Sexta-feira, 29 de novembro de 2013 - 07h20
Hoje resolvi pegar o meu “Ita do Norte” surreal, particular e zarpei rumo incerto e sabido, mas ignorado pela multidão que me habita –essa uma certeza–como destino fixo a bússola e o meu GPS indicavam o infinito –nesse ponto uma contradição.
Eu, tão arrogante, deixei minha alma no porto da minha solidão para que “ela pudesse aprender a ter juízo e não fizesse tantas cobranças”...
Busquei encontrar forças do tempo em que eu me agasalhava no útero de minha mãe e nem chorei.
Fiquei navegando entre a proa e a popa da embarcação para dissimular a minha angústia, numa viagem em que os motores, desatracando a frota, aceleravam no compasso do meu coração.
No cais do porto ninguém para me dar um adeus, um abraço, um beijo ou uma palavra que me aquietasse, enfim, uma frase sequer que me premiasse os ouvidos dizendo “Volte Logo”!
Mesmo assim acenei para um anônimo, na ausência de uma pessoa dileta e que me olhou incrédulo, posto que (intuí) também estava tão irremediavelmente solitário quanto eu.
E a chalana apitava, apitava e apitava... Som triste, cadenciado, que espremeu o meu espírito largado choroso no barranco. De longe eu vi: ele derramava suas lágrimas, mas não se vergava e não pedia para viajar comigo, consoante tantas e tantas vezes nós fizemos.
E a composição fluvial subia o rio, toda faceira, porque seria o elo entre um porto e o outro, água acima, transportando uma nave daquela envergadura. Acelerou mais ainda impulsionado pela arritmia do ainda nem tão velho coração.
E o pôr-do-sol mansamente ia desembocando na nascente escuridão! As garças em vôo rasante às centenas passavam rente à proa do barco, encaminhando-se, sem ruídos, sem cânticos, para os ninhais. Em compensação, as ciganas se mexiam e escandalizavam a natureza com seus sons estridentes enquanto o cisne branco desfilava na passarela caudalosamente líquida, naquela fase de inverno cruel.
E a noite escura se debruçou em todas as direções! Lá em cima pontos de estrelas sinalizavam movimentos siderais e até um satélite artificial, sem desconfiômetro, mostrou a sua cara, desejando confundir e demonstrar ser parte de um universo que o olhava com desdém. Presunçoso, nem se deu conta de que, afora a missão de receber e enviar dados para os humanos, se morto, apagado, não faria falta...
Acontece, que caindo em mim, fui admitindo a intempestividade daquela viagem sem a minha companheira inseparável, porquanto a minha alma é a minha lucidez e me afasta da loucura; é a minha razão e o meu discernimento, o meu impulso e a minha ponderação; o meu equilíbrio e a minha sensatez; a minha inteligência e a minha busca de sabedoria...
–Onde estarás, alma minha tão querida, injustamente relegada, abandonada num momentâneo instante de cansaço?
Sem ser vista, ela, socorrendo-se de fatia pequena da sua capacidade onisciente, valendo-se de um pedaço de onipotência e antevendo que eu a chamaria, me observava de soslaio, já dentro daquele ambiente, que se movia devagar, como se se inspirasse no exemplo da chuva fina.
Ela, que sempre perdoou os meus deslizes, se sabia importante na minha vida e se tele transportou para um canto do majestoso e garboso casco flutuante movido à motor, na tentativa de ficar à espreita desejando ajudar, sem mágoas por ter sido tratada com desprezo e ingratidão.
Ao vê-la dei-lhe um abraço e um beijo e lhe falei sem segurar as lágrimas que insolentemente insistiam em rolar rosto abaixo:
-Você é a lealdade que não abandona; é a lógica que traduz os meus instantes de divindade; é a dialética que conversa com os meus botões neutralizando os momentos com trânsito no purgatório; a tese que me defende dos adversários e inimigos; a antítese que consagra as minhas vitórias e anula os efeitos das minhas derrotas; a síntese que resume o residual do que dessas duas restou, haja vista que confirmo: o rédito me é positivo, apesar das Contradições.
E a viagem teve inicio a partir daí, quando nos reencontramos novamente, demo-nos às mãos e nos abraçamos; e ela, a minha alma, a minha certeza, inspirando-se na música Maria Elena “olhou-me bem dentro dos olhos e chorou... chorou”...
E, depois, tão sorrateira, voltou para dentro de mim!
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