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Lúcio Flávio Pinto

Pará aumenta geração de energia, mas não transforma riquezas




Estado amazônico, terceiro maior produtor energético, tem novas hidrelétricas, mas não atrai indústrias. Enfim, a governadora expõe o problema ao governo federal.
 

LÚCIO FLÁVIO PINTO 
Agência Amazônia  


BELÉM, PA – Finalmente uma importante questão técnica da área de energia chegou aos ouvidos da governadora do Pará e ela a expôs de público. Ana Júlia Carepa (PT) disse ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em Brasília, que de pouco adianta o Pará aumentar sua geração de energia se esse incremento não pode beneficiar toda a sua população, dispersa num território do tamanho da Colômbia, nem atrair indústrias para transformar suas riquezas naturais, sobretudo os minérios.

O Pará é o 3º maior exportador de energia bruta do país. E vai continuar crescendo, se depender do governo federal, que tenta viabilizar as novas hidrelétricas de Belo Monte (com 11 mil megawatts) e o complexo do Tapajós (12 mil MW).

A governadora reivindicou alterações no cálculo da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (TUST), para que os grandes consumidores sejam atraídos e recompensados por estarem instalados ou vierem a se instalar às proximidades das maiores usinas de geração de energia. Ela defendeu também medidas de estímulo à participação das empresas que produzem energia para seu próprio consumo (os chamados autoprodutores) nos consórcios que participam dos leilões de energia, especialmente os de grandes empreendimentos.

A posição de Ana Júlia significou um avanço em relação à sua imobilidade anterior, mas as teses que apresentou não constituem qualquer novidade no debate travado à margem do poder. A novidade seria se ela apresentasse propostas concretas para ir além dessa discussão. Providências para colocar em prática as teses sustentadas, quando elas realmente favorecem o progresso do Estado e não apenas de mais meia dúzia de empreendimentos. 


Pedras no rio


Empresários estabelecidos em Mato Grosso começam a ver a concretização dos seus sonhos de uma hidrovia de 1.300 quilômetros entre Sinop e Alta Floresta, dois pólos do agronegócio no norte do Estado, e o porto de Santarém: a implantação de hidrelétricas no Tapajós e no Teles Pires. No prospecto do governo, as duas usinas ainda continuam no âmbito das cogitações. Mas em Mato Grosso elas são tratadas como se já estivessem no estágio de realidade.

Os mato-grossenses dão como certo que o trecho mais longo da hidrovia, de quase mil quilômetros, Tapajós acima, a partir de São Luís, o mais difícil para a navegação por causa da sucessão de cachoeiras e quedas d’água ao longo de 28 quilômetros de extensão, se tornará viável com as duas usinas que a Construtora Camargo Corrêa vai construir ali, com previsão de 11 mil megawatts, quase o dobro das duas hidrelétricas do rio Madeira (Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, deverão gerar 6,5 mil MW).

A primeira usina terá capacidade instalada de nove mil megawatts; a outra, de 2 mil MW, ficará no Jamanxim, afluente do Tapajós. A construção das duas barragens já teria o aval do governo, que liberou para a construtora mineira 13,6 milhões de reais pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, para o primeiro estudo sobre o projeto.

A melhoria da navegação na bacia do Tapajós/Teles Pires seria ainda mais facilitada pela implantação de outras seis usinas previstas no inventário hidrelétrico aprovado em julho pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), com capacidade para gerar 3.697 MW.

Os projetos são tratados como fatos consumados e inquestionáveis, quando o processo mal foi aberto e ainda tem mais questionamentos pela frente do que o Tapajós tem de pedras no seu leito acima de Itaituba. É uma questão, aliás, muito pedregosa. Só que essas pedras simbólicas estão ocultas nos bastidores do poder, o que lhes aumenta a periculosidade.

O autor edita o  Jornal Pessoal  em Belém e colabora com a Agência Amazônia.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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