Sábado, 31 de agosto de 2024 - 09h42
Azul,
o nosso céu é sempre azul... Diz uma estrofe do Hino de Rondônia. Será?
Bem
antes do nosso “Sob Os Céus de Rondônia”, tentaram nos ensinar que: “do que a
terra mais garrida, teus risonhos, lindos campos têm mais flores; nossos
bosques tem mais vida, nossa vida no teu seio mais amores".
E eu
olho para o céu e me preocupo com as gerações que nos substituirão...
Mas,
convenhamos nesse agosto findante e, certamente no setembro entrante, aquelas
indicações acima vêm enlutadas no firmamento pelo sol vermelho, pelo cinzento
do horizonte e pelas toneladas de fagulhas que, qual neve lúgubre, vai caindo
na terra esturricada, borrando as águas, as piscinas e os mananciais.
Quem voa
à noite, se tiver boa vontade, olhando de cima, do alto, imagina, que aqueles
“pontos de luz” embaixo, seriam estrelas invertidas, reflexo no chão do seu
discreto brilho lá do céu. Ledo engano: são a representação da temeridade,
representam o fogo fratricida, o dano inclemente e irreversível, derivado das
armas e instrumentos que matam a vida, os bichos, imolando a natureza que, sem
defesa, morre aos poucos aqui na terra, pela ação maléfica do homem, ser tido
como superior, que Deus colocou à sua imagem e semelhança neste planeta
secundário.
Assim,
aqueles pontos amarelados para quem olha para baixo, quando se está a dez mil
metros de altura, representam a desídia, a incoerência material e física, a
pusilanimidade, as contradições, pseudo esperteza do humano, que investe na
improvisação querendo levar vantagem, mas que, na verdade, é ato suicida que
lhe vai ser cobrado logo mais, em seguida, ali na esquina do planeta, causada
pela fagulha da inconsequência.
Tudo à
guisa da falsa premissa de que o fogo limpa. Será? Na saúde se sabe que ele
esteriliza, como o álcool, mas na natureza ele emudece a vida e cala para
sempre as nascentes embaladas nas verdejantes matas que as rodeiam. E a água
escasseia, a terra fica torrada, a fonte já não rumoreja, os circunstantes
caminham quilômetros com lata d’água na cabeça, o gado emagrece, viventes bebem
lama para não sucumbir...
O
fogo, primo irmão da pólvora, se alastra quase na intensidade do raio e se
torna incontrolável! Agride o bioma, que ardido vai secando as árvores e muda a
paisagem. Tudo em volta que, conforme Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira “era só
beleza, sol de abril e a mata em flor” caminha para virar savana e, mais tarde,
deserto sem cor.
Sabe-se
que as queimadas, que metamorfoseiam os ecossistemas, afetam as florestas e
prejudicam o planeta influenciando negativamente, ainda mais, o aquecimento
global. É elementar, mas, repete-se, queimar conduz à seca (ausência de
umidade) macabra equação, pois envelhece os tecidos, limitando a vida,
tornando-a infecunda, não reprodutiva, infértil mesmo, aniquilando a essência
animal e vegetal, encurtando os passos que a humanidade poderia dar em direção
ao futuro promissor.
E o
pior é que a névoa que se forma como decorrência das queimadas, se escurece o
céu, tornando-o plúmbeo, prejudica a navegação aérea, por conta das lamentáveis
conseqüências e produz perdas de nutrientes nas camadas alvo dessa agressão,
que só serão reparadas, em parte, quando chuvas caírem e água for deslizada no
solo da pátria amada, mãe gentil das terras sul-americanas.
A
revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a PNAS, reproduz o
quanto é imprevidente o ato de queimar. A instituição aponta caminhos e há
estudos que nos ensinam a refletir contra o sempre temerário uso do fogo como
alternativa para se limpar pastos, preparo de plantios e desmatamentos.
Afinal,
“o fogo prejudica a fauna e a flora nativas, as queimadas causam empobrecimento
do solo e reduzem a penetração de água no subsolo, além de gerar poluição
atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação” (Eduardo
Carvalho Do G1, em São Paulo).
Finalmente,
vale a reflexão imposta na parte derradeira do nosso hino:
“Azul, nosso céu é sempre azul/que
Deus o mantenha sem rival,/ Cristalino muito puro/E o conserve sempre assim./Aqui toda vida se engalana
De belezas tropicais,/Nossos lagos, nossos rios/Nossas matas, tudo enfim”...
Isto
posto, de que adiantam os hinos oficiais elevarem templos a natureza, se ela,
pela ação destruidora do homem, está indo para o brejo...
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