Quarta-feira, 27 de julho de 2016 - 21h28
Maria Angela D´Incao, professora de sociologia da Unesp, E Isabel Gnaccarini, jornalista e doutoranda em ambiente e sociedade pela Unicamp, publicaram na Folha de S. Paulo da semana passada a melhor reflexão sobre um episódio que chocou a opinião pública, mas não passou de um raio de interesse: a morte da onça Juma depois de ter sido exibida ao lado da tocha olímpica, quando ela passou por Manaus.
O artigo das duas professoras merece ser lido pelos leitores do blog, vários dos quais devem ter conhecido e ouvido falar de Maria Angela, pesquisadora que esteve por aqui durante vários anos, atuando no Núcleo de Altos Estudos Amazônico da Universidade Federal do Pará.
Não se pode ignorar o tamanho do crime que o Exército Nacional cometeu, em Manaus, ao atirar em Juma, a onça pintada fotografada ao lado da tocha olímpica. Um crime que o Exército vem cometendo sistematicamente na Amazônia: a exploração de animais silvestres como mascotes.
Assim, do que fomos informados pela mídia, importa saber que Juma foi criada pelo Exército, por ter perdido a mãe. Aos nove anos, vivia ainda em jaula, como as demais na mesma situação. De tempos em tempos, eram exibidas em desfiles, acorrentadas, como um símbolo, talvez, da ignorância do que necessita um animal silvestre, para dizer o mínimo.
Pois a verdade é que, mesmo estando em extinção, não houve pedido de licença para exibir a onça Juma. Sua morte se reveste de ilegalidade mesmo estando em zoológico do Exército, que pode ser considerado “depósito” de animais silvestres em risco.
Já é bastante difundida a ideia de que animais silvestres que precisam da ajuda humana devem ser devolvidos à natureza assim que já possam cuidar de si. Também existem possibilidades de parques silvestres, como áreas protegidas, onde esses animais recebem cuidados e proteção.
A Amazônia não é desprovida de possibilidades para o cumprimento dessas práticas, não só devido às florestas extensas, como pela presença do conhecimento nessa direção em inúmeras áreas nas universidades e demais instituições devotadas ao tema, presentes na região.
Um exemplo positivo foi a grande surpresa, segundo os pesquisadores e funcionários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (Amazonas), de terem capturado em uma outra ocasião uma onça em gestação (Fofa), oferecendo a melhor prova de que elas estão bem adaptadas e isso com o aval da veterinária especialista do Instituto, Louise Maranhão.
Ali se encontra a maior presença de onças no mundo, o que é estimado pelo pesquisador Emiliano Ramalho: dez a cada 100 km². O mais alarmante, no entanto, vem a ser o Comitê Olímpico ter aceitado essa possibilidade. Explorar um animal silvestre acorrentado em tempos nos quais isso é profundamente negativo, criminoso e criticável por qualquer pensamento minimamente atual.
Esse comitê não deve ter refletido seriamente sobre a importância de sua tarefa. Deve ter pensado no exotismo brasileiro… uma grande impostura. Dizer que a onça pintada, de hábitos noturnos, não sabe readaptar-se à floresta é de um engano inadmissível para os que pretendem cuidar de animais em risco.
Trata-se de um felino que prefere viver só, e caso encontre condições no locus de readaptação, viverá por muitos anos! Toda a readaptação de animais ao seu habitat dá trabalho e o Exército, na região, deveria saber disso.
Para finalizar, exibir de um animal lindo, e já raro no país, acorrentado, e querer nos convencer de que ele já estava habituado a demonstrações públicas é algo que depõe sobre esses atores. Também porque, como já se sabe, o fizeram sem licença adequada.
É o que pesará, para sempre, em nossa história das relações com os animais silvestres e a imensa floresta amazônica. O Comando Militar da Amazônia (CMA) deu várias notícias sobre a situação, apreensão e morte de Juma. Um indício de quê? Será essa a prática do Exército brasileiro em outras regiões?
Albrás é a maior consumidora de energia elétrica do País
A Albras, a fábrica de alumínio da multinacional norueguesa Norsk Hydro, instalada em Barcarena, é a maior consumidora de energia do Brasil. Sua carga
O enclave de Ludwig na Amazônia no tempo da ditadura
Lendo o seu artigo Carajás: enclave no Pará, me veio em mente uma experiência que fiz com a Jari, quando trabalhava como economista, no fim dos anos
Por que não proteger as castanheiras?
A PA-230, rodovia estadual paraense que liga os municípios de Uruará, na Transamazônica, a Santarém, situada no local de convergência do rio Tapajós c
Publico a seguir a entrevista que Edyr Augusto Proença (foto) concedeu à revista digital Amazônia Latitude, iniciando uma série de entrevistas com esc