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Lúcio Flávio Pinto

Uma e outra América - Por Lúcio Flávio Pinto


Pablo Martinez Monsivais, da Associated Press, fez a foto do ano, reproduzida em todo mundo, inclusive por O Liberal, na sua primeira página da edição de hoje. “Donald Trump e Barack Obama se cumprimentam protocolarmente no primeiro encontro após as eleições”, escreveu na lenda o redator do jornal. Mas o cumprimento não foi apenas protocolar, imposto pela função pública que o presidente dos Estados Unidos ocupa e pela ambição do seu sucessor, já eleito.

É um dar as mãos entre um branco supremo, de tez vermelha como a cor do uísque nativo e cabelos oxigenados no tom do velo de ouro, e um negro esbelto, que envelheceu cinco anos a cada ano de exercício do cargo mais poderoso do planeta, negando o velho ditado brasileiro (hoje fulminado pela heterodoxia do direito, que impõe regras de proteção e azeda o humor): quando negro pinta, três vezes trinta.

Trump está de olhos fechados, concentrado e fazendo o máximo de força no aperto de mão, para impor a sua força, concentrada num corpo maciço e obeso. Obama fixa-o olhando de cima, com ar superior, mas nada tolerante; pelo contráiro, exasperado, com mal contida fúria.

A mão livre de Trump, usada sobre a poltrona, está relaxada. Sugere que ele exauriu suas forças na outra mão, a direita, cruzada sobre o corpo para chegar ao interlocutor, que já antecipa a troca do bastão do poder, tomado antes do empo e da regra civilizada. A mão livre de Obama está tensa e rígida, como ele se segurasse no assento para não ser puxado pelo sucessor indesejado e indesejável, mantendo o que lhe resta de poder.

Uma América que sai, uma América que entra. O que sai com uma e o que entra com a outra?

Talvez nunca o mundo tenha encarado com tantas dúvidas, ansiedades, medos e incertezas a subida ao trono do distante e imprevisto imperador do renascido Sacro Império do Ocidente.

PS – Viva à tecnologia atual. Talvez só ela tenha permitido ao fotógrafo registrar a cena antológica num instantâneo tão revelador. Deve ter acionado o disparador da sua máquina sem levantar o dedo, acionando o motor de repetição. Na era anterior, seriam muitos cliques. No intervalo de um deles, o flagrante teria sido perdido.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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