econômica no país”.

O saco de juta de 60 quilos foi adotado como uma unidade padrão de medição para negociação café desde que o Brasil iniciou a produção comercial, no século 18.

Lembra o despacho que até poucos anos atrás, o maior produtor de café do mundo despachava quase todas as suas exportações em sacos de juta. Mas no próximo ano o Brasil já exportará mais de metade do seu café verde em grande sacos de polipropileno de uma tonelada ou invólucros de polietileno de 21,6 toneladas para contêineres.

A Dínamo, maior armazenadora de café no porto de Santos, informou à agência que 30% das suas exportações em 2015 foram embaladas nos super-sacos, com um crescimento de 5% ao ano. A maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, praticamente eliminou a juta.

“É o futuro”, disse o operador Mauricio Di Cunto, da exportadora Comexim, que embarca metade do seu café a granel. “Ele nos permite ser mais agressivos na oferta de descontos sem o custo de juta”, acrescentou.

“Os grãos e o açúcar há muito tempo passaram a ser embarcados em grandes quantidades, mas o café foi um retardatário nesse processo. O crescimento na movimentação de granéis reflete uma queda na oferta de trabalho manual para embarcar os sacos de café. Salários mais altos e regulamentos mais rigorosos, que expõem indústrias a processos trabalhistas, estão acelerando o declínio”, relata a Reuters.

A troca dos tradicionais sacos de aniagem por embalagens 15 vezes maiores, em derivados de petróleo, é feita justamente quando os preços globais das matérias-primas caem, com o crescimento mais lento da demanda em mercados emergentes como a China. O preço do café, que de campeão das exportações brasileiras se tornou a sexta principal commodity do país, caiu mais de 60% desde 2011, quando alcançou o valor máximo.

A cooperativa Cooxupé, que movimenta um décimo de todo o café do Brasil, praticamente eliminou a saca de juta, obtendo assim economia de 18 milhões de reais por ano. Uma saca de juta custa 4 reais, mais um real para o conserto em caso de reuso. O “big bag” de uma tonelada sai por 50 a 150 reais. Em termos relaticos, custa quase a mesma coisa, mas dura duas vezes mais.

Além disso, o novo acondicionamento permite que o produto chegue aos consumidores com melhor qualidade, já que o plástico protege o café do calor, luz e umidade mais do que a juta.

No entanto, garante a Reuters, a saca de 60 quilos se manterá como unidade básica de medida do mercado, da mesma forma que a saca de grãos (no Brasil) e o bushel (nos Estados Unidos) continuam relevantes para o setor, mesmo com a soja e o milho sendo transportados a granel.

Já o mercado de cafés especiais, que oferece um valor maior por grãos produzidos com preocupações sociais e ambientais, deverá ser mais lento em abandonar os vínculos com a saca de juta. “As sacas de juta, com suas cores terrosas, aspecto rústico e estampas esmaecidas, dão uma impressão de produto tradicional, com origem no interior”.

É uma notícia desfavorável aos interesses dos juticultores e indústrias de fiação e tecelagem de juta, mas é uma realidade inevitável. Mais um capítulo da história econômica da Amazônia que se completa.

Fonte: Lúcio Flávio / Jornal Pessoal

 

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